Afinal, o que é o patrimônio Cultural - Santa Tereza Tem
Logo

Afinal, o que é o patrimônio Cultural

Afinal, o que é o Patrimônio Cultural – As renovações urbanas

*Ana Beatriz Mascarenhas

Mais um artigo da série sobre o patrimônio cultural, que visa esclarecer as diversas áreas que envolvem a preservação do patrimônio cultural . Esse especificamente fala sobre as ideias de renovação e modernização urbana, que tem como exemplo a cidade de Brasília.

Em 1961 foi lançado nos Estados Unidos o livro “Morte e Vida de Grandes Cidades” (The Death and Life of Great American Cities) da jornalista Jane Jacobs; no entanto, aqui no Brasil, o livro somente começou a ter repercussão na década de 1990.

Seu texto fala sobre as renovações urbanas em grandes cidades americanas, onde bairros eram substituídos por conjuntos habitacionais, tirando-lhes toda sua vitalidade. Em especial, a autora critica, sem meias palavras, o urbanismo modernista ortodoxo – citando, particularmente, o preconizado pelo arquiteto franco-suíço Le Corbusier.

Para quem não tem familiaridade com Le Corbusier, faço aqui um breve  parênteses: o arquiteto e urbanista é um dos grandes ícones do movimento modernista. Além de ser um dos fundadores do CIAM – Congrès Internationaux d’Architecture Moderne (Congresso Internacional de Arquitetura Moderna) nos anos 1920.

Le Corbusier influenciou diversos arquitetos e deixou uma marca na arquitetura que pode ser vista em inúmeras cidades do mundo. Em 2016, 17 obras de Le Corbusier localizadas em sete países foram incluídos na Lista do Patrimônio Mundial como “Contribuição notável para o movimento moderno.”

Ville Radieuse de Le Corbusier. Fonte: FONDATION LE CORBUSIER.

Como representante do movimento modernista, Le Corbusier defendia habitações mais saudáveis e funcionais; dessa forma, a iluminação e ventilação eram priorizadas. Sob essa perspectiva, as cidades também deveriam favorecer as diretrizes: morar, trabalhar, circular e cuidar do corpo e do espírito.

A sua proposta da “Ville Radieuse” ou “Cidade Radiante”, visava fornecer redes de comunicação eficientes, garantir áreas de vegetação em toda a cidade, aumentar o acesso ao sol e reduzir o tráfego urbano.  O Plano Piloto de Brasília, por exemplo, foi projetado por Lúcio Costa dentro dos parâmetros modernistas.

Brasília – super quadra – IPHAN

Por outro lado, a autora Jane Jacobs acreditava que esse modelo remove as pessoas das calçadas, comprometendo a vitalidade social e econômica das cidades. E afirma que o planejamento urbano deve priorizar o comércio local e a estrutura social de um determinado bairro; essa seria uma maneira de garantir a segurança e a vitalidade econômica.

No livro “Morte e Vida…” Jacobs discute como as renovações urbanas pós-Guerra retiravam os pobres dos centros das grandes cidades americanas e os recolocavam em conjuntos habitacionais desestruturando a organização social e econômica das comunidades. Ao evidenciar que milhões de americanos negros perdiam suas casas com o programa federal de reforma urbana na década de 1960, o escritor James Baldwin disse que “urban renewal meant negro removal” (renovação urbana significava remoção de negros).

De certa forma, Jacobs já discutia o que em 1964 seria abordado pela socióloga britânica Ruth Glass – a gentrificação, tema do nosso próximo artigo. Até lá!

*Ana Beatriz Mascarenhas é arquiteta e urbanista pós-graduada em Gestão Cultural pelo Senac de São Paulo. É mestre pelo programa de pós-graduação em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável da UFMG no qual é doutoranda. É idealizadora, coordenadora e curadora do Festival Cine Identidade & Memória desde 201

Matérias relacionadas

Afinal o que é o Patrimônio Histórico?
Convenção sobre a proteção do patrimônio mundial
História do Patrimônio Cultural Brasileiro
Paisagem Cultural Urbana
Patrimônio vivo
O patrimônio cultural e a participação popular

Anúncios