O Menino que queria ser poeta - Santa Tereza Tem
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O Menino que queria ser poeta

¨*Por Carlos Ferrer / Baiano

O sonho do Menino era ser poeta. Ainda jovem, ele desconfiou que jamais escreveria como Cecília Meireles. Quando Maiakovski decapitou as estrelas e ensanguentou o céu como um matadouro, e Fernando Pessoa justificou dizendo que “tudo vale a pena se a alma não é pequena”, o Menino desistiu de vez. Ele partiu para tentar tirar as pedras do caminho, mas na prosa.

Sinto muita saudade daquele Menino que, em seus rabiscos, tentava expressar a harmonia do balançar das árvores ao vento e o fechar das folhas para dormir. No entanto, querer ser poeta não basta; é preciso nascer poeta. É necessário lapidar o diamante bruto que é o talento natural, buscando o brilho, assim como os homens fazem com a vida.

Crédito da imagem: Carlos Ferrer

Em um planeta atolado em guerras, os poetas são mais necessários do que nunca. A falta de inspiração pode levar a humanidade à barbárie, como tantas vezes ocorreu em nossa triste história.

As letras da Música Popular Brasileira (MPB) são tão ricas em poesia que merecem um Nobel de Literatura, assim como Bob Dylan ganhou.

” Eu posso até morrer de fome, se você não me amar.”

“Alga marinha, vá na maresia buscar ali um cheiro de azul; essa cor não sai de mim.”

Esses versos exemplificam a simplicidade com que os poetas cantam suas canções: mendigando amor, sentindo cheiro nas cores e, no avesso do avesso, tocando o barco enquanto a tardinha cai.

“Vento, diga por favor, onde se escondeu o meu amor.”

Os poetas anônimos picham suas inspirações nos muros, trazendo ternura ao caos urbano.

Infelizmente, o Menino não teve o dom da poesia. Ah! Como teria sido mais suave o caminhar, a luta, pois só os poetas decifram o que a vida tem para nos dizer.

Belo Horizonte, 10 de fevereiro de 2023.

*Carlos Ferrer é designer, artista plástico,
cronista e amante da literatura.

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