Eliza Peixoto
A gente faz turismo na cidade dos outros, mas normalmente não faz na da gente, a não ser que tenha uma visita em casa que queira conhecer o local. Então, curiosa, resolvi fazer essa experiência de turistar pela primeira vez por BH . Além disso, queria saber mais sobre a jardineira de 1957, que de vez em quando roda aqui por Santa Tereza.
Bom, assim, em um sábado de sol, 11 de março, com um grupo animado de pessoas de Itaúna, Aracaju, Porto Alegre, Rio de Janeiro e de BH, embarquei na tal jardineira na Praça da Liberdade, não sem antes ouvir o músico Sérgio Olly, tocar Travessia (Milton e Fernando Brant), na Alameda Travessia.
Promovido pela Virginia Câmara, do Bar do Museu Clube da Esquina, na Praça da Liberdade, ela e o guia turístico, Virgilio Machado, começaram o passeio contando fatos do movimento do Clube da Esquina e da história da cidade. Algumas coisas eu já sabidas e outras, novidade.
Da Praça, o motorneiro, o simpático Diogenese Tininho, faz uma paradinha rápida no Clube do Minas, na Rua da Bahia, para o pessoal conhecer o local e a estátua do compositor Pacífico Mascarenhas, que teve importante papel no início da vida musical de Milton e Wagner Tiso.
De lá rumo ao Mercado Central, onde há muito tempo não ia. Pelo caminho, sem a pressa do dia-a-dia, pude observar as casas, os prédios luxuosos e as ruas da Cidade Jardim. No Mercado, a efervescência da manhã de sábado. Bares cheios, o cheiro do fígado com jiló, do bacalhau, da comida dos restaurantes, das bancas de tempero, acorda o estômago, que foi satisfeito com pastel de Belém, pastel de coco e empada de palmito, de uma lanchonete de comida portuguesa deliciosa, mas que não lembro o nome. Além de degustar licores e cachaça.
De lá, uma passadinha no famoso Edifício Levy, local do encontro entre Milton Nascimento e a Família Borges. Ali o menino Lô Borges ouviu voz e violão de Milton Nascimento nas escadas do edifício e rolou o primeiro encontro entre os dois, que determinou o destino de ambos, em 1963. No hall, há fotos interessantes, inclusive a da casa que deu lugar ao prédio.
Depois fomos para o Ed. Malleta, conhecer o espaço da Boate Berimbau, onde Milton, pela primeira vez tocou um contrabaixo e, ele, junto com Wagner Tiso tocavam jazz. E uma parada na Cantina do Lucas, bar de onde tenho boas lembranças, de quando estudante, que eu frequentava com os amigos da Faculdade de Comunicação, na época, Universidade Católica de Minas Gerais, hoje PUC. Foi muito bom relembrar do Seu Olímpio, o garçom comunista, que avisava o pessoal pra mudar a conversa, quando a polícia estava passando, na época da ditadura. E também onde foi a festa do meu casamento em 1977 com a turma da faculdade.
Do Malleta, rumo a Santa Tereza, o meu cantinho no mundo. Uma parada, para o pessoal tirar fotos, em frente à casa dos Borges, na Rua Divinópolis, e também na esquina do divino com o paraíso, cruzamento das Ruas Divinópolis e Paraisópolis, onde tem a placa em homenagem ao Clube da Esquina. E pra fechar, bater uma bela feijoada, no Bar do Museu Clube da Esquina.
Foi um sábado diferente, quando conheci pessoas fantásticas, vindas de outros lugares com a sede de saber, não só Belo Horizonte, mas a história da galera do Clube da Esquina. Por exemplo, a carioca Leda Ciprianao Queiroz, 72 anos, com uma camiseta alusiva aos 50 anos do Clube, dizia ter paixão pelas músicas e pelos músicos e queria ver de perto a esquina, que pra gente, é como se fosse uma esquina normal. A cada lugar visitado ela se emocionava um pouco mais. No vídeo abaixo ela conta o porquê de tal paixão.
Entre eles havia também o Seu Zezinho, de 95 anos, que foi motorneiro e queria matar a saudade, andando de jardineira. E ele, alegre e falante não perdeu nada do passeio, mesmo com dificuldade de locomoção, foi a todos os lugares. Só não provou cachaça, que ele diz que nunca bebeu.
Bom, foi muito legal essa história de turistar pela minha cidade. Vale a pena conhecer os lugares e a história da nossa capital, como um viajante, sem pressa e com olhos de turista, como se nunca tivesse vista antes esses lugares emblemáticos da Belo Horizonte.