Por *Ana Beatriz Mascarenhas e Eliza Peixoto
O MIS Cine Santa Tereza, tombado pela Diretoria de Municipal de Patrimônio Histórico e Cultural de BH, está na lembrança de muita gente da época de ouro do cinema e também daqueles que frequentavam o espaço, quando passou a ser casa de shows.
Mas poucos conhecem sua história e o que significa sua bela arquitetura. A arquiteta e colaboradora do Santa Tereza Tem, Ana Beatriz Mascarenhas fala sobre isso no texto abaixo.
O projeto arquitetônico do prédio do Cine Santa Tereza, hoje Museu da Imagem e do Som – MIS Cine Santa Tereza, é assinado pelo renomado arquiteto Rafaello Berti (1900-972).
Esse arquiteto foi responsável por mais de 500 projetos em Belo Horizonte, entre eles do prédio da Prefeitura, da Santa Casa, do Palácio Cristo-Rei, da sede social do Minas Tênis Clube e o Cine Metrópole.
Rafaello Berti, nasceu na cidade italiana de Pisa, diplomou-se na Accademia di Belle Arti di Carrara e desembarcou no Rio de Janeiro em 1922. A convite do amigo e sócio Luiz Signorelli, mudou-se para Belo Horizonte, aonde, além de projetar edificações, foi professor e um dos fundadores da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais. Por aí se vê que o italiano não era pouca coisa.
O estilo art déco é largamente utilizado em suas obras e o edifício do Cine Santa Tereza não é exceção. Construído entre os anos 1943 e 1944, o prédio caracteriza-se pelo geometrismo e simetria, apresentando frisos horizontais, verticais e uma saliência arredondada na parte superior.
Um detalhe bem semelhante pode ser notado na fachada frontal do prédio do Hospital Felício Rocho também projetado por Berti e construído entre 1937 e 1942.
Já a fachada frontal, no que concerne a composição dos elementos, possui similaridade com o Teatro Municipal Manuel Franzen de Lima, localizado na cidade de Nova Lima. Projetado em 1939 e inaugurado em 1943, o edifício apresenta aspectos bem distintos do estilo art déco.
O estilo surgiu na França nos anos 1920, no mesmo período em que houve o lançamento dos filmes mudos para os filmes com falas e canto sincronizados. Dessa maneira, não é mera coincidência que grande parte das construções, que abrigavam os cinemas foram projetadas dentro do Art Déco, utilizando formas geométricas ou estilizadas em oposição às formas orgânicas que caracterizavam o estilo Art Nouveau.
Além da arquitetura, o estilo também foi inspiração para as diversas artes como design, moda e até mesmo escultura – o Cristo Redentor, por exemplo, é a maior estátua Art Déco do mundo.
O Cine Santa Tereza foi construído pela Cinemas e Teatros de Minas Gerais, que pertencia ao empresário Antônio Luciano, proprietário da maioria das casas de cinema da cidade. A inauguração foi em um domingo, dia 20 de maio de 1944, com a exibição do filme O Conde de Monte Cristo, dirigido por Rowland V. Lee e no elenco contava Robert Donat, Elissa Landi, Louis Calhern.
Segundo pesquisa do historiador Luis Góes, o público lotou o cinema e o preço do ingresso foi de CR$2.20.
No dia 12 de fevereiro de 1980, o Cine Santa Tereza fechou as portas, assim como todos os cinemas de rua de Belo Horizonte. Depois disso, o espaço foi usado como casa de shows e eventos, mudando de nome várias vezes: “Santa Tereza Cine Show”, “Casablanca”, “Fábrika de Macarrão” e a “Trash”, que parou de funcionar no final da década de 90.
Por reivindicação e pressão de um grupo de moradores, a prefeitura adquiriu o imóvel, que ficou fechado por uns 20 anos, só reabrindo, algumas vezes, para a realização anual da Mostra Cine BH.
Em 26 de abril de 2016, finalmente, depois de longa espera e muita batalha, o cinema, rebatizado de Museu da Imagem e do Som – MIS Cine Santa Tereza, sob administração da Fundação Municipal de Cultura, foi reaberto ao público.
Atualmente, devido à pandemia está com suas atividades suspensas, mas em tempos normais, há sessão de cinema de terça a domingo, conta também com uma biblioteca aberta ao público e um espaço multiuso. Também é utilizado pela comunidade para lançamento de livros e realização de reuniões.
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*Ana Beatriz Mascarenhas é arquiteta urbanista e colaboradora voluntária do Santa Tereza Tem. Graduada em Arquitetura e Urbanismo pelo Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix (1994).
Cursou pela plataforma Coursera: Design – Creation of Artifacts in Society pela Universidade da Pennsylvania (2013) e Roman Architecture pela Universidade de Yale (2014). Mestre em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável pela UFMG (2017). Idealizadora, coordenadora e curadora do Festival Cine Memória – Patrimônio, Identidade e Sustentabilidade desde 2014. Atualmente é pesquisadora do projeto A reconstrução de Bento Rodrigues/MG: as tipologias e a memória do lugar?, desenvolvido no Laboratório da Paisagem na Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais e doutoranda no programa de pós-graduação em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável. Atualmente cursando doutorado sanduíche na UMass em Amherst, EUA. ORCID 0000-0001-6557-365X