Artigo: Homenagem a meu pai - Santa Tereza Tem
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Artigo: Homenagem a meu pai

Larissa Peixoto

Até há pouco tempo eu não sabia que meu pai era diferente. Achava que todos os pais eram iguais ao meu. Durante os anos, fui vendo que sou privilegiada. Uma conversa com um professor me fez notar isso. Ele me perguntou o que eu diria ser a diferença entre patriarcado e matriarcado. No estrito senso, bem antropológico, seriam as sociedades lideradas por mulheres e que a linhagem era definida pelo sangue da mãe e não do pai.

Na sociedade urbana, esse conceito não se aplica. Então expliquei sobre o pensamento feminista em relação ao papel do pai na vida da criança. Falei sobre igualdade e divisão de tarefas. Depois de tudo muito detalhado, usando exemplos da minha vida, o professor falou “Ué, mas eu sou assim!”. Ao qual eu respondi: “Então você é feminista e nem sabia”.

Foi assim que eu atinei de que nem todos os pais são iguais ao meu. Que existem pais como o meu e como meu professor, mas nem todos são assim. Quais os detalhes que exemplifiquei? Meu pai nunca perdeu uma consulta médica. Na verdade, há dois anos, tive que fazer uma pequena cirurgia. Ele insistiu em conhecer o médico. Em todos os meus recitais de balé/sapateado/teatro/apresentação de escola, ele não somente ia, mas nunca deixava de levar um buquê de flores. Também ia às minhas reuniões de escola, quando o coordenador queria conversar sobre meu ótimo desempenho em história comparado ao meu péssimo desempenho em matemática e física.

Meu pai nunca me negou um livro, uma peça de teatro, um cinema. Pelo contrário, fazia questão de me levar e, às vezes, levar minhas amigas. As mais próximas conseguiram (e conseguem) ser “adotadas” por ele. Estamos sempre discutindo política, religião, língua portuguesa.

Agora, mesmo adulta, ele continua um paizão. Continua oferecendo para comprar livros para mim e para minha irmã. Preocupa-se com nosso bem-estar o tempo todo, muito além do “casa, comida e roupa lavada”. Hoje, eu tenho a habilidade de reconhecer todo o esforço que meu pai faz por nós e posso tentar agradecê-lo por isso.

Além de homenagem ao meu pai e a outros pais que conheço e são como ele, essa homenagem é para dizer aos homens que vocês têm o potencial de serem ótimos pais. Que essa tarefa não é só feminina, que influencia e faz toda a diferença. Lutem pela licença-paternidade, nunca percam um momento na vida de seus filhos e filhas. Não reneguem o papel que vocês têm a cumprir.

Para quem não tem a sorte que eu tenho, meu pai está aberto para adoções simbólicas. Obrigada, pai. Sem você, talvez nem feminista eu seria.

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