Texto: Marco Antonio Vale
Pois é. Era assim. Há algumas dezenas de anos, quando sobrava um tempinho prá mamãe, lá pelas seis ou sete horas da noite, ela pegava algum livro do Monteiro Lobato, e falava/provocava: quem quer escutar uma história do Sítio do Picapau Amarelo? – Quem estivesse mais perto divulgava a notícia para os irmãos: “oi gente, vem cá todo mundo! Mamãe vai contar história!”
Por alguns minutos, era uma zorra total – nada a ver com o programa da televisão (que nem existia, nem o programa, nem a televisão…) e, minutos depois, silêncio total. A meninada sentadinha, ouvidos direcionados e mamãe dizia: “Pois é. A Narizinho estava no Reino das Águas Claras e…”
As imaginações voavam. Cada um pensava de um jeito. Como ela respirava debaixo d’água? – Como ela falava com os peixes? – Os cabelos despenteavam? – As roupas molhavam?…
E hoje? Quando somos nós a contar histórias…
Pois é. Hoje, quando deveríamos contar histórias, existem a televisão, os canais da internet, os filmes, os quadrinhos, os games… Concorrência quase invencível, né mesmo? –
Que nada! Existem também os contadores e contadoras de histórias, dezenas, centenas… Quem sabe milhares e milhões?“
Aqui, em Beagá, temos, por exemplo, a Gislayne Matos (desde a década de 90); a Virgínia Cândido; a Rosana Montalverne; o Coletivo de Narradores, com 12 contadores; a Beatriz Mirra; o Pierre André, Paulo Fernandes, a Bárbara Amaral, entre outros.
Quem nos conta tudo isso é a Aline Cântia que mora – sabem onde? – aqui, em Santa Tereza. E hoje está onde? – Na Espanha, CONTANDO HISTÓRIAS…
Alcançamos Aline pela internet, para nos falar sobre o DIA DOS CONTADORES E CONTADORAS DE HISTÓRIAS, que é no dia 20 de Março e desde 1991 é dedicado aos contador@s de histórias, em todo o mundo. A ideia da homenagem surgiu na Suécia e, claro, se espalhou pelo mundo.
Aline diz ainda que tem carregado como bandeira a valorização do professor contador de histórias. Ela observa que “a atividade ainda é vista como arte menor. Em editais e contratações é desvalorizado, inclusive financeiramente. O narrador de histórias, que faz dessa arte seu ofício, tem de ser visto como o artista que ele é. O artista que prepara, pesquisa, ensaia e produz e precisa ser valorizado como tal.
Instituto Abrapalavra
Nossa vizinha Aline Cântia (ela é internacional, mas é NOSSA vizinha, aqui de Santa Tereza…) fundou, juntamente com o Chicó do Céu, o Instituto ABRAPALAVRA que tem, como proposta, realizar projetos culturais com foco na narração oral, na literatura escrita, na criação artística e na pesquisa.
Trabalham também com criação artística de espetáculos lítero-musicais; pesquisa e produção de registros em áudio e audiovisual; formação de Contadores de Histórias e Mediadores de Leitura; produção cultural com realização da Mostra CANDEIA – um encontro internacional de Narração Artística; e com apresentações e formações voltadas especialmente para empresas com a metodologia dos contadores de histórias.
Pois é! Ao fim e ao cabo, viva o Dia 20 de Março,
DIA INTERNACIONAL DOS CONTADOR@S DE HISTÓRIAS!
