A indicação para tombamento do imóvel da Fábrica de Pregos São Lucas, localizada à Rua Conselheiro Rocha, 1600, em Santa Tereza, foi retirada da pauta da reunião do Conselho Deliberativo de Patrimônio do Município de Belo Horizonte, realizada nesta quarta-feira (25/10), na Diretoria de Patrimônio. A suspensão foi feita a pedido de um representante dos proprietários do imóvel e tem efeito somente para essa sessão deliberativa. De acordo com Priscila Alves Ferreira Schettini, responsável pela secretaria do Conselho, o tema que não foi votado na reunião do dia 4 de outubro por falta de quórum mínimo (8 conselheiros), deverá ser pautado novamente em novembro.
Segundo a secretária, a solicitação do proprietário foi justificada pela falta de um de seus parentes e sócios da Fábrica, que está fora do país. “A pauta é fechada pela Diretoria de Patrimônio e o presidente do Conselho (secretário de Cultura, Juca Ferreira) conforme a ordem de entrada dos pedidos e a urgência de proteção. Neste caso, os argumentos foram acatados para suspensão temporária por considerarem que não prejudicaria nenhuma das partes e o objeto poderia ser avaliado em outra ocasião”, explica.
As reuniões do Conselho são marcadas uma vez por mês, mas neste ano o calendário está atípico porque, devido às mudanças na estrutura da Prefeitura, só começaram a ser realizadas em junho. Portanto, as datas previstas para as próximas reuniões do Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural de Belo Horizonte são dias 8 e 29 de novembro. “Provavelmente este tema entrará em pauta no dia 29 de novembro, já que o conselheiro Arnaldo Godoy apresentou pedido para que seja nesta data, porque na do dia 8 ele não poderá estar presente e faz questão de participar”, conta Priscila.
O Santa Tereza Tem fez contato com Lucas Junior, representante dos proprietários e neto do Sr. Eurico Gonzaga, o fundador da Fábrica São Lucas. Ele disse que não está a par do processo e neste momento prefere não dar informações.
A Fábrica de Pregos São Lucas, em funcionamento há mais de 50 anos em Santa Tereza, atualmente é a única do ramo ativa em Belo Horizonte e está instalada em uma edificação industrial típica dos anos de 1930, de estilo art decó, construída às margens da linha do trem nesta época.
O imóvel é semelhante a outros importantes bens preservados na capital mineira, como a Serraria Souza Pinto e o Cento e Quatro. Mas, diferentemente destes dois, que estão protegidos por tombamento como parte do Conjunto Arquitetônico e Urbanístico da Praça da Estação, o imóvel industrial localizado à Rua Conselheiro Rocha foi excluído do perímetro do Conjunto Urbano do bairro Santa Tereza, protegido pelo Patrimônio Cultural de Belo Horizonte desde março de 2015.
Inconformados com a exclusão, a Associação Comunitária do Bairro Santa Tereza (ACBST) e o Movimento Salve Santa Tereza protocolaram dois pedidos na Diretoria de Patrimônio, solicitando a abertura de processo para tombamento da edificação.
João Bosco Alves Queiroz, presidente da ACBST, conta que a associação estava preparada para acompanhar a reunião do Conselho nesta quarta e que continuará tratando essa questão como prioridade. “A diretoria está empenhada em lutar pela preservação deste bem e a cada vez que a votação é adiada vamos conseguindo mobilizar mais pessoas. Queremos garantir, além da preservação do patrimônio, a permanência da Vila Dias, porque se a Fábrica não for tombada poderá demolida e ter o terreno vendido à Construtora PHV, que pretende erguer três torres comerciais na Rua Conselheiro Rocha. Isso vai acabar com a Vila Dias, que é muito importante para o bairro. A Vila é parte de Santa Tereza e os moradores não podem ser prejudicados ou expulsos dali”, defende João Bosco.
O Movimento Salve Santa Tereza, em sua página no Facebook, declarou: “O tema foi suspenso pela segunda vez neste mês, mas foi solicitado pela comunidade e terá de ser votado. Sabemos muito bem quais são os interesses por trás dos motivos de não proteger essa edificação, que tem grande valor histórico e cultural, e faz parte do maior conjunto urbano protegido pelo Patrimônio Cultural da cidade, o bairro Santa Tereza. Continuaremos mobilizadxs e atentxs à essa questão. Exigimos o tombamento da edificação da Fábrica de Pregos, que é patrimônio de Santa Tereza! Salve Santa Tereza! Salve o patrimônio de BH!”