No último domingo, 6/11, o Mercado Vivo + Verde convocou a comunidade para um Mutirão na área externa do Mercado de Santa Tereza. A ação contou com 84 pessoas, entre adultos, jovens e crianças. Entre 9h e 16h, o mutirão realizou manutenção da horta agroflorestal comunitária com sistema de irrigação por gotejamento (implantada em um dos canteiros durante o evento Mercado Vivo + Verde em agosto), fez limpeza, piquenique e roda de conversa.
O Mercado Vivo + Verde é um projeto que engloba feira de produtos agroecológicos e de artesanato, atividades artístico-culturais, formativas e de lazer, e serviços de apoio à comunidade. No domingo, o foco foi o eixo alimentar. “Foi muito bom ver o envolvimento das pessoas no manejo, plantio e cuidado da horta. Sem a gente ter planejado, elas começaram a ampliar a extensão de cultivo e alcançar outros canteiros, se preocupando em deixar toda a área na qual tivemos acesso limpa e bonita. Isso mostra um ganho de autonomia e de apropriação do espaço”, avalia Fernando Rangel, da AMAU – Articulação Metropolitana de Agricultura Urbana, e integrante do movimento Mercado Vivo + Verde.
“Gostei muito da iniciativa. Minha família toda participou, porque amamos Santa Tereza e queremos o mercado de volta”, declara Célia Fiuza, moradora do bairro Santa Efigênia, que foi ao mutirão junto com o marido, a filha de dois anos de idade e os sogros, e todos botaram a mão na massa.
“Dessa vez plantamos sementes de quiabo, milho criolo, crotalária (indicada para recuperar o solo), mudas de espada de são jorge (que purificam o ar), boldo, aloe vera, abacate, laranja, manjericão. É um modelo de policultura, capaz de abrigar diversas espécies consorciadas em um mesmo sistema. Para mantê-la é imprescindível repetir o mutirão periodicamente. A manutenção deve ocorrer pelo menos uma vez por mês, para garantir o bom desenvolvimento e sobrevida de alimentos 100% naturais e sem agrotóxicos”, explica Gilberto Ferraz, morador do bairro e também integrante.
O movimento também pretende compartilhar com a comunidade o fruto do trabalho. “Em pouco tempo poderemos fazer as primeiras colheitas. Entre dezembro e janeiro, por exemplo, o milho da primeira safra que cultivamos estará ideal para colher”, planeja Fernando.
Na roda de conversa, os participantes expuseram demandas e expectativas para a utilização do equipamento, não só a área externa, mas principalmente o galpão, que já abrigou feiras e um Banco de Alimentos. “O Mercado de Santa Tereza tem as melhores condições, como estrutura e localização, para se tornar um potente centro de distribuição de alimentos orgânicos de Belo Horizonte. Um espaço como este pode potencializar o desenvolvimento, a comercialização e o consumo de produtos de qualidade e beneficiar todos os agricultores do município”, estima Júlio Bernardes, da CSA – Comunidade que Sustenta a Agricultura. A instituição conecta diretamente agricultores e consumidores de alimentos livres de agrotóxicos por meio da distribuição semanal de cestas de produtos cultivados por agricultores familiares em Ravena e Santa Luzia. Atualmente, possui na capital 205 consumidores e dois pontos de distribuição, com tendência de crescimento. “Vejo Santa Tereza como o melhor ponto para este projeto, pois é um bairro com tradição e engajamento nas questões social e alimentar, e faz enfrentamento à expansão urbana desordenada e à especulação imobiliária”, avalia.
Mesmo desativado há quase uma década, o Mercado Distrital de Santa Tereza mantém grande valor simbólico e afetivo para a população do bairro. Foi aberto em 1970 e por quase 40 anos serviu como centro de abastecimento alimentar da região, além de ser um importante espaço de convívio e lazer para todas as idades. Os moradores sonham com a reabertura do espaço e rejeitam projetos que contrariam a vocação alimentar. Exemplos disso foram os impedimentos, por meio de mobilização social, da transformação do Mercado em sede da guarda municipal, em 2007, e da implantação de uma escola industrial automotiva, negociada entre a Prefeitura de BH e a Fiemg (Federação das Indústrias de Minas Gerais), em 2013, entre outros.
A defesa do local como espaço público motivou o renascimento do Movimento Salve Santa Tereza, que na década de 1990 foi criado para reivindicar a inclusão de Santa Tereza na ADE – Lei de Diretrizes Especiais de ocupação da cidade, e proteger o bairro da verticalização. O movimento ressurgiu em 2013 e hoje conta com aliados na luta pela reabertura do Mercado de Santa Tereza.
Além da parceria firmada com a Associação Comunitária do Bairro (ACBST) e a Feira de Artesanato de Santa Tereza, a partir deste ano o movimento se uniu aos organizadores da Feira Terra Viva, realizada aos sábados no espaço Suricato, bairro Floresta, e agregou dezenas de grupos ligados à agroecologia e agricultura urbana à bandeira de reabrir o Mercado, que atualmente está sob a gestão da Fundação Municipal de Cultura.
Foi formada a rede Mercado Vivo + Verde, que se reúne semanalmente em assembleias públicas na Praça Duque de Caxias (2ª feira, 19:30), possui representantes na Comissão paritária que discute oficialmente a ocupação do Mercado com o poder público, e vem realizando eventos e ações, com o objetivo de conquistar uma ocupação comunitária permanente no espaço.