“E você vai????”, perguntaram-me, espantados, alguns companheiros de papo de fim de tarde no bar da esquina, quando lhes disse que precisava sair porque tinha reunião de condomínio no meu prédio.
Algo que deveria ser um compromisso corriqueiro de qualquer cidadão interessado em participar da vida do seu prédio, para não falar do bairro, da cidade e do país, como em qualquer lugar civilizado, está virando uma raridade no Brasil.
Mais fácil é bater panelas na varanda, passear de camiseta da seleção na avenida Paulista ou xingar o governo nas redes sociais. Já nem falo de participar de reuniões nos sindicatos, nas associações de bairro, nas igrejas, nas escolas dos filhos ou nas dezenas de entidades dedicadas ao trabalho voluntário, às discussões sobre orçamento participativo ou debates promovidos em faculdades para aproximar os alunos do mercado profissional.
Anos atrás, participei de um movimento de voluntários chamado “Faça Parte”, embrião de outro muito maior, que ganhou caráter nacional, o “Todos pela Educação”, que reúne governos, empresas e representantes da sociedade civil.
Pois fazer parte, para mim, é princípio básico do exercício da cidadania, que comporta direitos, deveres e compromissos. Na vida real, não é bem assim. Só um terço dos condôminos do meu prédio estavam presentes quando foi feita a segunda chamada. Pelo estatuto, exige-se maioria de metade mais um para aprovar medidas como reformas ou a compra de equipamentos, cujas despesas devem ser rateadas por todos. E ainda queriam acabar com a obrigatoriedade do voto na reforma política.
Como de costume, a maioria tinha coisas mais importantes ou divertidas, certamente, para fazer no mesmo horário. Também acho que participar de reunião de condomínio não chega a ser um dos compromissos mais emocionantes das nossas rotinas, assim como não invejo a função de síndico. Mas se ninguém quiser cuidar do prédio onde moramos, quando houver algum problema, faltar água ou luz, e o barulho do apartamento do vizinho se tornar insuportável, vamos reclamar para quem?
De tanto delegar responsabilidades a terceiros ou aos governos, perdemos o direito de exigir dos outros o cumprimento de obrigações comuns ao bem estar da sociedade. Depois, não adianta xingar o síndico ou o prefeito. Sou de um tempo antigo em que todos nós éramos responsáveis pela vida em comum. Pelo menos, fui criado assim. Era melhor e mais simples viver em comunidades onde todos diziam bom dia, boa tarde, por favor, obrigado, com licença, me desculpe.
Doutores e porteiros, madames e faxineiras, jardineiros e presidentes deveríamos ser todos parceiros na grande aventura humana desta nossa passagem por este mundo. Ninguém é mais importante, nem menos responsável. Se ódio, intolerância e ofensas resolvessem, já teríamos chegado ao paraíso.
Vida que segue.
Texto do jornalista Ricardo Kostcho publicado em seu blog Balaio do Kostcho