Muita gente conhece Acir Antão do projeto “Minas ao Luar” e também da Rádio Itatiaia. Seresteiro e pesquisador da MPB, há décadas ele apresenta dois programas nas manhãs de domingo: “Programa Acir Antão” e “A Hora do Coroa”. Campeão de audiência, ele segue a tradicional fórmula do bate-papo com ouvintes e convidados, tendo como ponto alto a boa seleção musical. Acir dá destaque aos clássicos do samba e do choro, sempre valorizando artistas da velha-guarda e também os novos valores.
O que muitos talvez não saibam é que o craque das ondas médias e curtas é também um cantor à moda antiga. Não no sentido de ultrapassado, mas no que diz respeito ao vozeirão com origem no Bel-canto. Sua influência vem dos intérpretes da Rádio Nacional, entre eles Francisco Alves, Orlando Silva, Nelson Gonçalves e por aí vai. Com o revolucionário advento da Bossa Nova, instituiu-se um novo modo de cantar na música brasileira, mas isso não invalidou a maneira clássica que remonta aos tempos da gravação mecânica.
Outra coisa que chama atenção no canto do Acir é o repertório, quase todo ele moldado por canções de sucesso que marcaram época, verdadeiros clássicos do cancioneiro nacional. Quem ajudou a lotar o Cine Teatro Brasil Vallourek na noite de quarta-feira (29 de outubro), teve a oportunidade de se deleitar com o admirável repertório de Lupicínio Rodrigues, o “rei da dor de cotovelo”.
Clássicos de Lupi
A obra de Lupi, como também se tornou conhecido o compositor gaúcho, atravessou décadas. Seu sucesso no cenário musical foi antevisto pelo “poeta da Vila”, Noel Rosa, quando de sua passagem por Porto Alegre. Entre os clássicos gravados por cantores como Chico Alves, Ciro Monteiro, Elza Soares, Paulinho da Viola, Caetano Veloso e Elis Regina destacam-se “Nervos de aço”, “Felicidade”, “Maria Rosa”, “Se acaso você chegasse”, “Volta” e “Vingança”.
A elegante performance de Acir Antão não deve nada aos grandes nomes da MPB. Apenas acrescenta a simpatia da boa prosa que sempre caracterizou seu trabalho de radialista. Dessa vez ele contou casos sobre o compositor, convidou a plateia a cantar consigo e, no final, chamou a turma para tomar um chope no barzinho montado em pleno palco pelo restaurante Tip-Top.
O time de músicos foi de prima: a turma do Sarau Brasileiro, com Geraldinho Alvarenga (violão de seis cordas), Magela (violão de sete), Cícero (acordeom), Hélio Pereira (bandolim), Robson (cavaquinho), Fred (Pandeiro e voz) e o “presidente” Assis (percussão). Também se destacaram como convidados Antônio Bahiense e Dona Jandira, com seu canto jazzístico surpreendente.
Pena que a mídia local dê pouco destaque a esse tipo de evento, que visa, sobretudo, a valorização da cultura nacional. O fato de se tratar de um nome da imprensa talvez leve os coleguinhas a reagirem com reserva, levando além da conta o mote de que “jornalista não é notícia”. Em outras palavras, santo de casa não faz milagre. Com um disco gravado (“O Estado da Música”, produção do compositor Gervásio Horta), Acir é uma honrosa exceção. Ele faz o milagre de manter acesa a chama da nossa melhor tradição musical.
Escrito pelo jornalista Jorge Fernando dos Santos