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Artigo Toninho Horta e o Jazz

Toninho Horta e o Jazz – a música e o agir artístico em harmonia

por João Marcos Veiga*

Em 2012, o pianista norte-americano Herbie Hancock anunciava a criação do Dia Internacional do Jazz, justificando para tal o caráter de “voz da liberdade” associado o gênero, que teria “uma grande força ao unir pessoas de vários países e culturas diferentes”. A data, 30 de abril, foi lembrada em Belo Horizonte neste 2018 fazendo jus a tal aspecto, que se define sobretudo na figura do anfitrião em terras mineiras: Toninho Horta.

Mesa de debate, a partir da esquerda: Ana Cláudia Horta, André Limão, Leandro do Carmo, Malluh Praxedes, Toninho Horta, Enéas Xavier.

O evento, na área aberta do Bar do Museu do Clube da Esquina, teve início dividindo protagonismo com a imensa lua cheia que nascia por detrás da serra. “Dia mania, tarde covarde, noite, açoite […] eu só quero pensar que um dia você possa ser minha pedra da lua”. Após o açoite lunar, ocorreu um bate-papo entre o guitarrista, a jornalista Malluh Praxudes, a produtora Ana Cláudia Horta e os músicos Enéas Xavier, André Limão e Leandro do Carmo, explicando a iniciativa  promovida pelo instituto João Horta – avô de Toninho.

De forma geral, as falas tiveram uma mesma tônica: a importância do reconhecimento da história por detrás de todo e qualquer contexto musical, a exemplo do Prêmio BDMG Instrumental, criado em terreno descrente em inícios dos anos 2000 por Praxedes. Por sua vez, o baterista André Limão narrou como ainda aos 15 anos, músicos já inseridos na área, como Beto Lopes e Celso Moreira, tiveram papel decisivo para encorajá-lo a seguir carreira. “A gente tem sempre que se perguntar quem veio antes de Toninho Horta, do (Esdra) Neném que possibilitou isso no qual eles se transformaram”, argumentou o instrumentista.

Já o baixista e professor Enéas Xavier usou uma palavra para definir o anfitrião da noite: generosidade. Desfeita a mesa, o quarteto musical abriu os trabalhos demonstrando isso na prática no Dia Internacional do Jazz.

 O reconhecimento e devoção de grandes nomes do gênero à obra de Toninho Horta é declarada, a exemplo de Pat Metheny e John Pizzarelli, pra citar apenas dois deles – em show recente na capital mineira, o guitarrista se emocionou ao falar de sua satisfação de tocar na cidade de Toninho.

À história social da música ainda cabe narrar melhor o papel do guitarrista do Clube da Esquina na orquestração da cena artística e incentivo a novos instrumentistas mineiros de forma incessante nas últimas décadas. No entanto, a força musical de Horta também mereceria estudos mais amplos, talvez do próprio campo da Física, para decifrar sua capacidade magnética de estímulo à linguagem musical nas mais diferentes gerações e estilos, de efervescência no palco, de improviso e passeio livre para cancioneiro internacional – algo que é a própria gênese do jazz, e que se você insistir muito em saber do que se trata de forma pragmática, provavelmente nunca vai saber, como ensinou Louis Armstrong. Jazz é sentir.

Magno Alexandre (violão), Leandro do Carmo (violão), Enéas Xavier (baixo) e André Limão (bateria)

De temas do cancioneiro americano, como “Autumn Leaves”, a “Cravo e Canela”, “Chega de Saudade” e “Beijo Partido”, a noite memorável demonstrou como pensamento musical de jazz não tem barreiras. Para os presentes, tal aula se deu através da comunhão musical criada por Toninho desde os anos 1960 e que se materializou ali na figura de músicos como Celso Moreira, Ezequiel Lima, Magno Alexandre, Caxi Rajão, Fernando Sodré, Alieksey Vianna e outros.
Se a noite teve como “cozinha” o baixo de Enéas Xavier e a bateria de André Limão, hoje já reconhecidos mundialmente, a noite de 30 de abril evidenciou como dessa panelinha sempre saem novos sabores musicais para o deleite dos ouvintes, como jovens bateristas e guitarristas na casa dos 18 e 20 anos, tocando com grande domínio e confiança graças às portas sempre abertas por Toninho – a tradução em pessoa não só do tocar, mas igualmente do pensar e agir jazzisticamente em terras mineiras.

*Jornalista e morador de Santa Tereza
Fotos: Eliza Peixoto

Ouça um pouco do que foi essa noite de jazz

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