Santa Tereza é assim: sempre nos surpreendendo. Quando pensamos que já vimos de tudo pelo bairro, com todo seu charme, tradição e espírito boêmio, eis que somos pegos de surpresa mais uma vez pela criatividade de seus moradores. Dessa vez estamos falando da moradora Rúbia Brasil.
Sem pretender ingressar em um novo negócio após sua aposentadoria, Rúbia viu em sua criatividade um meio de empreender, quando, antes mesmo de se aposentar, começou a confeccionar blusas para si própria, apresentando o empoderamento da mulher negra ao assumir sua identidade através dos cabelos.
Dona Lica e Rúbia em seu atelê Foto: Letícia Assis
Com ajuda de sua mãe, dona Júlia – mais conhecida como “Lica”, Rúbia mantém em sua casa um ateliê de confecções de blusas que estampam a cultura afro, frisando o cabelo das mulheres negras e suas curvas. Segundo Brasil, essa escolha de realçar os cabelos das bonecas na camiseta tem a ver com a transição de seu próprio cabelo. “Antes sempre alisava o meu cabelo. Depois parei radicalmente e decidi assumi-lo”, conta a moradora de Santa Tereza.
A iniciativa fez tanto sucesso entre os amigos e colegas, que dali surgiu a ideia de confeccionar suas blusas para fora, criando a marca “Rubilita – camisetas bordadas”. Primeiro começou pelas encomendas, depois, participando de feiras de artesanato, e que hoje ela não perde uma. “Participo de várias feiras, inclusive com o foco nesse público, como a FAN (Festival de Arte Negra), Feira Ébano, Feira Melanina, que acontece em Contagem, Tambor Mineiro, e muitas outras”, conta Rúbia, destacando que sempre recebe vários elogios a respeito de suas confecções.
Através de paetês, fuxico e retalhos, Rúbia esbanja criatividade em suas estampas, sempre exteriorizando a identidade negra. Ao mesmo tempo, Rúbia assume um papel importante de representatividade na sociedade, ao fortalecer a cultura da mulher negra através de seus cabelos naturais, enfrentando todo racismo que impõe um padrão branco a ser seguido.
Mesmo com o discurso batido, de que cabelo liso é bonito, várias mulheres são induzidas a camuflar suas raízes quando, de fato, deveriam deixa-las crescer. Rúbia vai justamente contra essa falsa estética, criando sua própria moda que exalta as características da mulher negra, mostrando através do seu trabalho que essas mulheres também possuem sua própria beleza, que é única e indiscutível.
Camisas estampando a artista mexicana Frida Khalo.
Além de estampar no peito a cultura da mulher negra, Rúbia também confecciona estampas com a figura da renomada artista mexicana Frida Khalo, ícone para as mulheres no empoderamento feminino, por ser uma mulher exótica e excêntrica, fugindo dos “moldes” de sua época, quebrando tabus e não se importando com padrões de estética.
O mais legal disso tudo para a Rúbia é ver a clientela satisfeita. “Quando vejo as pessoas usando as camisas que faço, eu acho um máximo! Sinto a satisfação delas de longe. Sempre ouço elogios de que é um trabalho diferente, primoroso, e isso me da um reconhecimento muito bacana!”, conta Brasil.
Rúbia em Santa Tereza
Moradora de Santa Tereza há cerca de 50 anos, nas horas vagas Rúbia aproveita o que tem de melhor no bairro, que para ela são os bares e a música. Frequentadora assídua do Bar do Orlando, Rúbia ver o local com um lugar de encontro de pessoas. Ela conta que “um dia alguém faz um churrasco, no outro faz um caldo, usamos a praça como um espaço comum mesmo. Não é o bar em si, apesar dele ser ótimo, o negócio é a praça. A praça agrega pessoas e é muito bacana!”.
Rúbia também faz parte do Bloco dos Pescadores que, segundo ela, nasceu no Bar do Orlando, através de uma turma de amigos que frequentavam o bar e gostava de reunir para fazer tocar seus instrumentos. Ela explica que “a partir dali o bloco foi tomando uma forma. Não que seja profissional, mas é um bloco bem alegre e descolado”.
Rubilita camisas bordadas
Quem gostou do trabalho feito pela Rúbia e de sua história, pode conhecer mais através do www.facebook.com/rubilitacamisetasbordadas e do telefone 99161-2596.
