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Santa Tereza Tem Memória: Virgílio e Edite

Santa Tereza Tem Memória: centenário de seu Virgílio

Apesar da comemoração do centenário de seu Virgílio, da Casa Paraibana, ter sido no dia 9, no Oásis Clube,  a data do aniversário é hoje, dia 12.

Republicamos abaixo, a reportagem feita com ele, em outubro de 2014, quando ele acabara de completar 96 anos e estava à espera de chegar aos 100.  Confira abaixo a história de Virgílio de Abreu Martins Filho, que continua um sinuqueiro de marca maior, com direito a receber homenagem da turma da sinuca. Segundo o pessoal, ele continua imbatível.

Virgílio e Edite um caso de amor na vida e no trabalho

Penso que seja raro encontrar alguém, que vive há mais tempo em Santa Tereza, que nunca tenha comprado algo na Casa Paraibana ou trocado um dedo de prosa com o casal Virgílio e Edite, os fundadores. A Casa Paraibana ficava à Rua Mármore, esquina com Ângelo Rabelo, onde funcionou por 63 anos, de 1948 a 2009.

Quem conta a história é seu Virgílio de Abreu Martins Filho, que aos 96 anos esbanja saúde e é assíduo frequentador dos clubes Oásis e Art, onde joga baralho e sinuca com os amigos.  E às vezes dá uma “fugidinha”, de ônibus, ao Shopping Oi, no Centro, como revela sua filha Norma.

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 “Vim da cidade de Jequeri, Minas, para a Capital em 1941, com um conto de reis no bolso. O primeiro emprego foi de ascensorista, no Hotel Sul Americano, na Avenida Amazonas com Caeté, cujo prédio existe ainda. Logo virei gerente. De lá fui trabalhar em um comércio, na Floresta, chamado “A Sua Casa”, de um árabe, que a gente chamava de turco.  Depois fui para outra loja no centro, na Rua Rio de Janeiro com Tupinambás, em 1942. Andava elegante de terno, gravata, chapéu e bigode, como todo mundo naquela época”. Por sinal ele cultiva o bigode com orgulho até hoje.

Nessa época sua vida não era fácil. Ele morava em uma pensão no bairro Renascença, trabalhava o dia inteiro, no fim do expediente ia para casa jantar e depois voltava para as aulas no curso de contador, na Academia do Comércio, também no centro. “Era uma correria”, conta ele.

Daí foi morar no Hotel São Luís, na Praça Sete, na Rua Rio de Janeiro, onde se hospedavam bancários e comerciantes, vindos do interior.

Seu Virgílio (1º da esquerda para direita em pé) com os irmãos. Muita elegância

Em 1947, após se casar com a prima Edite Rodrigues de Abreu, veio morar em Santa Tereza, à Rua Ângelo Rabelo, 131, na época chamada Buritis. A casa ainda existe e está sendo reformada por ele.

Seu Virgílio no exército

66 anos de vida em comum

“Minha mãe era irmã do pai de Edite, ou seja meu tio. Ela inclusive namorou um irmão meu. Mas eu não tomei a Edite dele, não! Quando ela veio para Belo Horizonte, ela namorava outro rapaz, que ficou em Jequiri”, esclarece.

Virgílio e Edite jovens

 “A gente passeava junto, ia ao cinema no Cine Glória, ao teatro e fazia footing, na Avenida Afonso Pena. Ela era muito bonita, gente fina e disputada. Fomos acostumando um com outro e depois começamos a namorar. O namoro era diferente de hoje, era mais devagar. Não tomei a Edite de ninguém não, a gente começou a passear e estamos juntos até hoje,” conta ele entre risos.

O casamento foi dezembro de 1947, na igreja da floresta, que resultou em sete filhos, Roberto, Norma, Marise, Virgílio, Vânia, Clara e Artur. Com orgulho ele diz que todos se formaram em curso superior.

A foto do casal durante as comemorações das Bodas de Ouro. Colocada em uma moldura decorava a loja Paraibana, hoje fica na parede da sala de sua casa.

Casa Paraibana

Em janeiro de 1948, depois de se sentir injustiçado pelo patrão, chamado  Davi, pediu demissão da loja onde trabalhava no centro.  “Nessa época, tinha umas economias e a Edite me ajudava muito, costurando. Ela tinha mãos finas para a costura. Foi quando, Sebastião Martins, uma pessoa que havia sido muito ajudada por meu pai, fez o convite para montar a loja em Santa Tereza”, relembra.

 O nome, Paraibana, foi sugerido pelo sócio, que já havia tido um comércio com esse nome. Não demorou muito Sebastião Martins mudou para o Rio. Ele então comprou a parte do sócio. “Fui organizando e aos poucos loja foi crescendo. A dona do imóvel era uma austríaca, Aída Bergman, que me tratava com um carinho medonho. Depois que ela morreu comprei o imóvel na mão do genro dela por 30 mil cruzeiros, paguei cinco mil à vista e o resto em prestações de dois mil por mês” conta ele.

Seu Virgílio detalha que, “no início vendia só tecido, depois “roupas feitas” (camisas, calças feitas por costureiras) e brinquedos. Quando surgiu o jeans passei a ir ao Paraguai, comprava lá e vendia aqui. Depois passei a comprar os tecidos jeans e brim cáqui, na Alpargatas, em São Paulo. As costureiras faziam as calças, que eram vendidas na loja.”.

O casal Virgílio e Edite na loja

Praticamente só existia a Casa Paraibana, até que em 1956, veio um senhor, cujo era Hermílio ou Homírio, que montou uma fábrica de roupa ao lado da Paraibana. Bom vizinho e prestativo, seu Virgílio emprestava o telefone da loja, para o comerciante, que começou a observar que movimento de clientes era bom.  Então, ele decidiu mudar a fábrica para outro bairro e montar uma loja, a Itapuã, maior que a Paraibana. Foi seu primeiro concorrente.

Paralelo à loja, seu Virgílio, em 1959, foi também inspetor do forte grupo empresarial na época, Matarazzo.  “Em 59, fui trabalhar para a Matarazzo, como inspetor nas cidades do interior, para solucionar seus problemas relativos à cobrança de mercadorias fornecidas a vários clientes de Minas Gerais. Na época a Edite, que sempre me ajudou, passou a trabalhar mais na loja”, comenta ele sempre ressaltando a importância de sua esposa.

Oa recém casados em frente à Igreja São José

Baseado na honestidade, no bom atendimento e amizade com a clientela e por oferecer bons produtos, a Paraibana continuou progredindo. Passou por várias crises econômicas, mudanças da moeda brasileira,  pela época dos cheques pré=datados, vendas a prazo, até chegar ao cartão de crédito.

Assim, atendeu os moradores de Santa Tereza e da redondeza, até 2011. Com a morte de seu filhor Artur, que cuidava dos negócios, junto com a irmã Vânia, decidiu fechar a Paraibana

Para muitos clientes foi um uma surpresa o fechamento da loja. Atualmente no imóvel funciona uma Academia.

Como era Santa Tereza

Seu Virgílio relembra fatos do bairro, como por exemplo, o fechamento do Hospital do Isolado, onde está atualmente o Mercado Distrital. Ele conta que o  Mercado foi instalado pelo prefeito, Aminthas de Barros, na década de 60. Isto a pedido da Sociedade Pró Melhoramento de Santa Tereza, formada entre outros moradores, por ele, Milton Campos e Pedro Ziviani. “Vinha gente de todo lugar fazer compras a pé, pois lá era vendido de tudo, e era o único na região”, ele recorda.

Quanto às escolas ele diz que também participou da comissão da Sociedade Pro Melhoramento de Santa Tereza, que foi até o governo estadual, pedir a criação do Colégio Tiradentes. “Só tinha aqui o Grupo Escolar Barão de Macaúbas, na Assis Chateaubriand, onde meus meninos estudaram, e o José Bonifácio. Depois do grupo, os jovens tinham de ir para outros bairros, como para o Estadual Central, no Santo Antônio, para continuar os estudos.”

Sobre a Praça Duque de Caxias, ele comenta que “a Praça era muito bonitinha, mas cada prefeito que entrou fez uma reforma. Agora precisa plantar mais árvores e cuidar dos jardins.”.

O casal em foto recente

Ele lembra ainda que “meus meninos foram batizados no porão da igreja que estava em construção. Eu, a Edite com os meninos sempre íamos à igreja.” O lazer, quando as crianças eram pequenas era passear no Parque Municipal, naPraça Duque de Caxias, ir aos clubes do SESC em Venda Nova, Oásis e Jaraguá. Os domingos eram dedicados visitar famíliares.

Por falar em Oásis, seu Virgílio é um dos sócios fundadores e conta que o nome do clube foi resultado de um sorteio. “Eram vários nomes sugeridos, que foram escritos em um papeis separados. Depois, lá na loja, foi sorteado um, Oásis, sugestão da filha do Pedro Ziviane.” Ele também é sócio fundador do Clube Jaraguá, no bairro Jaraguá. “Comprei o título, quando ainda não tinha nada construído, apenas o lote, com a placa de vende-se quotas”, recorda.

Oásis Clube, do qual foi um dos fundadores

Sobre o bairro, ele diz: “é de um padrão muito bom. Não é a toa que Rômulo Paes fez a música “Santa Tereza é uma beleza”. É um privilégio morar aqui, um lugar aconchegante como uma cidade do interior. O problema é que depois que asfaltaram a minha rua, a Formosa, ficou muito barulho de carros. Para continuar assim, como uma cidade pequena, não pode ter edificações, como no Buritis. É pra ficar como está.”.

Recebendo homenagem das mãos do presidente da Associação Comunitária do Bairro, Pedro Barros

Aos 96 anos, ele se diz um homem satisfeito com o que a vida lhe deu. “Não posso reclamar”, comenta. De espírito inquieto já está pensando em mudar de casa, voltar para o primeiro lar do casal,  na antiga Rua Buritis. “Se Deus quiser”, finaliza.

O Santa Tereza Tem agradece  a seu Virgílio, dona Edite e sua filha Norma por nos ter recebido com  carinho, pela conversa tão agradável e pelo empréstimo das fotos. Eliza Peixoto.

 

 

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