Prefeitura quer mudar sede do Museu da Imagem e do Som para o Cine Santa Tereza - Santa Tereza Tem
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Prefeitura quer mudar sede do Museu da Imagem e do Som para o Cine Santa Tereza

Prefeitura determina que mudança seja feita em 20 dias e gera resistência em servidores, setor cultural e comunidade

A Prefeitura de Belo Horizonte anunciou, na terça-feira,  2 de maio, a transferência, nos próximos dias, da sede do Museu da Imagem e do Som (MIS), instalado desde 2008 em um casarão tombado pelo Patrimônio Histórico, à Avenida  Álvares Cabral, 560, para o imóvel do MIS Cine Santa Tereza, também protegido pelo Patrimônio, à Rua Estrela do Sul, 89, bairro Santa Tereza.

Segundo a nota da Prefeitura, será feito “um investimento de R$ 1,375 milhão na reforma e revitalização do Cine Santa Tereza, espaço cultural voltado à democratização do acesso ao cinema. O espaço revitalizado receberá as equipes atualmente instaladas junto ao Museu da Imagem e do Som (MIS), atendendo a uma antiga demanda do setor, que buscava um local mais adequado para a realização desse trabalho. Com a unificação das atividades no Santa Tereza, um dos principais centros de efervescência cultural da cidade, a Prefeitura espera tornar os trabalhos mais acessíveis à população. Estas ações contarão com recursos do BNDES, de compensação de patrimônio histórico e da própria Prefeitura”.

A notícia, no entanto, não agradou aos servidores do MIS e do Cine Santa Tereza, que iniciaram mobilização contrária à decisão. Os servidores escreveram uma Carta Aberta à Sociedade Civil de Belo Horizonte, onde descrevem que no dia 3/5, a equipe do MIS foi informada que a sede deverá ser desocupada em até 20 dias, para que o espaço possa abrigar a Associação Municipal de Assistência Social (AMAS), cuja presidente é a esposa do prefeito Alexandre Kalil, Ana Laender. A carta afirma que a decisão não contou com a participação da equipe e que foi tomada sem um estudo dos impactos que serão gerados sobre os serviços e atividades oferecidos pelo MIS e  o acervo preservado por ele.

O documento expõe preocupação com os impactos da mudança em relação à preservação do imóvel tombado em Santa Tereza e ao acesso da população às atividades formativas, exposições, seminários e festivais realizados nas duas unidades. Com o apelo, eles vêm ganhando adesões espontâneas do setor cultural e uma Audiência Pública já está marcada na Câmara Municipal, para o dia 15 de maio, às 19h, convocada pelos vereadores Pedro Patrus e Arnaldo Godoy. Na próxima segunda-feira, os vereadores farão visita técnica ao Museu e ao MIS Cine Santa Tereza, para avaliar a situação dos espaços. As vereadoras Cida Falabela, Áurea Carolina e o vereador Gilson Reis também já manifestaram apoio à causa.

Acervo histórico em risco

Sede atual do Museu da Imagem e do Som (MIS)

A sede do Museu requer espaço para acondicionamento do acervo (mais de 90 mil itens entre material fílmico, fotográfico, videográfico, iconográfico, fonográfico, textual e bibliográfico), que é altamente complexo e necessita de climatização específica, bem como para reserva técnica e sala expositiva, ações educativas e setor administrativo.  A  proposta da prefeitura é deslocar tudo para o espaço multiuso do Cine Santa Tereza, local que atualmente recebe mostras, festivais, seminários e exposições, além de eventos da comunidade do bairro. Muitos eventos  já estão agendados para 2017 e o Edital de Ocupação Artística , que seria publicado no próximo dia 22 de maio, foi suspenso em decorrência da decisão.

Isabel Cristina Felipe Beirigo, servidora da Fundação Municipal de Cultura e técnica responsável pelo processamento do material fílmico e videográfico do MIS, destaca que o acervo está todo acondicionado em câmaras climatizadas em condições ideais para sua conservação. “Já foi feito um investimento de mais de R$ 600 mil de dinheiro público para deixar o espaço do Casarão adequado. Agora a prefeitura anuncia que vai desembolsar 1,3 milhões na adequação de outro espaço. Não acredito que essa verba seja suficiente para fazer a transferência e a adequação necessária para acondicionar o acervo e as atividades do Museu. E também não vejo razão para gastar uma enorme quantia de verba pública para este fim, se o Museu já está alocado em estrutura adequada”.

Ela conta que toda a equipe, tanto da sede, quando do MIS Cine Santa Tereza, está  contra a medida, por conhecer as necessidades de cada equipamento e saber que a mudança poderia comprometer tanto a realização das atividades dos dois espaços, quanto a preservação do acervo, que é patrimônio da cidade.

Marco Aurélio Ribeiro, presidente da Associação Curta Minas, avalia que essa transferência pode gerar grande prejuízo para a preservação do patrimônio audiovisual de Belo Horizonte. “É um acervo de máxima importância para a memória da cidade, um importante ponto de resistência. Deslocá-lo da forma como está sendo pensada seria extremamente equivocada e arriscada. Se o acervo ficar três meses fora das câmaras climatizadas, pelo menos 50% dele será perdido. Se a intenção é fazer uma mudança para melhor, que seja bem planejada e discutida com a sociedade, com o setor audiovisual e com especialistas em preservação”.

Marco Aurélio acredita que apesar dos riscos de deslocamento, poderia haver mudança positiva se o Museu da Imagem e do Som fosse para um espaço maior e melhor que o atual, para solucionar a limitação de acervo já existente. “Digo com segurança que o Cine Santa Tereza não é adequado para sediar o Museu e nem mesmo com reforma, pois não possui estrutura física suficiente. Transferir o acervo e as atividades da sede para este espaço é impedir seu crescimento, além de também reduzir as capacidades multiculturais do Cine Santa Tereza, que foi criado para ser um braço difusor do MIS e tem desempenhado muito bem a função. É um despropósito para os dois espaços, uma mudança antifuncional”, desabafa.

Em defesa do MIS Cine Santa Tereza

O MIS Cine Santa Tereza foi reinaugurado em abril de 2016, após ter seu imóvel histórico revitalizado, para suprir uma demanda de moradores do bairro, da cidade e do setor cultural, por espaços de difusão, circulação e criação artística, especialmente daquela vinculada a linguagem audiovisual.

De acordo com o alerta dos entrevistados, a mudança poderá gerar impactos negativos ao MIS Cine Santa Tereza, como: impedir que o equipamento receba exposições, realize oficinas e mostras de artes integradas; diminuir significativamente o número de atendimento às escolas; descaracterizar um dos patrimônios mais importantes do bairro, a edificação da antiga sala de cinema projetada pelo arquiteto italiano Raffaello Berti e inaugurada em 1944, que preserva traços da arquitetura art dèco e é um dos lugares mais afetivos para a população de Santa Tereza.

João Bosco Alves Queiroz, presidente da Associação Comunitária do Bairro Santa Tereza (ACBST), declara: “A ACBST vê com perplexidade essa decisão da Prefeitura. Foram anos de luta dos moradores até a conclusão da obra e inauguração do equipamento, que há um ano começou a beneficiar o bairro e a cidade. Em tão pouco tempo querem mudar completamente a destinação da sala multimeio, um espaço que amplia as possibilidades de alcance do MIS Cine Santa Tereza para muito além da sala de cinema. Com a mudança proposta, a sala se transformará em um depósito do acervo do Museu, comprometendo todos os relevantes serviços que vem prestando à comunidade. Além disso, o espaço parece  pequeno para receber o acervo e realizar as inúmeras ações que o Museu da Imagem e do Som vem prestando à sociedade. O que nos espanta também é ver que o objetivo dessa transferência não é o de economizar a verba dos cofres públicos do município, uma vez que, conforme a carta dos servidores e anúncio feito no portal da prefeitura, está previsto o investimento de R$ 1,375 milhão na reforma para adaptação do MIS Cine Santa Tereza”.

O Portal Santa Tereza Tem tentou entrevistar a Prefeitura sobre os aspectos negativos da mudança apontados na carta dos servidores do MIS, enviou perguntas por email como solicitado pela Assessoria de Comunicação e ainda não obteve retorno.

Serviço

Audiência Pública para discutir o MAP e o MIS
Dia: 15 de maio, segunda-feira
Horário: 19h às 21h
Local: Plenario Helvecio Arantes – Câmara Municipal de Belo Horizonte

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