*Por Luis Borges Pensata publicada primeiro no blog Observação & Análise
O calendário da Igreja Católica estabelece que 27 de novembro de 2022 é o primeiro domingo do advento e com ele são iniciadas as quatro semanas preparativas para o Natal. Neste ano, a festa pelo nascimento de Jesus se dará com a sociedade brasileira bastante polarizada, o que se acentuou no recente processo eleitoral e seus desdobramentos, trazendo distanciamento e rompimento entre muitas pessoas e famílias.
Ainda vale lembrar que nos dois anos anteriores o Natal aconteceu em meio às medidas sanitárias, inclusive distanciamento social, determinadas para combater a disseminação da Covid-19. Aliás, nesse momento, também estamos diante da retomada do uso de máscaras em função do rápido avanço das mais novas variantes do vírus. Será que essa nova onda se encerrará antes do Natal?
Mas o fato é que na nossa cultura muito se fala que o Natal deve ser passado em família e a virada do ano com amigos. Todavia, como viabilizar isso após tantos rachas, rompimentos e profundos silenciamentos entre familiares, primos, amigos e até mesmo entre colegas de trabalho e irmãos de fé cristã? Como conciliar o espírito natalino com a intolerância e a dificuldade que muitas pessoas têm para aceitar opiniões diferentes?
Isso é o que está posto na conjuntura e será necessário muito diálogo e compreensão para juntar os cacos entre os que ainda sentem falta dos que estão afastados, distantes sem dar sinais de um possível reatamento. Para isso é preciso querer, mas o bloqueio, por parte de muitos, é permeado pelo ódio, a intolerância e o desrespeito, que é mais uma negação da sociedade civilizada em que imaginamos viver no regime democrático.
Nesse sentido, são muitos os relatos de verdadeiros “barracos” em família, gerando constrangimentos e posturas envergonhadas… mas o desafio é a mudança do clima para que as pessoas se reaproximem em nome do espírito natalino. Será que vai dar tempo? Ou o jeito será admitir que nem todos passarão o natal em família. Até quando, ainda que em nome da sobrevivência?
Buscando conhecer para melhor compreender o que se passa nas relações familiares e as expectativas de qualidade nas relações entre seus membros, vou citar o que disse a psicóloga Márcia Almeida Batista, diretora da clínica psicológica da PUC-SP, em recente entrevista ao UOL. “A polarização política tem intensificado conflitos familiares (…) Temos uma fantasia de que só porque somos da mesma família queremos as mesmas coisas, o que não é verdade. Podemos ter visões diferentes (…) Quando tem um clima de polarização e disputa na sociedade, isso gera reverberações dentro de todas as instituições, como escola, empresas e, inclusive, na família (…) A questão não está em expor o conflito, mas sim no modo como a gente vai mostrá-lo para o outro.”
Enquanto isso, o natal se aproxima e nós vamos fazendo nossas escolhas. Com quantos e quais, mesmo assim, passaremos o natal em família? Na casa de quem?
*É Engenheiro Mecânico formado pela UFMG, professor universitário de carreira encerrada, consultor especialista em Gestão Estratégica de Negócios, mentor e torcedor do América Futebol Clube e morador de Santa Tereza e blogueiro do Observação & Análise