Murilo Antunes, 52 anos de poesia e 72 de vida - Santa Tereza Tem
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Murilo Antunes, 52 anos de poesia e 72 de vida

O poeta, escritor e letrista Murilo Antunes comemora seu aniversário de 72 anos e 51 de carreira de forma bem especial, com o show “Murilo Antunes – desde 1950, dia 25 de junho, às 21h, na Casa Outono (Rua Outono, 571 – Carmo – BH – MG). 

Gente que vem do Vale do Jequi

Em um bate-papo do Santa Tereza Tem, Murilo Antunes, gentilmente, nos conta sobre sua ligação com o Clube da Esquina, Santa Tereza e outras histórias mais. Confira abaixo.

Mineiro de Pedra Azul, Vale do Jequitinhonha, traz em seus versos a doçura e ao mesmo tempo a fala forte de quem nasceu praquelas bandas de Minas. Os versos mandam em Murilo, como ele diz: “Não faço poesia quando quero, mas quando ela quer”. E a poesia, ainda bem, está sempre querendo, pois são cerca de 300 letras de músicas e três   livros, em edições esgotadas: “O Gavião e a Serpente” (1979), “Musamúsica” (1990), “Breve Balada para Viola e Sangue” (2020) e diversas publicações em revistas e jornais literários.

O poeta relembra sua chegada a Belo Horizonte em 1965: “eu caminhava sem medo pelas ruas, cantava nas esquinas com os amigos e fazia serenata.  Saia pelas noites com pés alados e pensamento nas estrelas. Mas, infelizmente, ao mesmo tempo, a borduna descia nos porões da ditadura brasileira. Aos 17 anos, fui surpreendido pela música seminal de Minas. Com ela, eu iria ganhar o mundo. E com Sirlan, fiz minha primeira canção”.

A história com o Clube da Esquina

“Essa história começou, em Montes Claros,  antes do Clube começar, quando conheci Beto Guedes, que tocava no “BRUCUTUS”. Nossos pais já se conheciam. Godofredo, pai de Beto, ia a Pedra Azul, encontrar meu avô e tocar com meu tio Pimenta”, relembra ele, que ser tornou um dos grandes letristas do movimento musical, nascido em Santa Tereza.

A mudança para Belo Horizonte, deu uma quinada em sua vida. Bom pra ele e bom pra gente. “Mudei pra BH logo após o Beto. Então conheci Toninho Horta, com quem saia pelas noites, fazendo serenata. Depois, encontrei Marcinho Borges e Fernando Brant, quando ainda não havia o disco Clube da Esquina. Reunia com Beto, Lô, Marcinho e Vermelho (14 BIS), na garagem da casa de Flavio e Claudio Venturini, onde eles tocavam. Aí fiz as primeiras letras. Na mesma época conheci Tavinho Moura. É com ele e Flavio. que tenho o maior número de parcerias”.

“Eu tomei dois sustos sonoros em minha vida. O primeiro foram os BEATLES, que veio diferente de tudo que eu já havia ouvido, cantavam e criavam músicas alegres, cheias de juventude, que nos emocionavam. O outro susto sonoro foi MILTON NASCIMENTO, nosso Bituca, com aquela voz e as composições diferenciadas, que não tinha ninguém parecido no mundo da música. Depois que ouvi Bituca e conhecí os meus amigos, pensei comigo: essa é a turma musical que quero pra minha vida. Dito e feito.

Amizade marca aqueles jovens da década de 70

 A amizade entre os então jovens, que despretensiosamente faziam um som inovador, foi se solidificando para além da música e permanece até hoje, no tempo dos cabelos brancos. “Um ponto alto da nossa amizade foi o show FIO DA NAVALHA. Todo final de ano, eu e Marcinho ajudávamos a organizar um show com os mineiros de fora e de dentro. Os mineiros, que moravam no Rio, vinham para o Natal, como Nelson Ângelo, Nivaldo Ornelas e Wagner Tiso. Eles viraram minha turma musical, pois compus e componho com todos: Flavio Venturini, Tavinho Moura, Claudio Venturini, Vermelho, Lô, Beto, Toninho, Nivaldo, Wagner e Telo. Sempre, a gente  encontrava  pra compor, jogar bola e fazer nossa amizade crescer”.

Sobre Santa Tereza

Apesar de não morar no bairro, Murilo está sempre por aqui, seja participando de shows ou visitando os amigos. “Santa Tereza é meu bairro predileto de BH, mesmo sem ter morado aqui.  Sempre frequentei, seja jogando bola, na casa dos Borges e nos botecos. Tanto que Marcinho Borges me considera (e eu o considero) irmão, já que vivemos muitas coisas juntos.  Com ele aprendi muito do meu ofício de letrista, assim como, com Fernando Brant e Ronaldo Bastos”.

Pai de muitas filhas

Sobre inúmeras canções, com diversos parceiros, mas a grande maioria com Flávio Venturini, ele diz não ter uma preferida. Entre as mais de 300, podemos citar as mais conhecidas como Nascente, Como se a Vida fosse Música, Nossa linda juventude, Vivazapátria, Nenhum Mistério, Andarilho de Luz, Besame.

“As músicas são como filhas, você não tem preferência por uma ou por outra. São mais de 300 músicas gravadas e cada uma tem a sua história. Por exemplo, Nenhum Mistério, composta com Lô e Ronaldo Bastos. O Bituca estava produzindo o primeiro disco de Tadeu Franco, isso incluía a escolha do repertório. Eu perguntei a ele se o disco não teria música do Lô. A resposta dele foi: “então faz”. Dito e feito. Coincidiu com uma vinda do Ronaldo Bastos pra BH, eu o busquei no aeroporto e fomos direto para casa de Lô, em Santa Tereza. Ele assentado no piano comigo de um lado e o Ronaldo do outro, nasceu Nenhum Mistério. Nascente, que fiz com o Flávio Venturini tem umas cinquenta gravações, inclusive internacionais. A primeira foi Beto Guedes, em seu disco A PÁGINA DO RELÂMPAGO ELÉTRICO”.

O poeta e o cinema

Além da música Murilo Antunes fez incursões no cinema. Ele ressalta que, “atuar em cinema, puxa, foi das experiências mais enriquecedoras. Sempre achei que, para fazer música, ou qualquer outra arte, a gente tem de conviver/apreender e estar inteirado das outras artes”.

 “Minha experiência como protagonista se resume a dois curtas e dois longas como figurante. Além disso, sou autor de parcerias com Tavinho para dois longas e o trabalhei como assistente de produção no “Cabaret Mineiro”, longa-metragem de Carlos Alberto Prates Correia, filme que ganhou muitos prêmios e no qual eu aprendi como se faz um filme, ” completa.

Atuando no cinema

Quando surgiu o compositor

“Em criança, nunca imaginei que seria compositor.  Minha certeza era que amava música e passava horas a fio ouvindo rádio, além de ouvir minha mãe sempre a cantar, enquanto fazia as tarefas domésticas. Com isso, aprendi muitas canções, enriqueci meu repertório e criei referências dentro de mim”, relembra o letrista.

Mas a história mudou, segundo ele, “até que um dia conheci essa turma que hoje faz parte do Clube da Esquina. Entretanto, quem primeiro me chamou e confiou, que eu poderia fazer letra pra uma canção, foi Sirlan, um mineiro, amigo do Beto, do Flavio e do Lô e que tocou com eles nos primeiros discos”.

Sirlan Defendendo Viva Zapátria – Festival Internacional da Canção, em 1972

“Também com Sirlan, fiz a segunda composição, que nos levou ao Festival Internacional da Canção, em 1972, com a música, Viva Zapátria. Levou Menção Honrosa e tivemos o desprazer de sermos interrogados pela censura federal. O tempo era esse, tempo da ditadura. Com ele pude escrever canções contestadoras, além de VIVA ZAPÁTRIA. Junto com Fernando Brant, fui várias vezes ao Rio de Janeiro para tentar liberar canções para o disco de Sirlan. A censura atrasou a vida do meu parceiro e fez com que ele deixasse a carreira de músico e autor de discos, em segundo plano. Mas isso é outra história.

É isso! Parabéns poeta! Muitas letras, muita poesia em sua vida!

Diversas composições do Murilo

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