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Santa Tereza Tem Memória: Clube da Esquina

Por Manoel Pádua

O músico e compositor Manoel Pádua, nascido e criado em Santa Tereza, teve a oportunidade, em sua adolescência de acompanhar de perto os jovens, que se reuniam na esquina das Rua Paraisópolis e Divinópolis e, que mais tarde foram os responsáveis pelo movimento musical Clube da Esquina. Movimento esse, que levou o nome de Santa Tereza e de Minas Gerais pelo mundo afora, por meio de suas canções.

Manoel nos conta em um texto sobre essa experiência, que ele lembra com satisfação.         

Manoel Pádua e seu violão

Recordações

Sou o Manoel Pádua, compositor.  Nasci à Rua Bom despacho em 03/11/1948 e atualmente tenho 72 anos.

Fui criado na Rua Divinópolis 525, dois quarteirões abaixo da esquina da Rua Paraisópolis com a Divinópolis. Neste cruzamento de ruas, se dava um encontro semanal de vários garotos formando alio movimento inicial do clube da esquina.

Manoel na sua juventude

Por bom tempo, tive o privilégio de ser um expectador e ouvinte do som que eles faziam. Tinham aproximadamente entre 12 e 17 anos, e eu tinha 16 anos, quando comprei o meu primeiro violão. Esses encontros aconteciam de duas à três vezes por semana.

Eu subia a Rua Divinópolis por volta das 20h e lá estavam vários rapazes reunidos sempre com seus violões, conversando uns com os outros e às vezes cantando. Aquele era o meu caminho, por que eu ia para a praça Duque de Caxias para dançar nos clubes. Era sempre assim.

A turma do Clube. Foto: Museu Clube da Esquina

Os rapazes do Clube da Esquina gostavam de ficar assentados no meio-fio à direita, subindo em frente à casa do dentista Dr. Alaor. Outras vezes, ficavam na varanda da casa de esquina à direita descendo a Rua Divinópolis no cruzamento com a Paraisópolis.

Algumas vezes, eu vi o Bituca (Milton Nascimento) nesta varanda. Eu achava até que ele morava ali O movimento era bem agradável, o ambiente era de amizades e músicas inesquecíveis. Naquele tempo, havia liberdade e os jovens ficavam nas ruas, sem nenhum perigo. Muitos vizinhos e amigos curtiam as melodias cantadas por eles.

Naquela evolução musical, predominavam influências da bossa nova, MPB, jovem guarda, soul music, Beatles e outros estilos que eram top daquele tempo. Na verdade, o movimento dos garotos era um clã de amigos, dispostos a atingir um objetivo comum de aprimoramento e crescimento pessoal.

Os irmãos Borges na Rua Paraisópolis

Havia, portanto, uma disciplina no encontro deles. À época, em Belo horizonte, era comum os jovens quererem aprender música e formar bandas. Lembro-me de ficar por perto, na expectativa de aprender alguma coisa, ouvindo os acordes diferenciados que eles já dominavam.

A afinação e as vozes eram notórias, incrível mesmo! Tinham ali, uma liderança sem dúvida, sempre educados, sociáveis como bons amigos. Eu não era conhecido deles, me mantinha de longe, parava um pouco somente, depois ia embora para minha casa.

Falando um pouco de Santa Tereza, o nosso bairro já possuí a Igreja, o coreto, o quartel do o 5º Batalhão, o Clube Ideal, o Clube Santa Tereza, o Clube dos 50, o Espaguete do Bolão, o Cine Santa Tereza, o Oasis Clube, o Colégio Tiradentes, o Campo do Minas. Era comum se fazer horas dançantes e serenatas nas casas. E, assim tudo se completava em amor por Santa Tereza.

Hoje temos a honra e a alegria de sabermos, que, aqueles jovens garotos, eram simplesmente Milton Nascimento, Lô Borges, Beto Guedes, Flávio Venturini, Toninho Horta, Vagner Tiso, Tavinho Moura, Tavito, Nelson Ângelo, Robertinho Silva, Luiz Alves, Vermelho e Rubinho.

Portanto, nosso reconhecimento e gratidão a todos eles.

Obrigado, Manoel Pádua.

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