Manezinho 85 anos de forró - Santa Tereza Tem
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Manezinho 85 anos de forró

Manezinho do Forró um piauiense belo-horizontino

No dia 26 de março, o grande sanfoneiro piauiense, mineiro por adoção, completou 85 anos de idade e podemos dizer também de forró, pois seu pai, Zé Pessoa, era parceiro de Januário, pai de Luiz Gonzaga, e afilhado de crisma do Rei do Baião. O menino Manelin não tinha como fugir da música.

Em sua casa no Bairro São Gerado, onde as paredes são cobertas de fotos de shows e dos 10 filhos, 18 netos e 23 bisnetos, ele contou sua história em uma conversa com muitas risadas e regada a café com bolo de fubá, feito por sua esposa, dona Verônica,

Vi ali um homem forte, apesar da pequena estatura, um nordestino determinado, que partiu atrás de seus sonhos e se tornou um grande divulgador da cultura popular de sua terra.  Um artista simples, mas orgulhoso de sua trajetória, por ver suas centenas de composições tocadas em todo Brasil e por integrar a Polícia Militar de Minas.

Abaixo publicamos um resumo dessa grande história.

Manezin e sua numerosa prole em fotos por toda parte

Da gaita à sanfona

Manoel Pessoa de Holanda, Manelin na família, nasceu em Picos (PI), e, ainda pequeno, pegava birra para acompanhar o pai e Januário nas suas andanças tocando nos bailes pelo sertão. “A gente ia a cavalo e rodava, viu? Aos nove anos, papai cansado de eu ir atrás dele, me deu uma gaita, que com pouco tempo já tocava. Fiz um zabumba pro meu irmão Odílio e a gente “torava” de tocar, até inchava a boca. Aí desagarrei de pai. Acho que eu ia atrás da música, e não dele, apesar de que ele cismava que era minha mãe quem me mandava pra vigiar o véio”, conta dando boas risadas.

A gaita foi trocada, em 1949, aos 12 anos, por uma sanfona Hohner alemã de oito baixos, presente do padrinho Luiz Gonzaga. Autodidata, nem gastou professor. “Passava uma música eu escutava, gravava na cabeça e tocava. Aí “danei” a fazer bailes”, lembra ele.

 Devido à seca, que assolou a região, o pai se endividou e vendeu a fazenda onde moravam. Com a situação financeira difícil e 15 filhos para criar, Zé Pessoa, em 1956, juntou a prole e desceu o Rio São Francisco.  “Viemos morar com meu avô. Ele mandou as passagens pelo correio e pegamos o vapor que vinha de Remanso na Bahia e paramos em Pirapora”, relembra ele.

E chega a BH

“Em Pirapora não via futuro. Peguei o trem e desembarquei sozinho na Praça da Estação, no final de 1956, com 17 anos. Assim cheguei em Belo Horizonte, de onde não mais saí”, relembra. Ele conseguiu emprego em um restaurante no Mercado Central e dormiu por seis meses no caminhão do patrão. De lá foi trabalhar na pensão e restaurante Barão, na Avenida Álvares Cabral com Espírito Santo, onde passou a dormir. De dia era ajudante de cozinha, fazia limpeza e de noite tocava sanfona.

Logo depois fez concurso para a Polícia Militar, onde frequentou a escola de música da PM e aposentou-se como sargento, pois não foi aprovado no curso de cabo já que não tinha a altura suficiente, 1m60.  “Eu não sabia nada de música, nem onde estava o dó, era tudo de ouvido. Assim, com 19 anos, na escola de música comecei a aprender saxofone, mas meu negócio mesmo era a sanfona”, comenta.

Manezin e Santa Tereza

Sua história com Santa Tereza começa em 1965.  “Vim estudar no Colégio Tiradentes para fazer o curso de sargento. Lá havia uma professora, Ivani Coutinho, que perguntou: tem alguém aí que toca acordeon? Eu levantei a mão. Ela então me colocou pra tocar na festa junina do Colégio Tiradentes”, conta ele.

Manezinho já fez muito forró no antigo Sobradão da Seresta, na Trash, casa de show, que funcionou no cinema e por incrível que pareça já tocou até na igreja. Mas sua ligação com o bairro vai além, pois seu filho Manoel e seu neto, o músico Albert Holanda (que toca sanfona que nem o avô), residem no bairro, atuam na igreja católica e têm o projeto social “Portas para o Céu”.

O sanfoneiro louco

Em 1979, depois de um jogo em que a seleção brasileira foi vencedora, ele e seus seus irmãos, pegaram os instrumentos foram comemorar na Praça Sete.  E ele conta gargalhando: “Rachamos o “buralho”. Começamos a tocar e foi juntando gente, com todo mundo dançando até o dia amanhecer. A polícia queria parar a gente, porque não era nada programado, mas o povo não deixou. E foi uma festa. Jornal, rádio e televisão querendo falar comigo, mas eu só tocava. No outro dia sai no Estado de Minas:
Sanfoneiro louco faz forró em praça sete, sem cordão de isolamento, sem policiamento e sem permissão das autoridades competentes. Diga-se de passagem, que o mundo é dos loucos e eu gostei”, de autoria do jornalista Carlos Felipe. “Aí deu uma repercussão danada”, comenta ele.

No fim de semana, desse mesmo ano, começava o Forro de Belô e ele decidiu que iria fazer a abertura do evento.   Insistente e persistente foi procurar o jornalista Carlos Felipe, que era o apresentador do Forró de Belô. Tanto insistiu, que apesar da programação estar fechada, o jornalista lhe disse que aparecesse por lá.

Entretanto, a sorte estava a seu lado, pois o forrozeiro pernambucano Caxangá, que iria fazer a abertura do evento, atrasou. Então ele foi convidado para abrir o show. “Lasquei o burralho” e aí nasceu o Manezinho do Forró, nome dado pelo Carlos Felipe, por quem tenho amizade e muita gratidão, pois ele me apoiou muito na carreira”, diz o artista.

A partir daí o “sanfoneiro louco” teve as portas abertas e não parou mais de fazer shows, conciliando a agenda com seu trabalho na Polícia Militar. Mas o grupo estourou de vez, em 1986, em uma festa no Parque de Exposição da Gameleira do Manga Larga Marchador, quando Luiz Gonzaga exigiu que Manezinho, seu afilhado, fizesse a abertura do de seu show.

Para sua emoção, no palco Luiz Gonzaga, lhe deu de presente outra sanfona Hohner, de 80 baixos. Manezinho relembra que “aí deu na imprensa, foram muitas fotos, entrevistas e fiquei conhecido fora de Minas. E rendeu ainda um convite da Gravadora Xororó, onde estou até hoje, e já foram 10 CDs e dois discos de vinil”.

A música, segundo ele, lhe deu condições de criar a numerosa família, pois, além das apresentações pelo país afora, ele, como compositor, recebeu muito em direitos autorais.

O único período em que o artista guardou a sanfona e deixou de tocar em bailes e shows foi durante a pandemia. “Com a pandemia eu tive de sossegar, mas para o ano que vem já estou com agenda sendo preparada”, comemora.

 Por aí já dá pra se vê que nem a idade impede o sanfoneiro maluco de colocar o povo pra forrozar.

Contato para apresentações: (31) 34871416

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