Setembro Amarelo: É preciso falar de suicídio - Santa Tereza Tem
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Setembro Amarelo: É preciso falar de suicídio

Campanha Setembro Amarelo chama atenção sobre o problema que é tratado ainda como tabu. Empatia e acolhimento podem salvar vidas

Depressão, ansiedade, dependência de álcool e outras drogas, transtornos mentais, exposição à violência e mesmo questões socioeconômicas podem desencadear um inimigo silencioso e cada vez mais presente na sociedade: o suicídio.

De acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), mais do que nunca é importante falar sobre o assunto, pois a Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que a cada 40 segundos uma pessoa atenta contra a própria vida, o que resulta em 800 mil casos registrados por ano em todo o mundo.

O psiquiatra Marco Túlio de Aquino, médico da Unimed, destaca que a campanha Setembro Amarelo é importante para que o suicídio deixe de ser tratado como um tabu. “Vivenciar esses quadros clínicos não é uma escolha da pessoa e nem sinal de fraqueza. Na maioria das vezes, o comportamento está ligado a uma doença com bases genéticas e biológicas, emoções e pensamentos disfuncionais e gatilhos, como o medo, decepções nos relacionamentos interpessoais, questões financeiras e dificuldades acadêmicas, dentre outros conflitos”, detalha o psiquiatra.

O número de mortes é bem maior do que imaginamos

No Brasil, 32 pessoas tiram a própria vida por dia, segundo o Centro de Valorização da Vida (CVV), instituição especializada no apoio emocional e prevenção do suicídio. Segundo o Ministério da Saúde, os casos passam de 12 mil por ano no Brasil. Em Minas Gerais, dados da Secretaria de Estado de Saúde revelam que, de 2010 a 2016, o número de pessoas entre 15 e 19 anos, que tentaram se matar cresceu 15 vezes. Estima-se que o número de tentativas de suicídio supere o número de suicídios em até 20 vezes.

Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), entre os jovens de 15 a 29 anos, o suicídio é a quarta causa de morte depois de acidentes no trânsito, tuberculose e violência interpessoal. Em escala global, 8 em cada 10 suicídios ocorrem em países de média e baixa renda e as diferenças socioeconômicas parecem ter impacto mais forte entre adolescentes.

Como prevenir

Mudanças no ambiente familiar, profissional ou escolar, crises de identidade, devem receber especial cuidado.  Marco Túlio de Aquino orienta que ao observarmos um amigo, colega de trabalho, familiar ou algum conhecido falando frases do tipo, “viver não vale a pena”, “não tenho planos para o futuro” ou “morrer não seria ruim” hora para dizer “estou aqui, pode contar comigo”. Ofereça empatia e acolhimento, como uma iniciativa para romper a barreira do silêncio sem qualquer tipo de preconceito e construir uma rede de apoio para que o suicídio não seja ignorado e pessoas vulneráveis ao problema não se sintam sozinhas.

O psiquiatra orienta que a família e os amigos devem prestar atenção nos sinais iniciais, especialmente os emitidos por estudantes no começo dos períodos letivos, no ensino médio e nas universidades. Por reparo também em questões como o bullying, incluindo aqueles comuns pela internet e entender que, normalmente, não existe uma razão única que leva alguém a se matar.

Pesquisas mostram que transtornos psiquiátricos não identificados ou não tratados corretamente estejam relacionados a 97% dos óbitos por suicídio. Segundo o psiquiatra, “existem maneiras de reconhecer essas mudanças no estado emocional das pessoas e de lidar com essas questões. Identificar de forma realista essas emoções, os pensamentos disfuncionais e os sintomas eventualmente presentes é o primeiro passo para a recuperação. ”

O acompanhamento especializado é fundamental para pessoas que tentaram suicídio ou são consideradas em risco. Os profissionais de saúde devem ser capacitados para essa identificação e acompanhamento precoces e os serviços de emergência também devem estar disponíveis para fornecer apoio imediato a indivíduos em situação crítica.

Caso você identifique algum sinal ou fator de risco, agende uma consulta com o seu médico. Outra alternativa é contatar o Centro de Valorização da Vida (CVV), canal de acolhida a todo cidadão, por meio do telefone 188 ou pelo site www.cvv.org.br.

Na contramão do mundo

Tendo em conta o cenário global, a curva de casos tem baixado. No entanto, nas Américas, incluindo o Brasil, a tendência é de alta. Globalmente, as taxas de suicídio caíram 36% entre 2000 e 2019. Na Europa, por exemplo, houve queda de 47% dos casos de autoextermínio. Já no continente americano, as taxas avançaram 17% no mesmo período.

Segundo Marco Túlio de Aquino, depressão e ansiedade são transtornos que acometem grande número de brasileiros. A pandemia ajudou a piorar o quadro.Os transtornos mentais envolvem causas complexas, que incluem fatores genéticos e não genéticos. A alta prevalência na população geral pode trazer grande impacto na qualidade de vida das pessoas, principalmente quando não tratados ou quando tratados inadequadamente”, afirma. 

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