Pouca gente sabe que Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) conta, desde 2003, com um setor para tratar exclusivamente da violência doméstica contra as mulheres. É a Companhia de Polícia Militar Independente de Prevenção à Violência Doméstica (1ª Cia PM Ind PVD).
A Cia PM Ind PVD trabalha na prevenção criminal para combater o feminicídio e outras violências contra as mulheres especialmente dentro de casa. Com sede à Av Augusto de Lima 270, Centro, sua atuação tem como objetivo quebrar o ciclo da violência e coibir o agravamento das situações a que estão submetidas as vítimas.
Não fique calada, denúncie!
O Santa Tereza Tem conversou com a tenente Bruna Lara, integrante da Cia que nos explica o seu funcionamento, pois nesse mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher,
STT: Quando começou a funcionar a cia e por que a PM decidiu criar uma Cia especial para a violência doméstica?
Ten. Bruna: A 1ª Cia PM Ind PVD foi criada e instalada no ano de 2017, mas o Serviço de Prevenção à Violência Doméstica (SPVD) já existe na Instituição desde 2003. O objetivo é ofereceu um atendimento mais humanizado às vítimas reais e potenciais. A partir do registro dos Boletins de Ocorrência, os casos são selecionados por gravidade e reincidência para que as Equipes possam ir até as vítimas e lhes oferecer o SPVD.
STT – Qual o contato pra o caso de denúncias ou pedido de socorro?
Ten. Bruna: As vítimas de violência doméstica devem acionar 190 no caso de emergência policial. Em caso de fatos ocorridos anteriormente, comparecer à Unidade de Polícia Militar mais próxima ou Delegacia Especializada, onde houver.
STT – Quais são os tipos de violência contra a mulher? Essa violência atinge também as crianças?
Ten. Bruna: A Lei Maria da Penha traz cinco tipos de violência doméstica: física, moral, sexual, psicológica e patrimonial. Dizemos sempre que a violência doméstica prejudica toda a família, pois gera consequências em todos os envolvidos no contexto, como é o caso dos filhos do casal.
STT – De acordo com os dados estatísticos você acha que houve um aumento da violência doméstica no último ano?
Ten. Bruna: Sempre devemos tomar cuidado ao lidarmos com os números. Já atendemos inúmeras vítimas que tem 30, 40, 50 anos de casadas. Essas vítimas relatavam episódios de violência desde o início do relacionamento. O fato dessa violência não ter sido registrada anteriormente não quer dizer que ela não ocorria.
Ela estava acontecendo, mas a vítima estava assustada, acuada e desesperançada demais, para pedir ajuda. Um de nossos objetivos é levar o conhecimento a todas as mulheres, para que possam se reconhecer dentro do ciclo da violência e entenderem que há uma solução, uma saída, e o aumento do número de registros poderá ser um importante indicador desse fortalecimento dessas mulheres.
STT – Você como mulher como se sente ao cuidar desses casos de agressão à mulher?
Ten. Bruna: É extremamente importante e engrandecedor poder participar do resgate da autoestima das mulheres, vítimas de violência doméstica. Poder perceber a transição pela qual ela passou no caminho de dificuldade é recompensador. Toda mulher possui uma força imensa dentro de si, elas só precisam ser despertadas, por isso, atuamos como instrumentos de Deus.
STT – Pela sua experiência com esses casos, a quais razões você atribui essa violência doméstica, seja contra a mulher ou os filhos?
Ten. Bruna: Infelizmente, a violência doméstica é algo cultural, onde, em muitos casos, o agressor não se compreende em uma situação de violência, assim como a própria vítima. Há uma repetição do padrão vivenciado com os pais que é passado de geração em geração. Por isso a importância do SPVD, que leva conhecimento e informação aos envolvidos, atuando diretamente na quebra do ciclo da violência doméstica.