Pajé Filmes e os Maxakalis - Santa Tereza Tem
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Pajé Filmes e os Maxakalis

Pajé Filmes, uma produtora de Santa Tereza, dedicada aos indígenas

Santa Tereza é muito mais que bares, carnaval, música, religiosidade, patrimônio cultural. Pouca gente sabe, mas aqui também tem uma produtora de filmes, a Pajé Filmes, que se dedica a preservar a culturaindígena, especialmente dos Maxakalis, que vivem em Minas Gerais.

A produtora foi criada em 2008, pelo professor e pesquisador da Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG), Charles Bicalho, morador de Santa Tereza.

Professor Charles Bicalho

A história teve início quando o jovem universitário Charles Bicalho começou a pesquisar a cultura Maxakali, ainda na graduação em Letras da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

“Eu tinha interesse em tradução e literatura. Aprendi um pouco da língua e comecei a traduzir as histórias e os cantos dos Maxakalis. Ao longo dos anos publicamos mais de 10 livros bilíngues com as histórias e cantos tradicionais deles.

Depois da graduação vieram o mestrado e doutorado sobre a tradição literária desse grupo indígena.

E no vai e vem de pesquisas, ele idealizou a Pajé Filmes. Ao mesmo tempo passou a fomentar um blog e o canal no Youtube e o perfil no Facebook, tudo gratuito, usando essas ferramentas para divulgar, não só o trabalho, mas a cultura indígena desconhecida por muitos.

Os filmes

No início, com recursos próprios, ele patrocinou vários documentários, financiando as produções, fornecendo câmera, fitas e editando e finalizando o material que os índios filmavam na aldeia.

Charles conta que com o dinheiro curto, enviou os projetos para editais públicos de fomento ao audiovisual. Primeiro o edital Filme em Minas (extinto), depois o Rumos Itaú Cultural. “Com o projeto aprovado nos editais e a verba em mãos, vamos à aldeia e fazemos com os índios em oficinas de ilustração para os filmes”, explica ele.

Depois de prontos os filmes, falados na língua Maxakali e legendados em português, espanhol e inglês, são enviados para mostras e festivais no mundo todo, mostrando a cultura indígena. Já foram mais de 100 participações.

E os esforço não foi em vão, pois os filmes receberam diversas premiações no Brasil e no exterior.

Konãgxeka: O Dilúvio Maxakali

(Pajé Filmes, Brasil, 2016, 13min) Projeto aprovado no Edital Filme em Minas

Sinopse:
Konãgxeka na língua maxakali quer dizer “água grande”. Trata-se da versão maxakali da história do dilúvio. Como um castigo, por causa do egoísmo e da ganância dos homens, os espíritos yãmîy enviam a “grande água”. Um dos diretores é representante do povo indígena Maxakali, de Minas Gerais. O argumento do filme é o mito diluviano do povo Maxakali. As ilustrações para o filme foram feitas por indígenas, durante oficina realizada na Aldeia Verde Maxakali, no município de Ladainha, Minas Gerais.

Equipe de produção de onãgxeka

Premiações
– Melhor Curta-Metragem no Cine Kurumin, Bahia, 2017;
– Menção Especial do Júri para o Melhor Curta não Estreado na Espanha, Festival Iberoamericano de Cortometrajes ABC (FIBABC), Espanha, 2017;
– Menção Honrosa na Mostra SESC de Cinema, Belo Horizonte, 2017;
– Melhor filme de animação no VI Cinecipó, Belo Horizonte, 2016;- Melhor filme no Festival Cine Memória – MIS Santa Tereza, Belo Horizonte, 2016;
– Melhor Curta Outubro 2016 no Shortcutz Rio de Janeiro, novembro 2016;
– Prêmio Povos Indígenas de Rondônia: Melhor Trilha Sonora, XIV Cineamazônia, 2016.

Mãtãnãg, A Encantada

(Pajé Filmes, Animação, 2019, Digital, Color, 14 min, 16:9) .Projeto aprovado no edital Rumos Itaú Cultural 2017-2018.

Sinopse

A índia Mãtãnãg segue o espírito de seu marido, morto picado por uma cobra, até a aldeia dos mortos. Juntos eles superam os obstáculos que separam o mundo terreno do mundo espiritual. Uma vez na terra dos espíritos, as coisas são diferentes: outros modos regem o sobrenatural. Mas Mãtãnãg não está morta e sua alma deve retornar ao convívio dos vivos. De volta à sua aldeia, reunida a seus parentes, novas vicissitudes durante um ritual proporcionarão a oportunidade para que mais uma vez vivos e mortos se reencontrem. Falado em língua Maxakali e legendado, Mãtãnãg se baseia em uma história tradicional do povo Maxakali. As ilustrações para o filme foram realizadas em oficina na Aldeia Verde, no município de Ladainha, em Minas Gerais.

Premiação
 – Melhor Animação no I FestCurtas Fundaj 2020, Recife, Brasil;
– Menção Honrosa do troféu “O Kaiser”’ de Melhor Animação, da Associação Brasileira de Cinema de Animação (ABCA), no XXXI Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo – Kinoforum, Brasil, 2020;
– Menção Honrosa do Prêmio Especial do Júri na IV Mostra Guarufantástico, São Paulo, Brasil, 2020;
– Prêmio Acari Passos de Melhor Obra Audiovisual de Curta-metragem, no XXI Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (FICA 2020), Goiás, Brasil;
– Grande Prémio Egídio Sales Filho de Curta-metragem, concedido pela Escola Superior Artística do Porto (ESAP), no V FICCA – Festival Internacional de Cinema do Caeté, Pará, Brasil, e Porto, Portugal, de 8 a 10 de dezembro de 2020;

– Troféu Curta Brasília de Melhor Filme Nacional pelo Júri Popular no IX Festival Internacional de Curta-metragem de Brasília, 2020;
Menção Honrosa do Prêmio Cine França Brasil, oferecido pela Embaixada da França, no IX Festival Internacional de Curta-metragem de Brasília, Brasil, 2020;
– Melhor Filme Infantil, no IX Cinecipó – Festival do Filme Insurgente, Minas Gerais, Brasil, 2020.

Nossos irmãos Maxakalis

Atualmente, o povo Maxakalis é integrado por cerca de 2.000 indivíduos, residindo em quatro territórios mineiros. Aldeia Água Boa, no município de Santa Helena de Minas; Aldeia Pradinho, no município de Bertópolis. E as Aldeias Verde e Hãmkutok – Filho da Terra, no município de Ladainha, próximo a Teófilo Otoni.

Eles ainda preservam a língua Maxakali e utilizam o português como segundo idioma para se comunicar com as visitas ou realizar atividades fora das aldeias.

Pajé Toto Maxakali

  Sua religião se baseia nos espíritos yãmîy, que significa “canto” e “espírito”. Yãmîy, os cantos sagrados, são usados em seus rituais e encontros de espíritos cantores. Para cada divindade Maxakali (animas, pássaros, insetos e figuras míticas), há pelo menos um canto correspondente.

O professor comenta sobre a falta de conhecimento da população sobre a cultura indígena, que muitas vezes é desrespeitada e pouco compreendida, especialmente pelo que é divulgado pela grande mídia.

Aldeia Verde

“Os indígenas precisam do que todos nós precisamos, reconhecimento e respeito. Mas isso passa pelo conhecimento que adquirimos sobre eles. Aos poucos, cada vez mais, os indígenas vêm ganhado respeito, à medida em que têm um espaço mais positivo na mídia e em outros lugares, ao se apresentarem com dignidade através de sua arte e cultura.

Charles e Santa Tereza

Morando no bairro há 11 anos, Charles comenta: “Gosto muito daqui. Apesar de ter crescido no Sagrada Família, sempre frequentei Santa Tereza. É um lugar agradável, cheio de coisas e pessoas interessantes. Considero um privilégio poder viver aqui e aproveitar aquilo que o bairro oferece, como uma ótima localização, um variado comércio e atrações culturais”.

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