*Por Sérgio Mitre
Há uma citação famosa do Eduardo Galeano, na qual ele afirma que “os cientistas dizem que somos feitos de átomos, mas um passarinho me diz que somos feitos de histórias”. Como creio muito nessa verdade, hoje o tempo me acrescentou mais uma.
Lá vem o meu filhote Pablo, com aquela cara de pensador que só ele:
– Pai, o que é o diabo? Pergunta.
– Eita diacho, respondo, enquanto respiro, engulo seco, engasgo e tento pensar, tudo ao mesmo tempo. Sabem, pânico? Pois bem, saiu tudo meio embolado e atabalhoado.
– Diabo é… é a… a representação de uma coisa ou pessoa má, é a representação do mal.
Olhos arregalados de quase seis anos de pura curiosidade me fitam, meio assustados. Penso comigo “o que será que o garoto já escutou por aí” a respeito. Então pergunto:
– Mas por quê você quer saber isso agora?
– Porque eu não sei.
Tão simples. Nessa simplicidade encantadora e contagiante, esse desejo de saber e descobrir os mistérios do mundo, que tem essas crianças, pequenas e filosóficas. É a vida, ávida de entender-se.
Eis que vem uma luz, lembro da frase do escritor uruguaio e tudo se resolve.
– É uma história, Pablo. O diabo é uma história e ele, o diabo, é o personagem malvado dessa história onde ele aparece.
Saiu satisfeito com a resposta. Pensativo. Acho que mais tarde devo ter que acrescentar mais umas histórias ao tempo da duplinha.
No final, acho que somos isso mesmo: um acúmulo de pequenas historinhas, riscadas em pó de estrelas, num livro chamado tempo. Onde existimos e teimamos em dar nomes às coisas e aos mistérios que apenas representam outras coisas e outros mistérios. Letras na caligrafia da vida, que descolorirá.
*Sérgio Mitre: antes de mais nada é pai dos gêmeos Pablo e Violeta, morador de Santa Tereza, historiador, contador de causos e poeta.