Ficou linda a nova pintura do sobrado na esquina da Mármore com Adamina, famoso antigamente por ser o ponto da seresta no bairro de Santa Tereza. Muitas foram as cores que cobriram suas paredes.
Construído na década de 40, o sobrado integra a área de tombamento do bairro. Lá funcionou também o Clube dos 50, o Clube Recreativo Santa Tereza, que promovia apresentações de teatro, bailes e Carnaval.
Em 1946, o Clube Recreativo e Teatral de Santa Tereza, criado por Manoel Teixeira, teve alguns problemas financeiros e foi socorrido por José Augusto da Paixão, um comerciante do bairro. José Augusto levou o Clube Recreativo para o sobrado da Rua Adamina, onde funcionou por alguns anos realizando bailes, carnaval e teatro. Mais tarde, o Clube mudou para outro local e depois para sua sede própria à Rua Estrela do Sul.
Na época do Clube Recreativo e Teatral, o local recebia apresentações de teatro até de gente famosa, entre os quais o ator carioca Procópio Ferreira, pai da atriz Bibi Ferreira, e também da atriz francesa Henriette Morineaux, que passou a morar no Brasil em 1936.
O local foi também sede da Escola do Professor Machado, do Partido Social Democrático, Clube dos 50, , Sobradão da Seresta (décadas de 70 e 80). Salão Grená (década de 2000). Já foi pizzaria, bar e atualmente lá funciona o Restaurante 450, que agregou um parkelet na entrada
Na época das serestas e bailes com música ao vivo, era frequentado por políticos e artistas. Era lá que o pé de valsa, ex-prefeito de BH e presidente da república, Juscelino Kubitschek mostrava seus dons de dançarino. Quem ia muito lá também era o ex-prefeito de BH e Amintas de Barros e o jornalista e advogado Pedro Aleixo, que no período da ditadura foi vice-presidente de 1967 e 1969.
As lojas há mais de 43 anos abrigam Depósito de Material de Construção. Primeiro foi depósito Toledo e depois Santana, do Seu Dirceu, que está ali há 20 anos.
Muita gente já dançou naquele espaço, como o professor aposentado e morador do bairro, Cláudio Procópio, que “pulou” muito carnaval lá. A Rosa Passos conta que sua comemoração de aniversário de 30 anos foi lá também e que seria os de 60 este ano, mas com a pandemia teve de ser cancelado.
Segundo a arquiteta Ana Beatriz Mascarenhas, um sobrado deste tipo apresenta muitas variações, contando com dois até quatro pavimentos. Geralmente, o uso tradicional é o misto, sendo o pavimento térreo de uso comercial e os superiores, residencial.
Essa tipologia, ela explica é bastante frequente nas cidades históricas mineiras. Em verdade, o arquiteto Sylvio de Vasconcellos (1916-1979) identifica o sobrado como “tipo básico”[1] da cidade de Ouro Preto. Esses sobrados coloniais urbanos abrigavam um armazém (ou para abrigar criados e animais) enquanto os pavimentos superiores eram ocupados pelas famílias.
Contudo, Ana Beatriz explica que “as semelhanças com a tipologia colonial param por aí. O sobrado em Santa Tereza incorpora tendências do art déco, estiloque marcou o cenário arquitetônico das cidades brasileiras entre as décadas de 1930 e 1940″.
Alguns dos recursos formais que constituem esse estilo, estão presentes no sobrado a platibanda[2] escalonada, vãos das janelas e portas em formato retangular, além de ornatos em alto ou baixo relevo, representando formas geométricas.
Referências
Góes, Luis – Teatro Ideal
CORREIA, Telma de Barros. Art déco e indústria – Brasil, décadas de 1930 e 1940. Disponível em: < https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-47142008000200003>. Acesso em: 10, set., 2020.
PEREIRA COSTA, Stael de Alvarenga; GIMMLER NETTO, Maria Manoela. Fundamentos de morfologia urbana. Belo Horizonte: C/ Are, 2015.
[1] Tipo básico expressa o conceito de habitação, ou seja, um tipo de construção que segue um conjunto de regras comuns a um local e tempo específicos (PEREIRA COSTA. GIMMLER NETTO, 2015)
[2] faixa horizontal que emoldura a parte superior de um edifício cuja função é esconder o telhado.