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Até onde vai a solidariedade?

 por Luis Borges ,  29 de julho de 2020  Pensata publicado primeiro no blog http://observacaoeanalise.com.br/


Estamos no quinto mês de enfrentamento da pandemia da Covid-19 encarando as conseqüências das perdas e danos, ainda que sejam mais para uns e menos para outros. A grande desigualdade na distribuição de renda se escancara mostrando que quanto pior, pior mesmo. A estratégia de sobrevivência exige que se encare um dia de cada vez diante do horizonte próximo cheio de incertezas.

A palavra solidariedade tem sido uma das mais faladas durante essa pandemia, principalmente no seu início quando pegou todo mundo de surpresa. Mas quais são as expectativas e as percepções que temos em relação às práticas solidárias em prol do bem comum? Será que essas ações estão conseguindo se sustentar ao longo do tempo ou são apenas uma força auxiliar para minimizar as lacunas geradas pelo sistema capitalista em que vivemos?

Distribuição de marmitas do Menu Compartilha na Vila Dia, em Santa Tereza

Para ajudar a nossa reflexão podemos encontrar no Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa um significado para a palavra solidariedade nos verbetes a seguir: “um sentimento de simpatia, ternura ou piedade pelos pobres, pelos desprotegidos, pelos que sofrem, pelos injustiçados etc” e “manifestação desse sentimento, com o intuito de confortar, consolar, oferecer ajuda etc”. No mesmo dicionário também podemos buscar o significado de outra palavra citada com freqüência que é a compaixão“sentimento piedoso exclusivamente humano de simpatia para com a tragédia pessoal de outrem, acompanhado do desejo de minorá-la; participação espiritual na infelicidade alheia que suscita um impulso altruísta de ternura para com o sofredor”.

Nesse sentido destaco, entre fatos e dados divulgados pela mídia no mês de julho, uma entrevista de Gilson Rodrigues, Coordenador nacional do G10 Favelas ao Portal UOL.

“Durante o mês de abril nós recebemos uma série de ajudas de um movimento muito grande de solidariedade no Brasil, que ajudou não só Paraisópolis, mas favelas do Brasil inteiro. Mas nós percebemos a partir de maio e junho que a ajuda diminuiu e, em julho, as doações praticamente pararam.” […]

“Parece até que a gente não sofre outras conseqüências da Covid, como por exemplo, o desemprego e a fome, que aumentou bastante. Para você ter idéia, nós distribuíamos mais de 10 mil marmitas por dia, e às vezes as marmitas acabam e a fila continua. É um desafio muito grande manter esse trabalho e nós não acreditamos em um Brasil diferente ou mais solidário se isso não iniciar agora. Não existe um pós pandemia ou um novo normal sem que a gente pense o normal da favela”.

Se estamos passando do pico para o platô da pandemia vai ficando claro que precisamos de outras medidas mais permanentes do Estado que substituam o auxílio emergencial, por exemplo, pela garantia de uma renda mínima mensal. A solidariedade entre as pessoas é importante, mas não é suficiente pela sua própria natureza.

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