Nada de importante - Santa Tereza Tem
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Nada de importante

Por Sérgio Mitre *

No feriado de Corpus Christi, e em outras ocasiões, algumas pessoas tem relaxado o isolamento. Muitas vezes, sem os devidos cuidados, confundidos pela notícias falsas acerca da gravidade da pandemia e sobre a transmissão do vírus.

Hoje, doninha (vou omitir o nome), uma vizinha, simpática e velhinha, de 83 anos, está na UTI com covid. As duas filhas também estão com covid, mas assintomáticas. Outros membros da família também foram infectados.

Para a doninha, infelizmente, uma visita, um deslize, um desses relaxamentos pode ter sido fatal. Estava confusa, foi sedada, estamos torcendo pelo seu retorno.

.Acordei mais triste. Mas segue a vida, num país onde mais de 80 mil foram interrompidas abruptamente em 4 meses. O Brasil e o brasileiro morrem pelo desdém que tem por si mesmos, pela própria vida e pela vida dos outros.

Pra muita gente foi uma vez e nunca mais. Cuidem-se. cuidem dos outros. Hoje, cuidado e amor se confundem. Importem-se! Refaçamos da vida um valor.

Obs: Minha vizinha não resistiu. Estou doído, condoído, mortificado. Que tristeza, que lástima. Hoje sou só lágrimas.

“Não tenho mais vizinha na janela”

Não vai mais

Quem vai reclamar dos vasos em cima do muro?
“Mas são flores” vizinha.
Então pode
Quem vai jogar meus vasos no chão?
Quem vai me confundir com um ex-vizinho chato e me dizer impropérios, até se lembrar de mim e de si e mudar a prosa?
Quem vai perguntar das crianças, reclamar que a gente mora no fundo e ela não as escuta?

Não tenho mais minha vizinha da janela. Não vai mais me contar as histórias de Santa Tereza, da minha casa, da casa dela.
.
É muita coisa que morre quando morre alguém. Triste é tratar as mortes como ninguém.

*Sérgio Mitre, historiador, morador de Santa Tereza e convivendo de perto com a Covid 19.

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