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O São Pedro do povo

Por Carlos Felipe Horta

Um dos santos mais presentes no devocionário e no folclore brasileiro, São Pedro, a quem Cristo escolheu para governar a sua Igreja, tem, no meio do povo, um espaço privilegiado.

Protetor das viúvas e das pessoas mais velhas, padroeiro dos pescadores e dos marinheiros, Pedro é objeto de “estórias e mais estórias” no lendário popular.

Quem nunca ouviu falar, por exemplo, do pedido que fez para que Cristo levasse sua mae – viúva- para o céu? Ou o famoso caso dele andando sobre as águas e de repente começar a afundar e ter que ser socorrido por Cristo? Ou o caso em que não conseguiu contar quantas galinhas estavam no galinheiro? Ele é realmente uma pessoa querida e até os casos evangélicos o tornam mais próximo de cada pessoa.

Era um santo que tinha medo como qualquer um de nós, mas também tinha rompantes de cortar a orelha de Malco ou a pedir a Cristo que deixasse colocar tendas perto do Monte das Oliveiras. Pedro, no Evangelho e nas “estórias”, pode-se dizer, era um ser humano. E talvez tenha sido esta sua humanidade que levou Cristo a colocá-lo na frente da sua Igreja.

Pintura de Perugino: Cristo entrega as chaves da igreja para Pedro

Em que, além da procura do céu, há que se pensar no homem na terra, com seus problemas, defeitos, erros, acertos e qualidades. É só ver, hoje, o exemplo do Papa Francisco.

Com seu jeito humano de ser ajudou a colocar no mesmo trilho, Cuba e Estados Unidos. Chega mesmo a dizer- para escândalo dos “santos”- de que é possível haver mesmo dificuldades na continuidade de certos casamentos e de que há pensar nos que, aparentemente, não se enquadram nos padrões dos “justos que dominam a verdade”. Francisco, de algum modo, é um ser humano como Pedro. Chega até a gostar de futebol. Considerações à parte, Viva São Pedro, em seu dia, hoje.

Nos intrometendo, para ilustrar o texto de Carlos Felipe, publicamos abaixo o poema de Manuel Bandeira, e a composição de Martinho da Vila, onde o santo é requisitado, como o São Pedro do povo, realmente.

Irene no céu
(Manuel Bandeira)

Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor.
Imagino Irene entrando no céu:
— Licença, meu branco!
E São Pedro bonachão:
— Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.

Assim não, Zambi (Marinho da Vila)

Quando eu morrer
Vou bater lá na porta do céu
E vou falar pra São Pedro
Que ninguém quer essa vida cruel

Eu não quero essa vida não Zambi
Ninguém quer essa vida assim não Zambi

Eu não quero as crianças roubando
A veinha esmolando uma xepa na feira
Eu não quero esse medo estampado
Na cara duns nêgo sem eira nem beira

Asbre as cadeias
Pros inocentes
Dá liberdade pros homens de opinião
Quando um nêgo tá morto de fome
Um outro não tem o que comer
Quando um nêgo tá num pau-de-arara
Tem nego penando num outro sofrer

Eu não quero essa vida não Zambi
Ninguém quer essa vida assim não Zambi

Quando eu morrer
Vou bater lá na porta do céu
E vou falar pra São Pedro
Que ninguém quer essa vida cruel

Eu não quero essa vida não Zambi
Ninguém quer essa vida assim não Zambi

Deus é pai, Deus é filho, Espírito Santo é Zambi
Eu não quero essa vida não Zambi
Clementina é filha de Zambi
Eu não quero essa vida não Zambi

Ninguém quer essa vida assim não Zambi

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