Por Jorge Fernando dos Santos
Milhares de espécies de plantas e animais foram dizimadas pelos sapiens (Wikipedia)
Se uma raça alienígena invadisse a Terra com o propósito de se apropriar de suas riquezas, certamente teria que exterminar a humanidade. Para tanto, não seria necessário travar uma guerra, como nos filmes de ficção científica. Bastaria envenenar a atmosfera com um vírus desconhecido. Mesmo assim, é quase certo que muita gente sobreviveria.
O coronavírus não veio de outro planeta, mas é como se fosse um alienígena recém-chegado. Em momentos como este, temos muito o que aprender. Em primeiro lugar, ter paciência e meditar sobre a nossa insignificância e a necessidade de sermos solidários. Em segundo, lembrar que os sapiens sempre venceram seus inimigos naturais.
Ao contrário do que muita gente pensa, a natureza não é boa nem justa. A única lei que nela prevalece é a da sobrevivência, e nisso nós somos campeões. No best-seller Sapiens – uma breve história da humanidade, Yuval Harari afirma que a migração humana iniciada com a revolução cognitiva, há cerca de 70 mil anos, mudou a paisagem planetária.
Não é difícil seguir o rastro de destruição deixado por nós ao longo de nossa jornada sobre a face da Terra. É quase certo que tenhamos contribuído inclusive para o extermínio de outros humanos, entre eles os neanderthalensis, na Eurásia. A revolução agrícola, há mais ou menos 12 mil anos, consolidaria o nosso divórcio do “paraíso perdido”.
Resistência milenar
Das savanas africanas à Austrália e ao continente americano, milhares de espécies de plantas e animais foram dizimadas pelos sapiens em sua marcha pela sobrevivência. A começar pelos grandes mamíferos, como o mamute, o tigre dente de sabre e a preguiça gigante. Ainda hoje ameaçamos as baleias e vários biomas em diferentes países.
É provável que as grandes epidemias que sempre desolaram a humanidade tenham sua origem justamente na ocupação de territórios inóspitos. Se os índios foram contaminados com estranhas enfermidades trazidas pelos navegadores europeus, estes levaram a sífilis para o Velho Mundo.
O coronavírus teria saltado de uma espécie de morcego para os seres humanos. Um fator alarmante é o seu alto nível de transmissibilidade. Além disso, tem apresentado mutações, o que certamente adiará a descoberta de uma vacina. Contudo, cedo ou tarde, a ciência vencerá o desafio.
O Homo sapiens sobreviveu a doenças e cataclismos desde as suas origens. Mesmo susceptível a vírus e bactérias, tornou-se a espécie mais resistente do planeta. Superou várias pandemias, como a Peste Bubônica e a Gripe Espanhola. Manter o isolamento faz parte da estratégia de luta. Apesar das muitas mortes, a Covid-19 não vai nos aniquilar.
Jorge Fernando dos Santos é colaborador voluntário do Santa Tereza Tem. Jornalista, escritor, compositor, tem 44 livros publicados. Entre eles Palmeira Seca (Atual), Prêmio Guimarães Rosa 1989; ABC da MPB (Paulus), selo altamente recomendável da FNLIJ 2003; Alguém tem que ficar no gol (SM), finalista do Prêmio Jabuti 2014; Vandré – o homem que disse não (Geração), finalista do Prêmio APCA 2015; e A Turma da Savassi (Miguilim).