Reportagem: Brígida Alvim / INSEA
Fotos: Gilberto Chagas / MNCR
Uma boa notícia para as cooperativas de catadores de recicláveis, que após anos de luta, conseguiram que a prefeitura de Belo Horizonte transferisse para estas organizações a coleta seletiva dos 36 bairros, onde o recolhimento é realizado.
Assim, desde o dia 16 de setembro, a coleta seletiva porta a porta da cidade passou a ser feita por associações e cooperativas de catadores de materiais recicláveis.
Atualmente, este serviço porta a porta é realizado de segunda-feira a sábado, atendendo a aproximadamente 388 mil habitantes. Nos primeiros 30 dias de coleta seletiva feita pelas cooperativas, os motoristas serão acompanhados por funcionários da SLU, até que memorizem a rota. Após este período, uma campanha de mobilização social será feita com os moradores atendidos pelo serviço, visando aumentar o número de adeptos da coleta seletiva.
Infelizmente, Santa Tereza não está incluída na coleta seletiva feita pela SLU. No bairro a coleta é feita de forma autogestionada, por meio da Rede Lixo Zero Santa Tereza, sem reconhecimento e apoio da SLU.
Seis organizações integrantes do Fórum Municipal Lixo e Cidadania do município foram contratadas pela Superintendência de Limpeza Urbana – SLU para executar a mão de obra, enquanto a autarquia continua responsável pelo planejamento e fiscalização do serviço.
Entrega das chaves dos caminhões
A entrega das chaves de seis caminhões compactadores para a atividade foi feita às cooperativas pelo prefeito Alexandre Kalil e o superintendente de Limpeza Urbana, Genedempsey Bicalho Cruz, no dia 16 de setembro, no Parque Municipal. A iniciativa beneficia diretamente 200 catadores.
Segundo Vilma Stevam, presidente da Coopesol Leste, “por experiência própria, posso dizer que a contratação de cooperativas e associações dará mais credibilidade ao serviço, porque as pessoas gostam de ver a coleta seletiva feita por catadores e ter a certeza de que os materiais irão para galpões de reciclagem. Por isso, a adesão da população à coleta seletiva é maior do que quando é prestada por empresas terceirizadas”.
“Incluir catadoras e catadores na prestação do serviço de coleta seletiva é uma das políticas públicas mais louváveis, por garantir às pessoas a chance de sobreviverem do próprio trabalho e não de assistencialismo. Este é um momento de grandeza para as cooperativas e associações, que conquistaram esse direito após mais de 30 anos de luta”, declara Maria Madalena Rodrigues Duarte Lima (Madá), diretora da Rede Cataunidos – Cooperativa de Reciclagem da Rede de Economia Solidária.
O INSEA-Instituto Nenuca de Desenvolvimento Sustentável, com sede em Santa Tereza e integrante da Rede Lixo Zero Santa Tereza, atuou como parceiro e apoio técnico das cooperativas e associações ligadas à Rede Cataunidos, para a contratação da SLU, juntamente com o Observatório da Reciclagem Inclusiva e Solidária – ORIS
Para o diretor presidente do INSEA, Luciano Marcos Silva, a contratação e pagamento dos serviços de coleta seletiva é um passo fundamental para garantir o reconhecimento dos catadores como prestadores de serviços da limpeza pública e torna Belo Horizonte um exemplo para todo país.
De acordo com a diretora de Gestão e Planejamento da SLU, Patrícia de Castro Batista, a contratação das cooperativas representa um grande avanço social, uma vez que com a nova receita vinda da prestação do serviço, elas terão condições de crescer e de agregar mais cooperados, tirando da informalidade catadores que fazem o serviço de forma avulsa, estando a maioria em situação de rua.
A Coopesol Leste é a responsável pela coleta seletiva do bairro Floresta, que até então era a única prestada por catadores com contratação de serviço pela Prefeitura. E foi essa experiência positiva que inspirou a contratação das outras organizações.
Andrea Frois, diretora de Operações da SLU, conta que o que motivou a contratação de associações e cooperativas para a coleta seletiva porta a porta em Belo Horizonte foi a experiência piloto da Coopesol Leste no bairro Floresta. Iniciada há cinco anos pela cooperativa com o apoio dos moradores do bairro, a experiência mostra que a participação direta de catadores resulta em maior qualidade de materiais (mais reaproveitamento e menor índice de rejeitos, que são materiais sem reciclabilidade e sem mercado).
Outro motivo, segundo a diretora, é que a inclusão qualificada de catadores na coleta seletiva da cidade é uma diretriz de governo do prefeito Alexandre Kalil, que assumiu esse compromisso no inicio de sua gestão, em 2017.
A SLU também reconhece a competência das organizações de catadores nas campanhas de conscientização da população. E, com a certeza de uma parceria promissora, planeja a ampliação da coleta seletiva no município. “Nossa perspectiva é de até o fim deste ano adicionar 11 novos bairros na rota de coleta seletiva porta a porta da cidade”, afirma a diretora de operações, Andréa Frois.
Mãos à obra
Seis cooperativas agora são responsáveis pela coleta seletiva de Belo Horizonte: Asmare (Associaçao dos Catadores de Papel, Papelão e Material Reaproveitável); Associrecicle (Associação dos Recicladores de Belo Horizonte), Coomarp (Cooperativa dos Trabalhadores com Materiais Recicláveis da Pampulha Ltda); Coopemar (Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis da Região Oeste de BH); Coopesol (Cooperativa Solidária de Trabalhadores e Grupos Produtivos da Região Leste) e Coopersoli (Cooperativa Solidária dos Recicladores e Grupos Produtivos do Barreiro e Região).