Por Júlia Duarte
Reciclar é a palavra de ordem e em uma ação pioneira o bairro Santa Tereza, está implantando o projeto piloto do programa “Lixo Zero Santa Tereza”. O programa reúne um conjunto de estratégias e ações, que mobilizam moradores e propõe um novo olhar sobre o que descartamos.
O projeto conta com um grupo de pessoas e instituições do bairro, moradores e a Escola Municipal Prof. Lourenço de Oliveira (EMPLO), a Associação dos Moradores do Bairro, o Instituto Nenuca, o Santa Tereza Tem e por último agora o Colégio Tiradentes. Tem ainda o apoio da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Coopesol Leste. Esta última é peça fundamental neste projeto, pois é de sua responsabilidade o trabalho braçal de coletar, fazer a triagem e dar o destino correto aos recicláveis produzidos no bairro.
Sobre a Coopesol Leste
A história da Cooperativa começou em 2003, com 200 cooperados, que trabalhavam com artesanato, produziam salgados e participavam de feiras de economia solidária. Por não contar sede própria, o trabalho ficou difícil de ser realizado, carecendo de uma melhor organização e formalização. A partir disso, os cooperados buscaram parceiros e conhecimento técnico, conseguindo em 2010 a construção do galpão, onde funciona atualmente, no bairro Granja Freitas, na região Leste. A fundadora da cooperativa e atual presidente, Wilma Da Silva Esteva, conta que “o começo foi desafiador, principalmente porque quem procurava a cooperativa para trabalhar pensava que ganharia dinheiro rápido e que não era necessário nenhum tipo de organização. Quando viram que era um trabalho sério, poucos ficaram”.
Hoje, 15 anos depois, a cooperativa, que mudou o seu perfil, focando na coleta seletiva, é integrada por 29 cooperados, um número bem menor, mas com garra para o trabalho, segundo Wilma. Eles contam dois caminhões baú para fazer a coleta no bairro em parceria com a Rede Lixo Zero de Santa Tereza, desde novembro de 2017. Além disso, a cooperativa recebe materiais coletados pela SLU(Superintendência de Limpeza Urbana) e por entregas voluntárias.
Trabalho em equipe
Nas manhãs de segunda-feira, Samuel Filipe, Gildair Pereira dos Santos e o motorista Benedito Esteva saem para a coleta dos resíduos em Santa Tereza. No trajeto já pré-definido recolhem em média 1200kg de material, que são transportados até o galpão. Lá, já está a postos Claudiene Gregori, responsável pela triagem, para dar início a separação, papel, vidro, plástico.
Claudiene Gregori observa que, apesar dos moradores separarem os resíduos, mesmo assim cerca de 5% do que chega até o galpão ainda é composto de material não reciclável, rejeito que deveria ser destinado ao aterro, o que atrasa bastante seu trabalho e ainda traz riscos à sua saúde. Por isso ela faz um pedido aos moradores usuários da coleta seletiva: “não coloquem os resíduos comuns no mesmo saco que dos recicláveis. Eles devem ser colocados na rua para a coleta comum, feita pelo caminhão da SLU”.
Outra ação que contribui para um melhor desempenho dos funcionários da cooperativa é o morador colocar na rua somente o que será recolhido naquele horário. Por exemplo, segunda de manhã é hora da coleta seletiva, então coloque fora apenas os sacos que contém os resíduos recicláveis. À noite, horário da coleta comum, é que devem ser deixados os outros, como os orgânicos (restos de comida, plantas), por exemplo. São ações simples, mas que facilitam o trabalho dos profissionais.
Coleta em Santa Tereza e a boa vizinhança
Para quem é novo no bairro ou ainda não sabe ao certo onde é feito a coleta, a Rede Lixo Zero preparou um mapa explicativo da rota para ninguém ficar de fora. Lembrando que a rota pode ser ampliada, dependendo apenas da iniciativa dos moradores que podem entrar em contato com a Associação do Bairro e solicitar que sua rua seja atendida. Para solicitar a coleta em um estabelecimento é necessário no mínimo 400kg de material para que o serviço seja viável. Além disso, a cooperativa, recebe os materiais em sua sede, localizada no Bairro Granja Freitas e está a disposição para parcerias com eventos e festivais, como por exemplo, o Mercado Vivo + Verde, realizado no Mercado de Santa Tereza.
Durante os dois últimos eventos realizados em janeiro e abril todo o lixo produzido pelos visitantes e feirantes (copos e pratos descartáveis, papel, garrafas, latinhas e restos de comida) foram recolhidos e processado pela Rede Lixo Zero. O lixo orgânico se transformou em adubo.
O Santa Tereza Tem acompanhou uma manhã de trabalho da cooperativa, desde a saída do caminhão até o recebimento do material na Sede da Cooperativa.
Durante o percurso, ouvimos histórias dos 15 anos da cooperativa, principalmente das dificuldades enfrentadas no começo como, por exemplo, a a falta de reconhecimento. Hoje, falam com um sorriso sobre as amizades feitas entre os moradores de Santa Tereza, “alguns até preferem entregar o material de direto para nós, e aproveitar para colocar o papo em dia”. “São os sorrisos que encontramos pelo caminho que fazem o trabalho agradável” diz Gildair.