Figura conhecida há 23 anos, em Santa Tereza, Carlos Geraldo Ferreira, o florista do bairro, não mais tem sido visto, vendendo suas flores de casa em casa ou enfeitando com seu carrinho colorido a Praça de Santa Tereza. Muita gente, principalmente seus fregueses e freguesas, tem se perguntado, cadê o Carlos? Ele está sumido porque suas flores foram apreendidas pelos fiscais da prefeitura, já que, segundo o Código de Posturas de Belo Horizonte, é proibido vender este tipo de produto na rua.
A apreensão deu-se na véspera do Dia dos Namorados, em junho, quando ele seguia pela Rua Mármore, para mais um dia de trabalho. Depois disso ele, com dívidas assumidas pela compra das flores e da multa de R$ 600,00, tenta arranjar um emprego, mas aos 54 anos e sabendo apenas cuidar de flores fica difícil. “Está complicado, pois criei minha família com este carrinho e cuidando de jardins. Sem mercadoria para vender de porta em porta, perdi o contato com as pessoas e fiquei também sem o trabalho de jardineiro. Estou muito chateado, pois é como sei ganhar a vida,” lamenta o abatido Carlos. “Estou meio perdido. Por 23 anos andando pelas ruas do bairro, já conheço todo mundo e fora daqui, estou sem lugar”, diz ele, mostrando, enquanto caminhamos, os diversos jardins feitos por ele e recebendo apoio das pessoas pelas quais passamos.
Ele já esteve na Regional, por duas vezes para legalizar a sua atividade e trabalhar tranquilo, mas conta que “a resposta que tive na Regional Leste é que não posso ter a licença”. Não entendo, por quê?
O gerente regional de fiscalização integrada 2 Leste, José Carlos Costa, responde que a atividade de vendedor de flores, de acordo com a Lei 8616, artigo 118, do Código de Postura do Município, não é passível de licenciamento e é considerada ilegal. Por isso a mercadoria pode ser apreendida pelos fiscais e para ter os produtos de volta a pessoa autuada precisa pagar uma taxa.
José Carlos Costa explica que no caso de venda de flores, há credenciamento apenas em situações especiais, como por exemplo, no Dia de Finados, na porta dos cemitérios. Sobre o caso específico do Carlos, o gerente de fiscalização, explica que ele não pode parar com seu carrinho na Praça, porque também é proibido obstruir os logradouros. Entretanto, ele se prontificou a conversar pessoalmente com o Carlos, para esclarecer a situação.
Vamos cobrir Santê de flores
Esse é o nome do evento, criado no Facebook, que irá reunir os amigos e clientes do florista Carlos, no dia 01 de novembro, domingo, às 11h, na Praça Duque de Caxias, em que simbolicamente, cada um irá levar uma flor e manifestar publicamente seu apoio a ele. Durante a manifestação, será feito um abaixo-assinado a ser entregue à Regional Leste, solicitando a liberação para que ele de volte a enfeitar as ruas com suas flores e ganhar a vida com seu trabalho.
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Durcelina Ventura Lasmar, nutricionista aposentada, conta que “há 13 anos, compro plantas do Carlos, que já se tornou amigo da família. Olha só o meu jardim como está bonito! Ele trouxe as mudas e plantou. É uma pessoa, que ganha a vida de forma honesta e esta é sua profissão. Ele tem de voltar e nos atender, trazendo novas flores. Ele é um patrimônio do bairro”.
Idalina Portugal conta que há cinco anos encontrou o Carlos sem suas flores por não ter onde guardar o carrinho. “Então, ofereci, mesmo sem conhecê-lo bem, para guardar em minha casa. Ele ficou muito feliz e iniciou seu trabalho, comprou as flores e foi à luta. Os fiscais levaram todo seu investimento, luta e esperança, até minha garagem está triste, vazia, sem flores. Ele já faz parte de Santa Tereza, é um patrimônio do bairro.”
Celuta Castanheira veio do interior, morar em Santa Tereza, há 40 anos. Ela está revoltada com a situação do Carlos e diz que “todos nós gostamos muito do Carlos, uma pessoa de confiança e trabalhadora. Nem sei precisar quanto tempo tem que compro flores em sua mão. Todas as plantas da minha casa vieram do seu carrinho. Isso não é justo! Estarei lá na Praça no domingo sem falta.”.
A dona de casa Maria Luísa Andrade mostra orgulhosa o seu jardim e comenta que “foi feito pelo Carlos. Isso que aconteceu é muito errado, porque estão tirando o trabalho de uma pessoa do bem, que ganha a vida com honestidade”.
Fotos e texto: Eliza Peixoto