O Bloco Inocentes de Santa Tereza carrega uma tradição de mais de quatro décadas, que tem atravessado gerações e marcado presença no Carnaval de Belo Horizonte desde 1973, tanto na avenida de desfile de blocos e escolas de samba da cidade, quanto na folia do bairro. Um dos primeiros blocos a serem fundados no Santa Tereza, e hoje o mais antigo em atividade, o Inocentes orgulha-se de seu berço e evidencia a paixão na escolha do tema para este ano: “Clube da Esquina – Sou do Ouro, sou Minas Gerais. Santa Tereza não te esqueço nunca mais”.

O desfile oficial será na segunda-feira de Carnaval, 16 de fevereiro, na avenida Afonso Pena, centro. No dia seguinte, 17 de fevereiro, o bloco desfila pelo bairro, apresentando Os Inocentes e a Santê, cortejo organizado para alegrar os moradores de Santa Tereza. 

Ângelo Lima, mais conhecido como Panttyola, é o atual dirigente. Nascido e criado em Santa Tereza, ele assumiu a missão de levar adiante o legado dos fundadores do bloco, jovens amigos e vizinhos, que no início da década de 1970 decidiram fretar um caminhãozinho e pleitear um lugar no carnaval da cidade. “Naquela época o desfile era feito por operários, que eram todos adultos. Os meninos de Santa Tereza tinham na faixa de 13 a 15 anos, mas mostraram que sabiam fazer Carnaval e foram aceitos. A partir daquele ano, o bloco passou a fazer parte da programação oficial de BH”, relata. 

Panttyola entrou alguns anos após a estreia, em 1977, aos 11 anos de idade, e aprendeu com os mais velhos a tocar os instrumentos, reger a batida, cuidar da alegoria, do figurino, organizar as alas, entre outras funções de um bloco caricato. “Nunca imaginei chegar à frente do bloco, eu só queria ser mais um folião, aprender sobre o carnaval e representar meu bairro. Mas a paixão foi tanta que olha onde estou agora!”, reflete. 

Papel social
Ao longo dos anos, o Bloco Inocentes de Santa Tereza tornou-se um relevante projeto sócio-cultural da região, por beneficiar crianças e adolescentes em condições de riscos sociais. Os participantes são, na maioria, moradores de vilas e favelas dos bairros Santa Tereza, Pompeia, Taquaril, Serra e Santa Efigênia. Eles recebem oficina de percussão e têm a oportunidade de aprender tudo sobre o universo do Carnaval. “Reunimos aproximadamente 100 crianças e adolescentes a cada ano e além de passar técnicas artísticas, trabalhamos lições de cidadania, amor, disciplina. Acreditamos que assim contribuímos para que eles busquem bons caminhos, longe das drogas e do crime”, vislumbra o presidente. 

Incentivando alunos a repassarem os conhecimentos adquiridos aos mais novos integrantes e a assumirem funções na gestão do bloco foi que Panttyola formou sua equipe. Hoje ele conta com alguns de seus pupilos na composição da diretoria, como o Davi, de 20 anos, ex-morador da Vila Dias, em Santa Tereza (atualmente ele reside em Ravena), que entrou para o bloco aos 10 anos de idade. “Cresci dentro do bloco e se não fosse assim não sei se estaria trabalhando e bem encaminhado, porque aqui sempre recebi apoio e bons conselhos. Além disso, eu continuo aprendendo e me realizo ao repassar o que aprendi. O Inocentes é parte da minha história”, conta o jovem, que é auxiliar administrativo e tem emprego em uma indústria de medicamentos.

 Ana Marina Silva, de 11 anos, é moradora da Vila Dias e chegou ao bloco com três aninhos. “Aprendi percussão e já sei tocar todos os instrumentos. Adoro participar dos ensaios e dos desfiles!”, conta a menina. Da família dela, também participam a mãe, a avó, a irmã, um tio e dois primos.  

 “O bloco é o reflexo das nossas ideologias e desejos de um mundo melhor. Nossa intenção não é formar músicos profissionais, mas contribuir para a socialização dos participantes, envolvendo as famílias e fortalecendo vínculos. É muito bom fazer parte dessa história e não deixar morrer uma tradição tão bonita, que alegra e une as pessoas”, avalia Carlos Guilherme, que estreou seus primeiros batuques no bloco e hoje é mestre da bateria e diretor.

 Busca de apoio
As oficinas e ensaios da bateria do Inocentes de Santa Tereza são realizados a partir do segundo semestre de cada ano até o carnaval na Praça Duque de Caxias. Para Ricardo Beltrão, vice-presidente do bloco, a falta de uma sede limita muito a atuação do grupo. “Necessitamos de um espaço de ateliê-escola, para criarmos nossas alegorias e montar os carros de desfile, ensaiar as alas e baterias, guardar todo o material e manter um espaço fixo para as aulas. Se tivermos disponível este espaço, poderemos realizar muito mais atividades e eventos envolvendo a meninada”, analisa.

Ricardo acrescenta que a disponibilização de um espaço tem sido batalhada pelo bloco junto à prefeitura nos últimos anos, ainda sem sucesso. Portanto, iniciativas e pessoas interessadas em contribuir para a manutenção do bloco e do projeto social Inocentes de Santa Tereza podem entrar em contato, pelo email: inocentesdesantathereza@ig.com.br

Serviço:

Desfile do bloco Inocentes de Santa Tereza na Avenida
Dia: 16/02/15, segunda-feira, a partir das 19 horas
Local: Avenida Afonso Pena, centro, BH

Desfile do bloco Os Inocentes e a Santê
Dia: 17/02/15, terça-feira, horário a confirmar
Local: bairro Santa Tereza, com concentração na rua Mármore esquina com rua Grafito, e finalização na Praça Duque de Caxias.

Ouça o samba enredo do Bloco: 

 

Confira a letra da música:

A Felicidade mora em Santa Tereza
Autores: Ricardo Picardi (Kaíka), Marcos Valente, Ewerton de Souza

Vem minha criança, vem para ser feliz
Ouça a voz da sua raiz
Canta Inocentes, salve a realeza ô minha Santa Tereza…

 Nesta noite equatorial, os Inocentes vêm mostrar
Nesta passarela iluminada
A história desta esquina popular

Maria Maria Maria
Anunciou que lá vem o trem azul
No girassol do seu cabelo
Porque eu sou da linda América do Sul 

Maria Maria Maria
Venha ver da janela lateral
Reis e rainhas do maracatu
Abençoando nosso carnaval 

Ai que saudade de tempos que não voltam mais
Clube da Esquina de matizes imortais
No último trem na feira embarquei

 Canoas canoas eu naveguei
Amor escrito em bilhete
Fui caçador de mim e me encontrei

 Sou ouro… Sou Minas Gerais
Santa Tereza, não te esqueço nunca mais.