Santa Tereza Tem Memória: O Barbeiro Moacyr - Santa Tereza Tem
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Santa Tereza Tem Memória: O Barbeiro Moacyr

Moacyr Fraga Nazarete, seu Moacyr da Barbearia, apesar de não trabalhar mais em Santa Tereza, está sempre por aqui.  Figura icônica, é querida por quem conviveu com ele, tanto que a nossa prosa era interrompida toda hora para receber abraços das pessoas que passavam pela porta da barbearia, na Rua Mármore.

Aos 85 anos, brincalhão, ele relembra que veio trabalhar em Santa Tereza, no Salão do Agnelo, em julho de 1961, ainda adolescente.  “Ficava na Rua Mármore, onde hoje é o Chaveiro Luis. Mais tarde montei a minha própria barbearia e foi com tesoura e navalha, que criei meus oito filhos”.

Ele conta que, “nos bons tempos cheguei a trabalhar de 7h às 10 horas da noite e atendia 12 fregueses por dia. Era muita prosa na barbearia. No fim da década de 60 e 70, época dos cabeludos, a turma deixou a barba e o cabelo crescer e aí diminuiu a freguesia. Depois voltou a movimentar de novo. Hoje, o povo faz barba em casa e ficou mesmo só o corte de cabelo”.

Seu Moacyr fala das mudanças na profissão. “Até os anos 70, barbeava os fregueses com navalha. Mas a prefeitura proibiu o seu uso, por que o pessoal não desinfetava direito e infecionava. Pra usar a navalha hoje é preciso ter esterilizador. Eu nunca tive esse problema, porque limpava o fio com bastante álcool. Então passei a usar lâmina, pois era menos complicado”

Cortando os cabelos do sobrinho Marcos, hoje responsável pela barbearia

le observa, sem saudosismos que “a moda do cabelo muda sempre. Já teve o Príncipe Danilo, que era tipo militar, Meia Cabeleira, Cabeleira Cheia, Pgmalião, Surfista, Asas de Pombo. As ferramentas e máquinas também se modificam. Já usei máquina manual, hoje são mais modernas e práticas. Essas coisas passam e a gente vai acompanhando”.

Coisa de família

Seu Moacyr explica que “ser barbeiro é coisa da família Fraga. Aprendi com meu pai, , que atendia os vizinhos nos domingos, lá em Muriaé, onde nasci, em Resplendor, no interior de Minas. Assim, comecei aos 16 anos, então tenho muita experiência”. Ele tem três irmãos cabeleireiros e hoje quase toda família está na profissão, inclusive um dele, Odilon, trabalhou por 10 anos com o Moacyr em Santa Tereza.  “Meu sobrinho Marcos, que ficou com a minha barbearia é um exemplo”.

Na barbearia Fraga o sobrinho Marcos Magno faz questão de, apesar de não usar, expor as máquinas antigas e fotos. A cadeira utilizada ainda é a mesma, uma Ferreti, modelo de 1940, que tem 60 anos.

Para Marcos é importante manter a tradição dos Fraga no bairro. “Esta é uma das razões que me fez vir pra cá e continuar atendendo os antigos fregueses, que se tornaram amigos. Mas os novos são muito bem vindos”, ressalta Marcos.

“Queria morar em Santa Tereza”

“Já morei aqui uma época, em frente à barbearia. Hoje estou em Betim, onde, apesar de aposentado, ainda atendo em casa. Gostaria de morar e continuar trabalhando aqui. Mas temos de mudar algumas coisas na vida, querendo ou não”, lamenta.

Ele considera o bairro um bom lugar pra se morar, apesar da experiência ruim de um assalto e agressão dentro da barbearia.  Fato que acelerou a sua aposentadoria, em 2016.

São 57 anos de Santa Tereza. Andei de bonde, troleibus, monobloco e vi a chegada do ônibus. O melhor era o bonde”. Ele aproveita e  “alfineta” a empresa responsável pela linha. “Já foi bom andar de ônibus aqui. Mas piorou demais, penso que diminuíram os carros, porque demora muito a passar. A empresa precisa consertar isso”.

“São coisas que dão saudade na gente, mas tudo muda, né? O bom é que a gente viveu isso.”

Ele relembra que “antigamente tinha a caderneta para anotar o fiado. Quase todo mundo pagava certinho. Uns fregueses eu nem anotava porque acertava direitinho e outros, mesmo escrito nunca pagou”.

“Antigamente quase não tinha prédios e então todo mundo se conhecia. Toda hora entrava um na barbearia pra conversar. Mas hoje com esse tanto de edifícios aumentou a população do bairro. Se por um lado é bom, aumenta o movimento, de outro é ruim porque a gente deixa de conhecer as pessoas”, comenta.

“São coisas que dão saudade na gente, mas tudo muda, né? O bom é que a gente viveu isso.”

Matéria publicada primeiro em 2018.

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