Dona Aparecida Cruz encantou-se - Santa Tereza Tem
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Dona Aparecida Cruz encantou-se

“Tenho de dividir o amor que recebo com quem tem menos.” (Aparecida Cruz)

Santa Tereza fica hoje sem uma grande mestra e amiga dos menos favorecidos, Dona Aparecida Cruz, uma das mais idosas e guerreiras mulheres do bairro. Minha vizinha de fundos não poderia deixar passar a data e prestar uma homenagem a ela. Figura humana especial, de personalidade marcante, era uma vizinha amiga, alegre, sempre pronta a ajudar. Apesar de ter chegado aos 97 anos, permanecia jovem e alegre e acompanhava as modificações no mundo, lendo sempre os jornais e usando o computador.

Em seu florido jardim, cuidado por suas mãos verdes

Professora, durante anos, na Escola Estadual Sandoval de Azevedo, foi responsável pela alfabetização de crianças e adultos, e todos os alunos queriam ter aulas com ela, pela sua meiguice e a forma natural de passar conhecimentos. Os mais desvalidos sentirão seu falta, pelo seu trabalho voluntário incansável na Sociedade São Vicente de Paula, na preparação do sopão e com as idosas do Lar das Idosas.

Na época em que as mulheres normalmente permaneciam em casa, ela começou a trabalhar fora desde jovem, quando prestou concurso para o Ministério do Trabalho no início dos anos 40.  Aprovada participou da Comissão de Elaboração do Salário Mínimo. Em 1948, pede exoneração do cargo para trabalhar no comércio, em Juiz de Fora, com o marido, Vicente de Paula Cruz, com quem teve 11 filhos.

Em 2013, logo no início do Santa Tereza Tem, tive o privilégio de ser recebida em sua casa, onde em seu florido jardim, cheio de rosas, fiz um entrevista, em que ela contou sua história e a de Santa Tereza, que reproduzimos abaixo.

A sua família nosso carinho!

Serviço
Velório 6 no Cemitério da Colina a partir das 10h.
Sepultamento: 17h

Aparecida Cruz, mente ativa e bom humor

Esta é a receita de Maria Aparecida Cruz Amâncio, a D. Aparecida, natural de Oliveira (MG), para chegar aos 93 anos em plena atividade. Professora aposentada da Escola Estadual Sandoval de Azevedo, atualmente é voluntária em diversas ações sociais no bairro. Na Sociedade de São Vicente de Paula (SSVP) redige com letra perfeita as atas; colabora no “sopão” para os carentes e presta assistência às internas do “Lar das Idosas”, mantido pela SSVP,. Além disso, cuida pessoalmente da casa, do jardim e ainda troca mensagens com seus amigos virtuais.

Aparecida se distingue pelo pioneirismo. Quando as mulheres  ocupavam apenas profissões consideradas femininas, como professora ou enfermeira, em 1938, fez concurso para o Ministério do Trabalho. Aprovada participou da Comissão de Elaboração do Salário Mínimo. Em 1948, pede exoneração do cargo para trabalhar no comércio, em Juiz de Fora, com o marido, Vicente de Paula Cruz, com quem teve 11 filhos.

De volta a Belo Horizonte, passa a morar na Rua Mármore, onde monta uma loja de tecidos e armarinhos, enquanto seu Vicente trabalhava em um comércio na Avenida Santos Dumont. Com a chegada dos filhos, vendeu a loja, para cuidar melhor da educação deles.

Cuidando da casa e dos filhos, não parava. Costurava, bordava, ensinava os filhos as tarefas escolares e ajudava nas despesas, fazendo traduções do Francês e trabalhos de datilografia. Os filhos foram crescendo e cada um tomou seu rumo na vida. Em 1979, seu Vicente faleceu. Aos 55 anos, como era formada no antigo Curso Normal, recebeu um convite paradar aulas no curso noturno da Escola Estadual Sandoval de Azevedo, na Rua Pouso Alegre. Como não era de dispensar desafios, aceitou. Depois passou para o horário diurno, onde ensinou a centenas de crianças até a aposentadoria obrigatória, aos 75 anos.

A casa da Rua Raimundo Nonato, para onde se mudou em 1964, vivia e vive sempre cheia. A família é formada por 100 pessoas. São os filhos, netos, bisnetos e amigos, que sempre passam por lá para um dedo de prosa, para ouvir um sábio conselho.

O jardim da casa destaca-se na rua. Cuidado pessoalmente por ela e o filho Carlinhos, é de fazer inveja a qualquer profissional de paisagismo.

Quando lhe perguntei sobre suas visitas às sextas-feiras às internas do “Lar das Idosas”, ela me respondeu com um sorriso: “minha filha, sou uma pessoa privilegiada por Deus. Todos os meus filhos estão aqui comigo. Tenho muitos amigos e uma família grande e unida, que me enchem de carinho. Tenho de dividir o amor que recebo com quem tem menos.”

Por sua liderança na comunidade e seu trabalho social recebeu no dia 17 de julho de 2012, o título de Cidadã Honorária de Belo Horizonte, concedido pela Câmara Municipal.

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