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Artigo: Natal mudado

Artigo Natal mudado-  Quem mudou? Nós ou o Natal?

Por Carlos Felipe Horta
O Verão começa e o Natal se aproximarapidamente. Mas é o mesmo Natal que muitos de nós – a maior parte- já vivemos? Pensando um pouquinho que seja, já dá para responder que ele mudou e está mudando muito.

Cartão impresso, alguém aí recebeu um este ano?

Para início de conversa, não há mais- com raríssimas exceções- os cartões de Natal que a gente recebia como se fosse algo para ser guardado. E era guardado mesmo. Como uma pequena joia. Hoje, as mensagens de Natal estão todas nos celulares e computadores. Possuem e conduzem sentimentos, claro, mas, pensemos um pouquinho mais, a gente não as coloca nas mãos, não examina as imagens com detalhes e nem repara nos textos escritos. Que, estes, desapareceram de fato.

Duas outras coisas que sumiram ou diminuíram muito. Cadê as folhinhas e calendários que eram distribuídas à vontade? Ainda sobrevivem, mas a palavra certa mesmo é “sobrevivem”. E as agendas que empresas e entidades davam como brinde? Hoje, com, novamente, raríssimas exceções, quem quiser que compre.

Folhinha de brinde

Evidente que este desaparecimento se deve à situação econômica em que maus governos nos jogaram, através da “ladroagem”, corrupção ou incompetência mesmo. Em outros aspectos, porém, as mudanças evidenciam coisas piores ainda. Por exemplo: onde estão o apoio que entidades públicas e privadas – em especial as dedicadas à cultura- davam para conservar a tradição dos presépios, com divulgação e até concursos para escolha dos mais representativos? Onde está também o apoio para a sobrevivência e divulgação dos grupos de folias e, principalmente, de pastorzinhos, estes mais do que em outros, desaparecendo e sumindo a cada ano.

E não venha dizer que é crise. Cultura ainda é o investimento mais barato que existe, especialmente quando bem aplicado. A título de exemplo, em nossa Belo Horizonte, a ajuda que se dá para trazer um grande artista de fora seria suficiente para a sobrevivência de dezenas de folias e grupos de artistas.

É doloroso dizer mas o Natal é lembrado muito mais só com decoração de praças ou incremento comercial do que, realmente, em manter vivas as tradições de nossa gente. É uma pena, mas a gente acaba por lembrar o sagrado Machado de Assis que, um dia, ao sentir as transformações já ocorridas em seu tempo, fez a pergunta que fazemos agora: “Mudou o Natal ou mudei eu”.

Carlos Felipe Horta é jornalista, folclorista, escritor e colaborador do Santa Tereza Tem

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