Ateliês de Santê: Jarbas Belchior, o ourives - Santa Tereza Tem
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Ateliês de Santê: Jarbas Belchior, o ourives

Ateliês de Santê: Jarbas Belchior, o ourives da prata e das das raízes culturais do Brasil
Letícia Assis

O mundo da moda apresenta sempre novas tendências, mas o segmento das joias artesanais tem lugar garantido, especialmente se o ourives for talentoso e criativo. E criatividade sobra no ourives e morador de Santa Tereza, Jarbas Belchior.  Aos 52 anos, já morou e passou por diversos lugares, que lhe deu uma bagagem cultural  e diversa invejável, que ele recria em sua arte.

A paixão pela liberdade e pela criação de joias ele descobriu aos 15 anos, quando trabalhava no Banco do Progresso no centro da cidade, onde os hippies faziam artesanato. Jarbas conta que depois de um ano no banco, viu que não era sua praia. “Fiquei fascinado com um especial na televisão sobre as Cordilheiras dos Andes. E pensei em ir lá. Mas e grana? Então cheguei para um artesão que vendia bijuterias e perguntei  se dava dinheiro. Ele respondeu que sim e que já tinha viajado o mundo inteiro daquele jeito. Pedi que me ensinasse. Com ele aprendi a confeccionar bijuterias, em uma tarde. Fiquei por duas horas, tentando copiar um brinco dele. Quando terminei ele colocou no mostruário e em cinco minutos foi vendido. Fiquei entusiasmado”.

A partir daquele momento a vida de Jarbas tomou outro rumo. Munido de alicates, arame e missangas e para casa aperfeiçoar a técnica. Ficou envolvido de 20 até às 6 da manhã, desconectado do tempo. Decidiu então que faria isso fazer pelo resto da vida.

Aos 15 anos, de carona, com a cara e coragem e falando de espanhol apenas “Yo tengo hambre” (“eu tenho fome”), foi para o Uruguai, onde ficou por um mês. Ao voltar veio pela costa brasileira, conhecendo praticamente todo o litoral.

Jarbas conheceu muitas culturas e ouviu muitas histórias que lhe deu conhecimento e experiência que só diversidade popular tem.  Assim, ao criar suas peças inspira-se na rica cultura brasileira como a indígena, rupestre, Maracá, a de Santarém e do Baixo Amazonas.

Casou-se aos 16 anos e assim arrumou uma companheira de viagens, indo morar em Santa Catarina. Teve seu primeiro filho aos 18 anos. “Eu sosseguei com a chegada do Hindiael. Comprei um maçarico e comecei a produzir joias em prata” comenta.

Reprodução da cultura brasileira

“A prata foi crescendo porque eu fui aprendendo técnicas por conta própria. Quinze anos depois, já tinha várias linhas de produção montadas, como por exemplo, de desenhos indígenas brasileiros. Selecionei algumas tribos e fiz alguns desenhos para reproduzir”, explica Belchior, mostrando o trabalho baseado em raízes culturais, como a xavante, Tupi e Guarani. “É uma releitura. Tento reproduzir o máximo possível a semelhança, que é também um estudo para eu ter inspiração”, completa.

A  diversidade cultural do país é difundida pelo artista em sua obra, como a  norte  (Marajoara, Maracá, Santarém) reproduzida em vasos e peças grandes, pesadas, como joias. Dessas peças grandes, uma das linhas seguida é a cultura do Baixo Amazonas e a cultura rupestre. Para isso, além de visitar  os sítios arqueológicos, contou com a ajuda de professoras da UFPA (Universidade Federal do Pará), em Belém, que indicaram vários livros.

“Depois disso me espelhei em outra área.  Participei de um grupo sobre sufismo, árabe, pré-cristão, que foi a base para as filosofias do islamismo. O islã é do ano 604, das tábuas de Moisés, então mil anos antes do islã já existia o sufismo. Eles usavam cruzes circulares ritualísticas pré-cristãs com símbolos para fazer determinados rituais pagãos. Então peguei alguns desses desenhos, fui para a biblioteca da Belas Artes da  UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), para pesquisar cruzes antigas.  De lá  tirei inspiração para fazer uma coleção de cruzes antigas com 15 pedras, 20 pedras, obras em que eu trabalho por um mês.  Ficou muito legal”, conta o ourives ao dar uma aula incrível de História e Geologia, mostrando as diversas pedras utilizadas, como lápis rarus, jaspe, quartzo rosa, aventurina, pedra da lua, rodocrosita, crisocola, turquesa, ônix, entre tantas outras.

Jarbas se sente realizado por sua história, construída por onde passou, deixando seu nome e trabalho registrados. “Hoje já não preciso correr atrás de cliente e tenho o prazer de colher frutos do meu trabalho. Uma pessoa usa uma joia, a outra vê e já quer saber onde comprou, ai a pessoa fala: ‘Ah, é do Jarbas, ano que vem ele tá aí de novo’. Quando eu chego junta todo mundo na casa de alguém e querem comprar e encomendar”, explica, ao contar que participou 20 anos seguidos de uma feira de artesanato em Salinópolis, no Pará.

Atualmente, além de ourives e designer de joias, trabalha como cenógrafo. Por isso as viagens diminuiram, mas o amor pela profissão e pela criação permanece e ele continua a produzir as joias, apesar de ser difícil conciliar os horários. “Tenho muita tempestade de criação, no dia que sento para desenhar, não dá tempo de colocar no papel todas as minhas ideias. Uma ideia abre espaço pra outras, e cada técnica que aprendo são mais oportunidades. Elas vão se juntando, se complementando e você vira um coletor de todas essas técnicas, quando vê já tá fazendo. É transformador”.

Quem tiver o interesse de conhecer de perto o trabalho de Jarbas Belchior, fazer encomendas ou orçar, pode entrar em contato pelo (31) 9 9259-5509.

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