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Mães especiais se encontram em Santa Tereza

Bairro reúne mães de pessoas com deficiência, que se tornam amigas e aliadas

Elas vêm de diferentes regiões da cidade e do interior, têm em comum histórias de dedicação total aos filhos deficientes.  Seus caminhos se cruzam no bairro Santa Tereza, onde buscam instituições especializadas. Com a convivência diária, muitas vezes, as mães estabelecem relações de amizade e de cumplicidade entre elas .

Karine, Solange, Sandra, Silvana e Fátima são mãe especiais. Foto: Júlia Duarte e Brígida Alvim

Foi assim que mães como Karine, Solange, Sandra, Silvana, Fátima e Norma se conheceram, há muitos anos, em Santa Tereza. “Somos como irmãs”, diz Sandra Rúbia Soares, mãe de Breno, de 21 anos. Natural de Itaobim, interior de Minas, ela se mudou com o filho Breno para Belo Horizonte logo que ele recebeu o diagnóstico de paralisia cerebral, e escolheu Santa Tereza para ficar próximos da APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais). A instituição conta com clínica de tratamento e escola especializadas para pessoas de todas as idades, e tem sede à Rua Cristal, 78.

Sandra e o filho Breno

Ciente da dificuldade das famílias que moram distante da instituição para ir em casa e voltar para buscar os alunos no período da aula, que é de meio turno, a APAE BH oferece espaço de acolhimento às mães. Além de conforto, elas recebem atividades formadoras, como oficina de artesanato e produção de alimentos, entre outras, para que possam exercer uma atividade em casa que contribua com a renda familiar.

Karine Vasconcelos é mãe de Ingrid (18), que tem autismo e estuda na Escola Essencial – Centro de Educação Especial, na Rua Mármore, desde 2009. Elas moram no bairro Santa Mônica e conta que no início a escola funcionava ao lado da APAE BH e por isso conheceu e mantém amizade com várias mães de lá. “Quando alguém precisa de ajuda, nós nos mobilizamos para ajudar. Sei que se eu precisar um dia, elas vão me estender a mão. Nós nos entendemos, passamos por situações parecidas, batalhamos muito. O que nos une é a história dos nossos filhos, a nossa história”, avalia.

Para ela, toda mãe passa por dificuldades, mas com mães especiais elas são ainda mais fortes. “A luta é maior e o nosso grande desafio é ter paciência de esperar a evolução do desenvolvimento dos filhos, no tempo deles e não na rapidez que gostaríamos que fosse. Temos que estimular diariamente e saber valorizar cada avanço, por menor que seja, insistir e insistir”.

Silvana e a filha Rafaela

Silvana Eneas é mãe da Rafaela (19), portadora da síndrome de down, que frequenta a APAE BH desde os sete meses de idade. Elas moram no bairro Tirol, no Barreiro de cima, e para chegar em Santa Tereza precisam pegar três ônibus para ir e para voltar. Silvana cria Rafaela e um filho mais velho sozinha e além de contar com o benefício concedido pelo INSS, de um salário mínimo, precisa trabalhar para sustentar a família. Com os aprendizados das oficinas da APAE, ela produz tapetes artesanais em casa e vende nas feiras e por encomenda. A partir do próximo mês, ela planeja também fazer e vender bombons, para ajudar a complementar a renda.

“O desenvolvimento de uma criança especial é muito lento, nós mães temos de ter paciência e dedicação. O maior desafio para mim é enfrentar os preconceitos, que são muitos, e eu noto pelos olhares nos ônibus, na rua, em todos os lugares. Hoje até que diminuiu, mas já sofri muito desrespeito, como ser acusada de estar furando fila quando ocupei lugares preferenciais. Já sofri e revidei muito, hoje não ligo, estou mais anestesiada”, conta Silvana.

A compensação, segundo ela, vem com a superação. “Quando pequena a Rafaela adoeceu muito e eu tive de parar de trabalhar. Hoje ela está bem, com a saúde estável. Com o tempo a gente vai se adaptando e tudo se encaixa. Ela é tranquila, boa companhia, só é muito diferente das meninas da idade dela, porque é infantil, gosta de brincar de boneca. Éuma eterna criança”, conta a mãe.

Mãe especial por escolha

Fátima Campos Salgado aprendeu a amar e respeitar as crianças especiais com a convivência com a sobrinha Daiane, que ao longo de 21 anos sofreu consequências de ter nascido com falta de oxigenação no cérebro, e faleceu há cinco anos. Há dois anos, ela se mudou para a casa da irmã Teresinha, mãe de Daiane, que fica de frente para a APAE BH. Desde então se ofereceu para prestar o serviço de mãe social, se dispondo a acompanhar pacientes que vivem na instituição, quando são internados em hospitais. Além disso, ela adotou como afilhado um aluno, Jackson Henrique, 18, que tem autismo e microcefalia. “Ele vem aqui em casa e eu o visito em Santa Luzia. Ele é lindo, fico orgulhosa de ver o desenvolvimento dele. Quando a mãe dele precisa o deixa comigo para eu cuidar, nós estabelecemos uma relação de confiança”, conta Fátima.

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