Bar do Orlando comemora mais um aniversário - Santa Tereza Tem
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Bar do Orlando comemora mais um aniversário

Bar do Orlando comemora mais um aniversário em grande estilo

Entra ano, sai ano; crises econômicas vão e voltam; entra prefeito, sai prefeito e, entre revoluções, golpes, ditaduras e democracia, em Santa Tereza (Rua Alvinópolis com Conselheiro Rocha), continua firme o Bar dos Pescadores, hoje Bar do Orlando.

Bar dos Pescadores, o Bar do Orlando, a história passou por aqui Foto: Eliza Peixoto

Inabalável e atravessando gerações, o Bar do Orlando vem mantendo a tradição da boemia, da música, da amizade e da alegria. E para comemorar mais um aniversário, será realizada uma grande festa, no domingo, dia 8 de dezembro, de 10 às 22 horas, com muita alegria e descontração. O horário de término, segundo seu Orlando é impreterivelmente às 22h, para respeitar a lei do silêncio.

Fachada do Bar na década de 80. Foto: arquivo do Bar do Orlando

Mas… Quantos anos faz o aniversariante?

Sobre isso há controvérsias. Segundo seu Orlando, proprietário do bar há 39 anos e morador do bairro, são 100 anos, ou seja, o estabelecimento data de 1919. Já segundo Luis Góes, também residente no bairro e pesquisador de sua história, a criação do Bar dos Pescadores se deu em 1929, ou seja, uma diferença de 10 anos.

Luis Góes, que morou dos 10 aos 20 anos, na Divinópolis 427, a dois quarteirões do bar, lembra que sempre ia até lá, quando criança, para comprar doces. Ele conta ainda que o nome Bar dos Pescadores vem do fato de o pessoal parar no boteco para tomar uma pinguinha antes de pegar o trem na “Parada do Cardoso”, para ir a Sabará ou Roças Grandes pescar no Rio das Velhas.

O prédio, tombado pela Diretoria de Patrimônio Histórico de Belo Horizonte, de acordo com o livro “Notas cronológicas de Santa Tereza” de Luis Góes, teve como primeiro proprietário Zé Inácio, que criou o bloco de carnaval “Eu Não Rapo Nada” e foi um dos fundadores do Esporte Clube Santa Tereza. Do Zé Inácio passou para o Pedro de Assis Filho, que vendeu para seu sobrinho, o seu Orlando, atual proprietário.

Mas como diz seu Orlando, “qualquer que seja a idade, o que importa mesmo é comemorar”. O importante é que o local seja, talvez, o bar mais antigo da cidade e guarda os resquícios da antiga boemia.

Seu Orlando e o Bar

Orlando Siqueira, o seu Orlando, veio de Santa Luzia pra Santa Tereza, logo que adquiriu o Bar das mãos de seu tio, o Pedro de Assis.  Aqui conheceu a Madalena e após três anos de namoro, se casaram e foram morar nos fundos do imóvel, onde nasceu único filho do casal, o Orlandinho. “A Madalena é uma grande figura. Só tenho a agradecer pelo seu companheirismo. É o meu ‘pé de boi’. É ela quem organiza a contabilidade do bar”, diz o eterno apaixonado Orlando.

Orlandinho, seu Orlando e Madalena

Em uma mesa na calçada, junto com dois antigos fregueses e amigos, Gilmar Amorim e Reinaldo Teixeira, seu Orlando conta: “comprei o bar em 11 de novembro de 1980. Na época ainda havia a ponte do Cardoso, que o povo usava para atravessar para Santa Efigênia. O Elpídio e o João Baiano eram os guarda-chaves. Vinha o trem eles baixavam a cancela, passava o trem, subiam a cancela. Do outro lado tinha a favela do Cardoso e o Mercado Distrital estava no auge. Esse pedaço era um corredor, um formigueiro de gente que fazia compras no Mercado. Com sacolas e sacos na cabeça, o pessoal sempre parava aqui pra descansar, tomar uma pinguinha e comer um tira-gosto”.

Seu Orlando, Gilmar Amorim e Reinaldo Teixeira

Quem também frequentava o bar era o time de futebol, “Cantinho de Santa Tereza”, relembra Reinaldo Teixeira, que mora na esquina da Rua Alvinópolis, “O Orlando abria o bar cedo e os jogadores vinham tomar café antes de ir jogar. Tinha uns que misturavam vodca no suco de laranja”, conta ele rindo da maluquice.

E a conversa rende com a lembrança e a saudade de pessoas que já se foram: seu Mundico, o Pedro da sapataria, seu Osvaldo, Preto, Dico, Nica Nica, Crésio, Lázaro, Cacá, Davi Sales, Darli, Alan, Tó. “O Tó Serralheiro, era a alegria, o samba em pessoa e o maior contador de piadas que já passou por aqui. O Alan foi um dos criadores do Bloco dos Pescadores. Tinha também o Jurandir, que trazia seu curió na gaiola, que ficava cantando, enquanto ele tomava várias doses de pinga,” conta  Reinaldo.

Alan (esquerda), Tó e sua irmã e sobrinhas. Foto: arquivo do Bar

“E mataram o Juriti”

E os “causos” vão rolando como o do Davi Sales, que chegou com o primeiro celular no bar, um tijolo PT 550. Segundo Gilmar, “ele gostava de cozinhar e fazer tira-gosto no bar. Uma vez ele trouxe um panelão e fez 16 quilos de mãozinha de porco”.

Outro é do Juvenal: “ele colocou o Juriti, um frequentador assíduo do bar, esticado no banco de traz da sua variante com uma flor na mão. Parou o carro na porta do bar e anunciou a morte do Juriti. O caso não acabou bem, pois quase mata a Madalena de susto e ela ficou muito brava”, conta Gilmar gargalhando.

Eles lembram também que “um dia, a gente tomando uma cerveja, aparece uma mão acenando de dentro do bueiro, foi uma confusão. Era um fugitivo do Hospital Raul Soares, que entrou pela canalização do Arrudas e veio sair aqui. Foi preciso chamar a polícia pra tirar o rapaz do bueiro”.

Os campeonatos de truco também eram famosos, mas já não existem mais. Uns jogadores se mudaram, outros se encantaram e outros, sentindo falta dos amigos, desistiram.

Do Orlando pro Orlandinho

Aos pouco seu Orlando está passando o bar para o filho, Orlandinho. “Tá na hora de parar e passar pra frente. O Orlandinho foi criado aqui, jogando bola na rua. Já se formou em Administração e está assumindo o bar. Claro que não vou deixar tudo, afinal eu moro aqui nos fundos”, diz ele.

Ele comenta que no início o tira-gosto eram sardinha, frango frito e ovo cozido. Mais tarde veio o a batata cozida, a linguiça e o famoso torresmo de barriga. Os dois últimos sempre fornecidos pelo Açougue do Moacir, que já deixa tudo preparadinho. A eles se juntou o quibe, empada e pastel, que ficam à vista, na estufa.

Seu Orlando, Orlandinho e o famoso torresmo Foto: Eliza Peixoto

Com Orlandinho houve inovação no cardápio com pequena sofisticação. Abriu-se um espaço ao lado e foram acrescentadas as fritas, o contrafilé com fritas e várias opções de espetinho.

Seu Orlando diz que com o tempo muda também a freguesia. “Muitos moradores do bairro vêm sempre, mas 90% da freguesia é de Santa Efigênia e da Sagrada Família. Os frequentadores mudam, mas sempre tem gente nova. E gente que volta, depois de grandes ausências”.

Assim como ali faziam ponto os jogadores amadores, os pescadores e os consumidores do mercado, hoje, além do Bloco dos Pescadores, que foi criado por frequentadores do bar, lá se encontram músicos, grupo de capoeira e os poetas do Muro dos Poetas, liderados por Antônio Galvão.

No largo em frente ao bar se reúnem também as mulheres do “Churrasbunda”, e são realizadas atividades beneficentes para angariar fundos para entidades assistenciais do bairro

E encerra a conversa: “valeu ter comprado o bar do meu tio. Aqui criei minha família, conheci muita gente, fiz muita amizade. E amizade é coisa muito boa, não tem preço”.

“Amizade é coisa muito boa, não tem preço” (Seu Orlando)

A festa

A comemoração, que será no dia 8 de dezembro, terá uma trilha sonora variada com shows de Rosa Neon, Dona Jandira convida Nath Rodrigues, Bloco da Esquina, Bloco dos Pescadores + Cinara Ribeiro + Fabinho do Terreiro, Bloco Volta Belchior, DJ Fê Linz, DJ Naroca e DJ Narciso

INGRESSOS: Os ingressos são gratuitos e precisam ser retirados na plaforma Sympla. O primeiro lote já está esgotado. Fique ligado para o segundo lote, que vai estar disponível no dia 6 de dezembro.
Página do evento

Matéria atualizada em 03/12/2019

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