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Mais verde para Santa Tereza e para cidade

Projeto defende transformar o estacionamento do Mercado Distrital de Santa Tereza em praça

Mais verde para Santa Tereza e para cidade é uma das propostas do projeto Mercado Vivo + Verde, realizado no último domingo, 14 de agosto, no Mercado Distrital de Santa Tereza. A terceira edição do evento atraiu mais de mil pessoas, mesmo sendo fim de semana de Dia dos Pais e feriado na segunda, 15 de agosto. A programação, de acesso gratuito e voltada para todas as idades, incluiu feira de produtos agroecológicos, alimentos orgânicos e artesanais, feira de artesanato, economia solidária, apresentações musicais e circenses, tenda de vinis, atividades recreativas e oficinas. Tudo isso na área externa do Mercado, antigo estacionamento, que possui mais de quatro mil metros quadrados, dezenas de árvores, canteiros e vista para a Serra do Curral.

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Área externa do Mercado é cheia de árvores, canteiros e tem vista para a Serra do Curral. Fotos: Brígida Alvim

Com a realização do evento Mercado Vivo + Verde, os grupos envolvidos demonstram na prática os ideais da iniciativa, que tem ganhado mais adeptos a cada realização. Os realizadores propõem, além da reativação do Mercado, que seu antigo estacionamento seja transformado em área destinada à convivência comunitária. “Belo Horizonte tem perdido muitas praças e parques por causa da privatização de espaços públicos. Há omissão do poder público para garantir a função social destes locais, tal como o Mercado de Santa Tereza. Além da vocação para abastecimento de alimentos, feiras, atividades artísticas e formadoras, defendemos que o estacionamento seja ocupado por pessoas e não por carros, pelo potencial de tornar-se um parque natural e somar-se às poucas áreas verdes sobreviventes em BH”, avalia a arquiteta e urbanista Danielle Jorge, integrante do Movimento Salve Santa Tereza.

O projeto Mercado Vivo + Verde é voltado para efetivar a ocupação cultural e comunitária do Mercado Distrital de Santa Tereza, fechado pela administração pública desde 2007, e foi elaborado a partir da demanda de moradores da região para o espaço, através de grupos focais, abaixo-assinado e conversas em assembleia realizadas entre 2013 e 2015. A iniciativa é colaborativa e está tornando-se uma rede, formada pelo Movimento Salve Santa Tereza, Feira Terra Viva (vários coletivos que compõem essa rede), Associação Comunitária do Bairro Santa Tereza (ACBST), Feira de Artesanato de Santa Tereza e artistas independentes.

Horta comunitária

Uma novidade desta edição foi a implantação de uma horta agroflorestal com sistema de irrigação por gotejamento no canteiro do mercado, com a intenção de que se torne uma horta comunitária. O trabalho foi feito entre sábado e domingo por voluntários da AMAU – Articulação Metropolitana de Agricultura Urbana – um dos coletivos que participa do movimento pela ocupação do Mercado. E contou ainda com a participação de adultos e crianças presentes no evento que quiseram aprender sobre manuseio da terra e plantio.

Mutirão criou a horta com ajuda de participantes do evento
Mutirão criou a horta com ajuda de participantes do evento. Foto: Wilson Avelar

“Foram plantadas espécies rústicas que não demandam manutenção cotidiana, como abacaxi, mandioca, banana, abacate, entre outras. E principalmente PANCs – Plantas Comestíveis não Convencionais – como capuchinha, taioba, bálsamo, babosa, que são alimentos extremamente nutritivos e saborosos, mas que não são encontrados no sacolão. Dessa forma, fazemos um resgate de saberes tradicionais, oferecendo às pessoas alternativas para deixar a alimentação mais saudável”, explica Fernando Rangel, da comissão de agrobiodiversidade da AMAU.

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Mutirão quer manter horta comunitária no Mercado

As mudas foram doadas pelo Centro Municipal de Agricultura Urbana e Familiar (Cemalf), dando preferência para espécies de vida longa e ciclos rápidos. Portanto, poderão ser colhidas quando estiverem adultas e se cultivadas voltarão a crescer. “Colher é bom para estimular o ciclo de vida delas. O que esperamos é que se torne uma horta comunitária, gerando alimento e sendo cuidada pelos moradores e visitantes da região”, acrescenta Fernando. O grupo planeja realizar manutenção da horta por meio de mutirões, com periodicidade a ser definida.

O solo foi enriquecido com adubação verde e calcário, que lhe darão autonomia de adubo. Para a irrigação automática, foi instalado um timer no quadro de energia do Mercado para liberar água por gotejamento durante a madrugada. O horário é ideal para não haver perda de água por evaporação. A iniciativa recebeu apoio da Fundação Municipal de Cultura, atual gestora do Mercado de Santa Tereza, que autorizou a implantação e fornecerá água e energia para a manutenção da horta agroflorestal.

Pluralidade

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Daniel e Júlia, juntos às filhas Cloé, Tainá e o primo Davi

Daniel Russo e Júlia Vidal, casados e pais de Cloé e Tainá, de 6 e 4 anos, são feirantes e participaram comercializando produtos vegetarianos de fabricação própria. Há dez anos eles se dedicam à Mamute Cozinha Vegetariana, vendendo em feiras e eventos de rua. O casal agora integra a rede Mercado Vivo + Verde e considera vantajosa a pluralidade do projeto. “É um evento acolhedor, plural e solidário. Espaço de compartilhar e viver as diferenças, o que hoje em dia é muito raro. Belo Horizonte precisa deste espaço e acredito que essa é a última oportunidade de garantir o Mercado para a população e evitar que ele seja privatizado, como os outros foram”, reflete Júlia.

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Zé Flávio, do Parque Jardim América

José Flávio Meireles, integrante do Movimento Parque Jardim América, prestigiou o evento em mais uma edição. Ele luta para salvar uma área verde de 22 mil metros quadrados no bairro Jardim América, que é a única ainda preservada no território que compreende 10 bairros na região Oeste. “É maravilhoso tirar as pessoas de dentro de casa e trazê-las para ocupar o espaço público. Neste espaço elas se encontram, conversam, relaxam e recarregam a energia, observa”.

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“Devia ter toda semana”, sugere Eduardo, com a esposa e o filho

O casal Selva Silva Brandão e Eduardo Lucas Barbosa, que curtiu o Dia dos Pais junto ao filho Isaac, de 4 meses, surpreendeu-se com a quantidade e também com a diversidade de produtos, feirantes e de visitantes. Foram cerca de 100 expositores, distribuídos em alimentos, produtos agroecológicos, artesanato, vestuário e acessórios. “Podia ser toda semana, ou pelo menos de 15 em 15 dias”, sugere ele. “A feira fortalece o pequeno produtor e o artesão e é entretenimento para todos. Eu passei minha infância brincando no Mercado, principalmente na área externa, e era uma delícia. Fico feliz de trazer meu filho e torço para que a abertura seja definitiva”, declara ela.

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