Blocos de rua publicam manisfesto contra apropriação comercial da folia - Santa Tereza Tem
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Blocos de rua publicam manisfesto contra apropriação comercial da folia

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Blocos de rua publicam manisfesto contra apropriação comercial da folia na rede social. Começou com alguns e agora já conta com adesão de 51 blocos de rua. A publicação começou na página Carnaval  de Rua, que transcrevemos abaixo:

“Desde terça-feira, quando o Carnaval de Rua BH divulgou manifesto de repúdio à Skol, assinado por 27 blocos, mais e mais grupos decidiram fazer coro pela luta contra a apropriação comercial da folia. Agora, o manifesto já conta com a adesão de 51 blocos de rua.

Ignorando o clamor popular, o prefeito Márcio Lacerda insiste em declarações descabidas, ao defender a capitalização do Carnaval e chamar de liberticidas os que batalham para manter o caráter livre e espontâneo da folia.

Os blocos seguem organizados, lutando com vigor para evitar que cordões, patrocínios limitadores e manobras políticas desvirtuem a festa em BH – feita do povo e para o povo.

Leia e divulgue o manifesto:

Desde 2009, o Carnaval de rua de Belo Horizonte vive a olhos nus uma intensa transformação que, de forma independente, sem chancelas ou patrocínio, reinventa tradições e faz pensar a cidade que queremos. Anarquicamente maravilhoso, nosso Carnaval tem se tornado um sublime momento do ano em que, em meio à ocupação festiva do espaço público, buscamos ressignificar a relação com a cidade e com o outro, bem como contestar políticas danosas ao bem-estar social. E com um detalhe importante: é feito do povo e para o povo, como deve ser o Carnaval.

E o povo consegue fazer sua festa mesmo quando não conta com o auxílio do Estado – e sem precisar recorrer a afagos de megaempresas privadas para tornar sonhos realidade. O capital, definitivamente, não é o mote da nossa folia. Os blocos são feitos com o suor e a dedicação de quem quer transformar a cidade, e que já tem sua recompensa ao ver e viver um Carnaval brilhante como o de 2015. Contra tudo o que afirma hoje o prefeito dessa capital, queremos sim um carnaval sem cordões, sectarismo e moralismo, lutando pelas liberdades individuais, pelo direito à moradia e ao transporte gratuito, pela desmilitarização da polícia, por uma política de drogas mais humana, contra o racismo, o machismo, a homofobia, a higienização e a privatização do espaço público.

É o Carnaval do amor, sim. Mas também é Carnaval de luta.

Não obstante à transformação que se passa nas ruas, vale lembrar que alguns blocos possuem formação banda e são, de fato, formados por pessoas que vivem de música. Que passam grande parte do Carnaval trabalhando duro e fazendo o que acreditam. Que conciliam a folia com exaustivas agendas de shows. Trabalho para pagar as contas e fomentar a cultura local – tudo com muita raça, vontade e independência.

Por isso, muito nos espantou quando surgiu, no decorrer do Carnaval de 2015, uma esdrúxula tentativa de apropriação financeira da festa pela cervejaria Skol, do grupo Ambev, que amargou propostas de patrocínio negadas por vários blocos. Companheiros desses mesmos blocos tiveram, sem autorização prévia, fotos divulgadas com logomarcas estampadas em seus rostos, tendo seus direitos de imagem violados, como se compactuassem com qualquer tipo de aparelhamento do Carnaval.

Para além das questões jurídicas que envolvem as ações da Skol, manifestamos repúdio com relação à brusca tentativa de usurpação do caráter independente e autogestionado do Carnaval de Belo Horizonte. Repudiamos, veementemente, a manobra comercial orquestrada pela Skol, por meio das páginas Bloquinhos de Beagá e Carna Beagá, gerenciadas pela agência IGT Marketing, que atropelou direitos em busca de uma bocada da festa. Uma marca que estimula, através de propagandas irresponsáveis, o machismo que faz vítimas diariamente e contra o qual lutamos com vigor. Lembrando que as páginas foram retiradas do ar depois que batuqueiros e integrantes dos blocos reclamaram da aplicação indevida de logomarcas não somente em fotos, mas também em flyers. Roubo explícito do material gráfico produzido pelos blocos, numa tentativa oportunista e inescrupulosa de fazer parecer que o Carnaval de rua é algo produzido pela Skol. Não; não é. E se depender de nós, nunca será.

O Carnaval de BH não cederá a lobbys de megaempresas nem de órgãos públicos que colocam em risco uma festa tão plural e espontânea, feita com o pulso firme do povo, que clama por uma cidade mais justa, livre e igualitária.

A apropriação não passará!”

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