A viola do Pereira de Santê - Santa Tereza Tem
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A viola do Pereira de Santê

A viola do Pereira de Santê espalha a música, vinda da alma, lá do Vale do Mucuri

Reportagem  de Rafael Campos

José Rodrigues Pereira, de 51 anos, o Pereira da Viola, carrega a música no coração e na alma. Também pudera, ele é filho de Mãe Augusta, cantora e do sanfoneiro, João Preto, músicos tradicionais da pequena comunidade de São Julião, na cidade de Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri. “Meu primeiro contato com a música veio ainda no útero da minha mãe”, afirma mais um ilustre morador do bairro de Santa Tereza.

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Pereira no quintal de sua casa em Santa Tereza Foto: Rafael Campos

Pereira da Viola está preparando seu sexto álbum que marcará os 20 anos de carreira. O lançamento será dia 11 de dezembro no reinaugurado Cine Theatro Brasil, na Praça Sete, onde também será gravado um DVD. Foram duas décadas intensas, com trabalhos reverenciados pelo público e crítica. Seu virtuosismo com a viola conjuga as raízes de sua terra e das coisas do Vale, com um ar moderno. “Sempre busco dar um passo a mais, sem perder a minha essência”, diz.

E sua essência foi gestada a partir das cantigas de roda, folia de reis entre outros festejos tradicionais. Apesar de carregar a viola no nome, foi com o violão que Pereira começou a se embrenhar ainda mais pelo mundo da música. Ele tinha 11 anos, quando ganhou dos pais o instrumento que iria acompanhá-lo na viagem ao Espírito Santo, onde foi morar com os tios, para estudar.

Em terras capixabas e partindo do um único acorde, ensinado por um dos 12 irmãos, Pereira começou a se apresentar na escola e em igrejas. “Em um fim de semana chegava a tocar em seis missas”, revela. Vieram os shows de calouros e com eles, as vitórias e o reconhecimento de um talento que começava a aparecer.

No início da década de 1980, ele volta com os tios para Minas Gerais, mas especificamente, para Serra dos Aimorés, também no Vale do Mucuri, onde termina os estudos e se forma em Magistério. Foi lá também que Pereira começa a se consolidar enquanto músico e começa a enxergar qual a sua identidade sonora.

 O artista participa do Movimento Cultural do Vale do Mucuri, e passa também a buscar referências de outros importantes nomes, que carregam a rica cultura do Vale do Jequitinhonha, como Paulinho Pedra Azul, Rubinho do Vale, Tadeu Franco, entre outros.  Nesse momento ele encontra a viola. “Fiquei louco com esse instrumento, mas não sabia tocar, já que é bem diferente do violão”, afirma. Conseguiu sua primeira viola, a quem deu o nome carinhoso de  Rosinha e, praticamente, fez sua estreia com a célebre “Tristeza do Jeca”, de Angelino de Oliveira. “Estava brincando com a viola e quando percebi estava tocando a Tristeza”.

Na década de 1990, conhece a cantora e atriz Inezita Barroso, em São Paulo, que se apaixona pelo talento de Pereira e passa a ajudá-lo em sua carreira. Em 1993, o violeiro aterrissa em Belo Horizonte disposto a gravar seu primeiro álbum, o Terra Boa. A produção foi suada e teve que contar com a ajuda de amigos e de pessoas que acreditavam no seu trabalho. “Minha música é orgânica, sem agrotóxicos”, afirma, fazendo referência ao apelo não comercial e não descartável de sua obra.

Seus últimos álbuns, Tawaraná (1996), Viola Cósmica (1998), Viola Ética (2001) e Akpalô (2007) só reforçaram o ineditismo e criatividade do mineiro, que encontrou a forma de produzir uma música regional, porém universal, como gosta de dizer.

Pereira da Viola sempre demonstrou também interesse em causas sociais, tanto que está envolvido em vários movimentos que lutam por uma vida melhor. “Não dá para ser feliz sem lutar para que outro também seja”, diz.

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A viola do Pereira de Santê na Confraria São Gonçalo Foto: Eliza Peixoto

 Há 10 anos morando em Santa Tereza, se integrou à comunidade e faz parte da Confraria São Gonçalo, um grupo de amigos, que se encontram para tocar, cantar, prosear e porque não tomar também uma branquinha?  Viver em Santê, Pereira conta que foi um dos seus sonhos realizados. “Sempre sonhei morar nesse lugar onde a cultura fica pairando”.

Sobre os projetos viários e imobiliários da prefeitura e que  tem o bairro como alvo, ele demonstra preocupação. “Toda vez que há possibilidade de inserção de prédios, há também a desumanização desse espaço, que fica mais frio e árido. Se este bairro até hoje conserva estes traços, porque não preservá-los?”, questiona. É, de fato, uma tristeza, porém, uma tristeza diferente, que em nada lembra o canto melancólico, mas ao mesmo tempo bonito dos sabiás, que ainda moram nas praças e ruas de Santa Tereza.

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