O tesouro de Telo Borges - Santa Tereza Tem
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O tesouro de Telo Borges

Eliza Peixoto

Telo Borges, irmão de Lô, Márcio e Marilton, é um do mais novos da musical família Borges de Santa Tereza. Começou ainda adolescente a compor e a se dedicar ao piano.

“O tesouro que a gente tem é a música” diz o brincalhão Telo, batucando no piano, em entrevista na casa da família, perto da famosa esquina das Ruas Divinópolis com Paraisópolis.  Ele comenta que música entrou cedo em sua vida, quando, aos oito anos, participou com sua voz da gravação do disco de Milton Nascimento com Clementina de Jesus, “Milagre dos Peixes”.

Telo Borges no piano da família na casa da Rua Divinópolis

A partir daí, entre a escola e as “peladas” jogadas com os amigosna Rua Divinópolis, ficava batucando no piano. “O brinquedo que o Salomão trouxe pra casa, um piano, foi a grande sacada dele na educação dos filhos”, diz.  Os irmãos mais velhos, Marilton, Márcio e Lô, foram se enveredando pela música, junto com a turma do Clube da Esquina, e o mais novo, Telo, foi seguindo as pegadas. Assim, passava horas e horas tentando coisas novas no piano sem qualquer compromisso.

Marilton, Márcio, Elis Regina, Yé Borges, Telo e Nico Borges no final dos anos 70. Foto histórica do Museu da Pessoa

Voa bicho, a primeira de muitas

Ele conta que despertou seriamente para a música, em 1972, quando aos 15 anos, em um final de tarde, sentado na porta de casa, viu um luz brilhante, que ele não sabe explicar o que era, iluminar o corredor da casa da vizinha D. Cotinha e logo desaparecer.  “Essa luz foi notícia em todo país,” afirma ele. Seu primeiro impulso foi sentar-se no piano e tocar acordes cantarolando “Disco voador… Disco voador…”

Foto arquivo pessoal

“O meu irmão mais velho, Marilton, passou pela sala dizendo, eu achava que esse menino era doido, agora tenho certeza”. Fiquei por ali muito tempo, organizei os acordes e criei a primeira música: “Voa Bicho”, conta ele.

A partir daí não parou mais. O grupo de teatro, “Reticências”, formado por seus vizinhos de rua, ouviu seu trabalho e convidou o adolescente Telo para fazer trilhas musicais para suas montagens.  Começou com a peça “A viagem ao faz de conta”, onde participava , tocando ao vivo junto à performance dos atores.

Posteriormente, fizeram uma peça baseada na obra Flicts de Ziraldo, que fez grande sucesso, e resultou na gravação da trilha sonora da peça em estúdio. “Foi a primeira vez que gravei músicas de minha autoria em um estúdio.”

Com o sucesso da peça, Lô Borges decidiu gravar uma das músicas do irmão Telo em seu segundo disco, Via Láctea. “Certo dia, conta ele, Lô e o Márcio me disseram: Telo, venha aqui que queremos mostrar uma música sua, que trabalhamos. Surpreso, vi que se tratava de Vento de Maio, música tema da peça de teatro, “A viagem ao faz de conta”. A música, posteriormente, foi gravada por Elis Regina, e se tornou um de seus maiores sucessos”.

Telo e Marilton Borges – 2019- Foto Eliza Peixoto

Do piano pra máquina de mecanografia

Devido às reviravoltas da vida, Telo se afastou parcialmente da música para trabalhar no extinto banco Bemge, por quase três anos.  “Lembro-me de criar acordes imaginários no teclado da máquina de mecanografia, fazendo dela um piano. Senti que aquilo não era para mim. Pedi demissão e fui morar com meus irmãos, Marcinho e Lô, no Rio de Janeiro” .

Ele lembra que o ” Lô precisava de um tecladista para acompanhá-lo no Projeto Pixinguinha.  Foram 20 dias de ensaio só com meu irmão. Depois com a banda formada por Juarez Moreira, Lô e Wagner Tiso, rodamos 40 dias com o show  pelo Brasil. “Comecei aí, de fato, minha carreira como instrumentista.”.

Hoje sem a vasta cabeleira, Lô enxuga o suor na cabeça do irmão Telo, Em show no Bar Clube da Esquina em Santa Tereza, Foto Eliza Peixoto

Telo, Beto e Milton

O encontro com Beto Guedes traça novo caminho na carreira do jovem músico.  Ele relembra que “um dos shows mais marcantes da minha vida foi o de estreia com o Beto, no ginásio do Clube Ginástico, aqui em BH. Ele já era famoso no Brasil todo, cantava diversos temas de novela. O ginásio estava lotado e, no final da música ‘O Medo de Amar’, a banda parou e eu continuei. Alguns pensaram que foi um erro, mas foi de propósito, era a hora do meu show. O Beto comprou a ideia, veio com o solo de violão por cima, um improviso maravilhoso que levou a plateia à loucura.”

Essa ousadia, segundo ele, garantiu sua vaga na banda de Beto Guedes. “Depois de 12 anos de casamento, nos divorciamos amigavelmente”, brinca Telo.

Começou outra fase musical, quando foi tocar com Milton Nascimento. A amizade com o Milton é antiga, comenta o músico.  “Quando era menino, eu e meu irmão Nico íamos passar férias no Rio, na casa do Bituca. Ele dizia que o Cristo Redentor quando via a dupla chegando, fechava os braços, punha a mão na cabeça e falava “Meu pai, lá vem os meninos aprontar”!”. E a gente aprontava mesmo.”

Nico, Bituca e Telo. Os dois irmãos deixavam Milton Nascimento desesperado com suas levadezas no Rio de Janeiro (foto arquivo pessoal)

Originalmente a parceria entre os dois seria de um ano, e acabou durando cinco, e rendendo frutos como o Grammy Awards 2003, pela música intitulada “Tristesse” em parceria com Milton Nascimento.

Apesar de não morar mais no Santa Tereza, Telo Borges ainda tem um grande carinho pelo bairro e está sempre por aqui. “Saí daqui com 19 anos, mas nunca deixei de estar Santa Tereza. Aqui é a casa de meu pai, a central de encontros. Amo essa terra.”

Matéria feita em 2013 e atualizada em janeiro de 2020

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