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E agora, José?

Há 42 anos vivendo em Santa Tereza, José Alves da Silva, o Zequinha, como é carinhosamente chamado pelos amigos, veio do Piauí. Nasceu no lugarejo Tabocas, próximo ao município de Floriano. “Morávamos em uma casa coberta de capim e a infância foi de pobreza, não existia espaço para brincar, havia doenças e nenhum atendimento médico”, conta Zequinha. Permaneceu na roça até os 10 anos de idade, quando foi estudar na cidade de Floriano. Ficou hospedado na casa de um amigo de seu pai. Esse amigo possuía várias propriedades.

A adolescência quase não existiu. Enquanto concluía o curso primário, trabalhava em fazendas, viajando e fiscalizando o trabalho dos vaqueiros até completar os 14 anos de idade. Nesse tempo, voltou para o campo. Chegando lá, a família recebeu a visita de um primo chamado “Odaque”, filho do “Zuca”. O visitante observou que Zeca era um menino muito inteligente e que era um desperdício ele ficar na roça. Então, resolveu levar o menino para Anápolis, no Estado de Goiás, para terminar os estudos.

Em Anápolis, Zeca conseguiu um emprego na loja de “Tecidos Buri S. A.” e ingressa no curso ginasial. Trabalhava durante o dia e estudava à noite. “O sonho de todo estudante em Goiás era estudar em Belo Horizonte”, conta Zeca. O pai de um dos hóspedes da pensão onde Zeca morava, tinha uma casa na rua Iguaçu, no bairro Concórdia, em Belo Horizonte. Em 24 de dezembro de 1954, Zeca chega ao aeroporto da Pampulha. Aí começa seu caso de amor com a cidade.

Depois de 10 dias no bairro Concórdia ele foi viver no famoso  Edifício “Balança mas não cai”, na rua Tupis, 749, onde moravam vários estudantes do Piauí. “Eu me sentia em casa”. Matriculou-se no Colégio Anchieta para cursar o Científico. Dentro de um mês, o estudante piauiense se empregou na Mesbla S.A., “uma das firmas mais importantes do país na época”. Começou como vendedor na seção de artigos eletrônicos. Três meses mais tarde, com 20 anos de idade, já era chefe do setor. Coordenava funcionários de 40 e 50 anos de idade, com anos de serviços prestados à empresa.

“Você, todo de terno branco, aqui nessa loja empoeirada! Você merece coisa melhor,” diziam os companheiros de trabalho da Importadora Mesbla. Ele dizia: “Eu dou todo o meu esforço”.  O “Senhor Alves” foi convidado para ser chefe de departamento. Para isso teria que abandonar os estudos, já que teria que fazer viagens. Ele aceitou e teve um bom aumento no salário. Nessa época, lembrou-se da família que deixara no nordeste. “Meu irmão Pedro que estava muito bem financeiramente, mandou buscar meus pais e meus outros sete irmãos para morar em Anápolis.” Seis meses depois de morar em Goiás, a família de Zeca voltou para o Piauí. Pedro alegava dificuldade de adaptação dos familiares, uma vez que ele só “freqüentava a alta sociedade.”

“Eu estava morando no Hotel Majestique, rua Espírito Santo com Caetés, quando resolvi trazer minha família para Minas.” Aluguei um barracão em Santa Tereza em 1960, na rua Pirité, e trouxe meus pais e meus irmãos, todos com menos de 15 anos. Continuei trabalhando na Mesbla e meu pai começou a trabalhar, primeiramente, como feirante. Depois, Zeca alugou um ponto na Rua Amianto com Pouso Alegre, em Santa Tereza, onde montou um bar para o pai, o atual bar do Apolônio. Assim os dois puderam sustentar a família durante um bom tempo. Mais tarde, há cerca de 35 anos, reside na rua Amianto, 154.

Quando o irmão de Zeca “quebrou” em Anápolis, devido à bebida, veio para  Belo Horizonte. Zeca propôs que os dois se estabelecessem no ramo do comércio de cereais na capital Mineira. Então fundaram a Cerealista Irmãos Alves, na rua dos Guaicurus, 424, no ano de 1969, que se tornou uma das mais importantes firmas de atacado de cereais do Estado.

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“Ganhamos um bom dinheiro, fechamos a cerealista e aplicamos todo o capital em ações. O mercado de ações sucumbiu durante o governo Sarney e nós perdemos todo o recurso financeiro que tínhamos. Pedro precisou voltar ao trabalho e eu hoje sou aposentado e não dependo de ninguém,” conta. Zeca foi um dos fundadores do Oásis Clube, o sócio número 7, e eleito cidadão honorário do bairro. E agora José? Agora José, solteiro, ‘pai’ de todos seus irmãos, diz que é uma pessoa feliz e de muita coragem. Não é difícil vê-lo flanando pelo bairro e adjacências com sua habitual cordialidade em meio a tantos conhecidos. E Agora José? Essa pergunta foi feita a ele em todos os momentos de sua vida e ele não se calou.

Texto e imagem: Keila Costa

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