Trovão das Minas vem trovejar em Santê - Santa Tereza Tem
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Trovão das Minas vem trovejar em Santê

 Trovão das Minas, grupo de Maracatu deBelo Horizonte, vem batucar aqui no Santa Tereza!

E como isso não pode passar batido, o Santa Tereza Tem conversou com Daniela Ramos, coordenadora do grupo.

O Maracatu é um som tradicional de Pernambuco e ganhou fama com o Mangue Beat de Chico Science. Desde então, ele se espalhou peloBrasil e pelo mundo com seu som contagiante. O Trovão das Minas começou há 12 anos, batucando e ensinando novos batuqueiros, incorporando a tradição mineira musical e de tambor com o Maracatu pernambucano.

No domingo, o Santa Tereza Tem estará na Praça Duque de Caxias esperando para ser “arrastado” com os outros santaterezenses! 

 STT: Como que o Trovão das Minas começou?

 DR: O Grupo teve início em 2001, à partir de oficinas ministradas pelo músico e percussionista Lenis Rino. Daí surgia destes alunos, a primeira formação do grupo Trovão das Minas. Sou desta primeira formação e me orgulho de poder, (mais de 10 anos após a fundação do grupo), ter vivenciado diversas formações vendo sua evolução nestes 12 anos de trabalho.

 STT: A ideia era trazer um pouco desse som pernambucano para Minas Gerais?

 DR: Isto aconteceu naturalmente, quando o percussionista Lenis Rino, que recém-chegado de São Paulo, começou a ministrar oficinas de Maracatu de Baque Virado na Spasso Escola Popular de Circo.  Nesses anos estamos formando batuqueiros, que através dos ensinamentos adquiridos nas oficinas regulares ingressam no grupo, e tivemos neste período diversas formações, repertórios, e influências musicais, que sempre estão reverenciando a Cultura Popular. Lenis foi o precursor, quem jogou a primeira semente, em solos férteis, e talvez se ele não tivesse, naquele exato momento, trazido esta cultura, podíamos até hoje não ter um grupo que toca esta música em Minas Gerais. Lenis foi o Chico Science daqui!

 STT: Como que o maracatu se encaixa na tradição de tambor de Minas Gerais?

 DR: Fomos, ao trazer esta manifestação trovo das minas vem trovejar no sant2-300x191da Cultura Pernambucana pra cá, muito bem recebidos não só pelo público jovem, como também pelas tradicionais Guardas de Congos e Moçambique. Recebemos convites frequentemente das Guardas, tendo participado em todas as edições do “Festejo do Tambor Mineiro”, e acredito que a música do Maracatu de Baque Virado dialoga muito bem com a linguagem da percussão destas Guardas mineiras. Não temos a pretensão de nos igualarmos às grandes Nações de Maracatu, e acredito que o que vem acontecendo é um intercâmbio musical muito forte entre Minas e Pernambuco, através da forma que buscamos difundir a importância do Maracatu. E nosso grupo é pioneiro deste gênero musical em Minas Gerais.

 STT: Vir para o Santa Tereza foi uma ideia natural, para levar o som do maracatu para todos os cantos da cidade ou tem alguma coisa no bairro que atraiu o Trovão das Minas para cá?

 DR: A música do Maracatu de Baque Virado, em sua natureza, é bastante forte e contagiante, sem a presença de instrumentos harmônicos e caracterizada pela força da percussão, o que faz ser uma manifestação adequada a espaços públicos. Desta forma, democratizamos o acesso ao público, agregando valores e contribuindo com um cenário musical, que vai além das montanhas mineiras. Santa Tereza é um bairro muito querido por todos nós mineiros. Um bairro onde vivem e frequentam muitos artistas, não só da área musical, sendo de fato um grande celeiro cultural. Não posso deixar de falar, por exemplo, que, se em Recife, com Chico Science, nasceu o movimento Mangue Beat, em Belo Horizonte, emcasas de Santa Tereza, tivemos algo semelhante (enquanto movimento cultural), que foi o Clube da Esquina. 

 Queremos neste Domingo, às 11h, presentear o bairro Santa Tereza e o público mineiro! Esperamos que as pessoas acompanhem o cortejo. ao invés de “deixar o baque passar” simplesmente, pois quando as ações de rua são na Zona Sul, isso as vezes acontece – das pessoa verem, mas não seguirem o Arrastão. Mas como sempre somos nós que ganhamos a maior surpresa, vamos ver o que acontece este fim de semana. Optei por fazer na chuva, caso São Pedro queira mandar água no dia, inclusive (risos).

 STT: Para quem ainda não conhece o maracatu, qual é a importância cultural dele para o Brasil?

 DR: A importância do Maracatu é a mesma de todos os outros Folguedos da nossa rica cultura popular. O Maracatu está não só em livros, museus, é um patrimônio imaterial, que está dentro e fora de meios acadêmicos, fazendo parte da cultura do povo pernambucano em seu dia a dia. Rompendo fronteiras, este ritmo ganhou o mundo, com diversos grupos fundados e coordenados inclusive em países do exterior, como o grupo “Tamaracá”, em Paris, o grupo “Mandacaru” em Barcelona, os grupos “Nunca Antes”, “Baque de Bamba” e “Mar Aberto”, em Toronto, no Canadá, grupos estes criados e coordenados no exterior, por batuqueiros que tiveram no nosso “Trovão das Minas” sua primeira escola de Maracatu. Eles  hoje divulgam e difundem esta cultura pelo mundo à fora.  O Maracatu e todas as manifestações da cultura popular, como o próprio nome diz, é um bem do Povo Brasileiro e sua importância é tamanha, que pra falar disso, poderia escrever vários livros (risos)!

 STT: Serão tocadas músicas tradicionais do maracatu ou composições originais?

 DR: No nosso repertório estão as tradicionais Loas (toadas) do nosso Maracatu de coração, a “Nação Estrela Brilhante de Recife”, assim como Loas de domínio público, e composições de minha autoria, na maior parte dos Arrastões. Estou num momento muito bom, pra compor as Loas do “Trovão”, que atualmente é coordenado por mim e por outro diretor, o Celso Soares, que  compõe suas próprias Loas também. Tenho arranjos de músicas de compositores mineiros, como Flávio Henrique, Chico Amaral e Maurício Tizumba. O repertório está contagiando diversos públicos. As pessoas chegam pra comentar e elogiar as composições, querendo saber se temos um CD (que está pronto), porém sem poder ser lançado, por falta de patrocínios!

 STT: O que você gostaria de falar sobre o maracatu e sobre o Trovão das Minas que ninguém ainda lhe perguntou?

 DR: Gostaria por fim de deixar meus sinceros agradecimentos ao Lenis, que nos trouxe algo, que hoje em dia é vital para os integrantes, de várias gerações do “Trovão”. Agradecendo também a “Nação de Maracatu de Baque Virado Estrela Brilhante de Recife”, por ser nossa inesgotável fonte do saber, em todos os aspectos culturais que podem existir, e são tantos! Agradecendo à mídia, a Fundação Municipal de Cultura, que nos beneficia com um projeto, dando o suporte, que nestes 12 anos nos faltou. Agradecendo em especial aos nossos alunos e ao  querido e fiel público, que são o maior motivo de nossa sobrevivência.

 Termino dizendo que é lamentável, dependermos de apoio, pois todos os grupos que trabalham com elementos da cultura popular, sobrevivem de uma resistência, e do amor à arte, matando um leão por dia, pra sobreviver. Mas agora, que pela primeira vez, apresentamos um projeto perante a Secretaria de Cultura de Minas Gerais, tenho que me render a muitos agradecimentos, pois ter o apoio do nosso Estado, em 2012, está sendo pra gente, um divisor de águas, e algo de uma importância indescritível ao grupo “Trovão das Minas”.

 Grata por vocês nos contatarem, e encerro com uma Loa de minha autoria, que se chama “Agradeço” e que foi feita para a “Guarda Treze de Maio” que diz:

“Trovão das Minas vem agradecer,
a força dos Orixás e ao povo mineiro por nos receber
Trovão das Minas vem agradecer,
a força dos Orixás e ao povo mineiro por nos receber

 Tem o Moçambique do Treze de Maio ensinando a ter
consciência de uma Tradição
a Fé do nosso povo que é Nossa Nação,Movendo montanhas,
além de fronteiras, entre o céu e o chão,
relembrando um passado esquecido, do negro sofrido, na escravidão…

Àos donos da casa, agradeço…
e aos Reis do Congado, agradeço…
à meu São Benedito, agradeço…
e ao Nosso Reinado, agradeço…

 Ao Povo Brasileiro, agradeço…
Povo Bantu e Nagô, agradeço…
à Estrela Brilhante, agradeço…
e o negro Coroado, agradeço…
Nosso Maracatu, agradeço…
Nosso Tambor Sagrado, agradeço!”

 

 

 

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