Imóvel da antiga Fábrica de Pregos poderá ser tombado - Santa Tereza Tem
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Imóvel da antiga Fábrica de Pregos poderá ser tombado

Imóvel da antiga Fábrica de Pregos, em Santa Tereza, poderá ser tombado

Definição será dada em sessão deliberativa do Conselho de Patrimônio, nessa quarta-feira (4/10)

Imóvel da década de 1940 poderá ser protegido pelo Patrimônio Cultural de Belo Horizonte

A proteção do imóvel onde está instalada a Fábrica de Pregos São Lucas, à Rua Conselheiro Rocha, nº 1600, em Santa Tereza, será discutida e votada pelo Conselho Deliberativo de Patrimônio Cultural do município, nesta quarta-feira, 4 de outubro. A edificação tem tipologia industrial dos anos de 1930 e 1940, estilo art decó e foi registrada oficialmente em 1947. A reunião que definirá sobre seu tombamento tem sessão aberta à participação do público, às 14h, na Diretoria de Patrimônio Cultural – Rua Professor Estevão Pinto, 601, Serra.

O imóvel fica próximo à Avenida dos Andradas, na divisa entre os bairros Santa Tereza e Santa Efigênia, e não foi incluído no perímetro do Conjunto Urbano de Santa Tereza protegido pelo Patrimônio Cultural de Belo Horizonte desde 2015. Atendendo pedidos recorrentes do movimento Salve Santa Tereza, a Diretoria de Patrimônio realizou estudo sobre a história, as características do imóvel e de seu entorno. O documento será exposto nesta quarta-feira, com indicação de proteção, mas cabe ao Conselho a decisão final sobre o tombamento do imóvel.


Fábrica continua em funcionamento

No local há produção e venda de pregos, há mais de 50 anos

A Fábrica de Pregos São Lucas passou a ocupar a edificação na década de 1960 e há mais de 50 anos produz pregos de diversos tipos, tamanhos e funcionalidades. Um empreendimento que resiste ao tempo e às mudanças do mercado. A Fábrica é a única do ramo ativa em Belo Horizonte e uma das poucas no país atualmente, já que nas últimas décadas as grandes indústrias siderúrgicas dominaram o mercado pela capacidade de produção e entrega em larga escala.

A fábrica produz em média 70 toneladas/mês de pregos

Charles Costa, gerente de produção da fábrica há 30 anos, conta que a São Lucas sobrevive por atender prioritariamente à uma dessas indústrias, por meio de contrato de fornecimento de mão de obra que mantém há duas décadas. Por mês, são produzidas 70 toneladas de pregos, em média, sendo 90% para atender o contrato com a siderurgia. Os outros 10% são destinados à venda direta ao consumidor, aos depósitos de construção, pedreiros, marceneiros, artesãos.

Quanto ao imóvel, Charles conta que foi construído para o fim industrial e atende bem às necessidades da produção. “A fábrica já foi um negócio muito rentável, mas que ao longo dos anos sofreu quedas significativas de demanda e de produção. Hoje, assim como qualquer empresa no país, enfrenta momentos difíceis e tem espaços ociosos nos galpões. Os proprietários pretendem mantê-la operando, principalmente em razão de cumprir o compromisso feito com a siderúrgica. Em 20 anos, esse contrato tem sido renovado e nos dado condições de continuar, mas diante da crise é difícil prever até quando será possível”, reflete o gerente.

Peão, líder comunitário Vila Dias

A Fábrica de Pregos São Lucas hoje emprega 25 pessoas e é responsável por ter atraído centenas de pessoas para Santa Tereza, nas décadas de 1960 a 1980. Muitas famílias àquela época migraram de outras regiões em busca de trabalho e conseguiram moradia nas vilas próximas à fábrica: Vila Dias, São Vicente, a extinta Vila Urubus e a Vila União (hoje chamada Vila Ponta Porã, que fica no bairro Santa Efigênia, do outro lado da Andradas).

“Muitos moradores vieram para cá por causa da fábrica, que no início oferecia alojamento aos funcionários, na beira da linha do trem, onde hoje é a Rua Conselheiro Rocha. A Fábrica de Pregos São Lucas é patrimônio da cidade e tem grande importância na construção da Vila Dias”, conta Peão, líder da Associação Comunitária da Vila Dias, que é neto de Camilo Dias, um dos primeiros ocupantes do local.

Maria de Fátima, moradora Vila Dias

A família de Santos Soares de Oliveira é exemplo disso. Junto à esposa Maria de Fátima Oliveira, depois de terem vindo de São Paulo em busca de oportunidades de trabalho, ele mudou-se da região de Venda Nova para Santa Tereza, quando foi empregado pela fábrica, no início da década de 1980. Construíram casa na Vila Dias, criaram quatro filhos e agora têm cinco netos. Sr. Santos se aposentou e continua na ativa, aos 77 anos, na Fábrica de Pregos São Lucas. “A fábrica é muito importante, faz parte da nossa história. Se ela fechar vai fazer muita falta. Só de terem parado com o soar da sirene já sentimos muito, porque estávamos acostumados a ouvir, às 7:30, 11:30, 12:30 e 17:30. Era muito bonito, gostoso de ouvir… E também na passagem de ano, à meia noite, era meu marido que tocava”, conta orgulhosa, a esposa de Sr. Santos, que preferiu não dar entrevista.


Salve Santa Tereza convoca moradores

Pelas redes sociais e assembléias, o Movimento Salve Santa Tereza defende o tombamento da edificação e convoca a população para participar da reunião: “A Fábrica São Lucas continua em funcionamento e tem grande valor histórico, pois é um dos poucos, se não o único, imóvel industrial conservado em sua arquitetura e funcionalidade, inclusive em seu processo de produção original, em Santa Tereza. Convocamos a todos para pressionar pela aprovação do tombamento e garantir a preservação deste importante patrimônio de nosso bairro”.

A reunião do Conselho Deliberativo de Patrimônio Cultural será nesta quarta-feira, 4 de outubro, a partir das 14h, tendo a questão do imóvel da Fábrica de Pregos São Lucas como um dos itens a serem apreciados e deliberados. As sessões deliberativas são de interesse público e abertas à participação popular.

Serviço

Reunião do Conselho de Patrimônio Cultural discutirá tombamento da edificação da Rua Conselheiro Rocha, nº 1.600, Santa Tereza (Fábrica de Pregos)
Dia: 4 de outubro, quarta-feira
Horário: 14h
Local: Diretoria de Patrimônio Cultural – Rua Professor Estevão Pinto, 601, Serra, Belo Horizonte.

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